Brasil pode ter 200 mil mortos até meados de outubro, alerta especialista

Em seu último discurso, proferido na quarta-feira (5), no auditório do Ministério de Minas e Energia, Bolsonaro recorreu à expressão “mundo civilizado” para referir-se a “coisas que chegarão” à região Norte. “Mais do que 300 mil pessoas atingidas com esta medida hoje assinada via portaria. Outras coisas do mundo civilizado chegarão a estes nossos irmãos da região Norte”, disse Bolsonaro, referindo-se a um programa para levar energia elétrica para a Amazônia Legal. Em outros tempos, a frase seria considerada mais uma das típicas ofensas do anedotário presidencial. Seria irônico se não fosse absolutamente trágico que Bolsonaro fale em civilização no momento em que o caráter semeador de barbárie de seu governo está prestes a deixar um saldo de 100 mil mortos no país. Nesta quinta-feira (6), foram 97.692 óbitos e 2.873.304 casos de Covid-19, segundo consórcio de imprensa.

Mas Bolsonaro, que já foi denunciado no Tribunal Penal Internacional, com sede em Haya, por genocídio e crimes contra a humanidade, reluta em governar e combater efetivamente a pandemia. Sua atitude negacionista e de confronto à ciência foi levada às últimas consequências desde que afirmou, ainda em março, que o coronavírus mataria menos do que a H1N! em 2019, cerca de 800 pessoas.

Do “é uma gripezinha”, ao “e daí?”, passando pela militarização da pasta da Saúde e a produção de hidroxicloroquina suficiente para 18 anos – mesmo sem comprovação de eficácia -, em cinco meses o país chocou o mundo ao mergulhar em uma violenta espiral de contágio e morte. “O plano é sacrificar o povo brasileiro para alcançar uma pseudo-recuperação econômica”, denuncia o coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, Domingos Alves, em entrevista à agência ‘AFP News’, cujos despachos são replicados em milhares de sites de notícias pelo mundo.

Segundo Alves, Bolsonaro é diretamente responsável pela calamidade sanitária no país, especialmente pela falta de rigor na adoção de uma quarenta para frear a disseminação do vírus, além da retomada prematura das atividades em diversos estados. “O Brasil rejeitou sistematicamente as medidas de bloqueio recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que funcionaram na Europa. Não há vontade política e a ciência ficou de lado em nosso país há muito tempo”, argumenta Alves.

Ele prevê que o país irá dobrar o número de óbitos até a primeira quinzena de outubro. Domingos Alves projetou acertadamente a escalada para 100 mil mortos até 9 ou 10 de agosto. Ou seja, foram necessários pouco mais de cinco meses de omissão do governo para o país atingir a trágica marca. O patamar de 200 mil óbitos, infelizmente, chegará na metade do tempo.

“Governadores e prefeitos começaram a seguir a mesma direção, principalmente porque as eleições estão chegando em novembro”, ressalta Alvez. “As cidades começaram a sair do bloqueio em junho, mas isso foi cedo demais, dado o alto número de novas infecções”, lembra. Ele considera que novos casos e mortes irão acelerar as curvas da pandemia nas próximas semanas. “Vejo que essa epidemia vai ficar desse jeito até dezembro, até que tenhamos uma vacina”, observa o especialista.

Imunidade perdida

Novas pesquisas indicam que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, pode ter razão em seu ceticismo em relação ao surgimento de uma vacina eficaz contra o vírus. Pesquisadores da King’s College London descobriram que pessoas que se recuperaram do Covid-19 podem perder a imunidade à doença em meses, reportou o diário britânico ‘ The Guardian’ em julho. A pesquisa sugere que o vírus pode reinfectar pessoas ano após ano, exatamente como os resfriados comuns.

Segundo o ‘Guardian’, os cientistas analisaram a resposta imune de mais de 90 pacientes e profissionais de saúde da fundação NHS de Guy e St Thomas. Os exames de sangue revelaram que, enquanto 60% das pessoas apresentavam uma resposta forte de anticorpos no auge de sua batalha contra o vírus, apenas 17% mantinham a mesma potência três meses depois. Os níveis de anticorpos caíram 23 vezes no período. Em alguns casos, eles se tornaram indetectáveis.

“As pessoas estão produzindo uma resposta razoável de anticorpos ao vírus, mas diminuem em um curto período de tempo e, dependendo de quão alto é o pico, isso determina quanto tempo os anticorpos permanecem por perto”, disse Katie Doores, principal autora do estudo no King’s College London.

Ainda de acordo com a reportagem, o estudo tem implicações no desenvolvimento de uma vacina e na busca da “imunidade do rebanho” nas comunidades ao longo do tempo. “O sistema imunológico tem várias maneiras de combater o coronavírus, mas se os anticorpos forem a principal linha de defesa, os resultados sugerem que as pessoas podem se infectar novamente em ondas sazonais e que as vacinas podem não protegê-las por muito tempo”, aponta o diário.

Da Agência PT de Notícias

 

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