O “pacote de bondades” do governo Bolsonaro nas vésperas do período eleitoral, que poderá ser apreciado ainda nesta quarta-feira (29), no Senado, foi duramente criticado por deputados do PT na Câmara. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) destacou que finalmente veio à luz o relatório do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) sobre a famosa proposta de emenda à Constituição, “que seria a PEC dos Combustíveis, mas agora é a PEC das Eleições, porque é um pacote de bondades feito exatamente no momento em que o governo precisa de votos e está vendo seu prestígio decair e que vai para a derrota!”, afirmou.
O governo, explicou Zarattini, através do seu líder no Senado, apresentou um pacote de bondades (PEC 1/22), com o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600,00, “do qual nós somos a favor, sempre defendemos aqui os R$ 600,00. Propõe aos caminhoneiros um auxílio de R$ 1.000,00, que é absolutamente insuficiente. Ele deveria resolver o problema — isso sim! — do preço dos combustíveis, do óleo diesel. O governo se nega, e isso está escrito na proposta do senador, a mexer no preço de paridade internacional da Petrobras, preço que vem jogando o custo dos combustíveis nas alturas!”, criticou.
O relatório de Bezerra, apresentado hoje aumenta benefícios e cria novos neste ano, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta a reeleição. Além do aumento do valor do Auxílio Brasil, de R$ 400,00 para R$ 600,00, até o fim de 2022, amplia o auxílio-gás bimestral, de R$ 53,00 para R$ 120,00 e cria um auxílio caminhoneiro de R$ 1.000,00.
O relatório traz ainda recursos para gratuidade de idosos no transporte público e subsídios para o etanol. O impacto fiscal de todas as ações será de cerca de R$ 38,75 bilhões, conforme estimativa do senador Bezerra.
Vale-gás
Sobre a ampliação do valor do auxílio-gás, Carlos Zarattini, que é o autor juntamente com a Bancada do PT do projeto que garantiu a criação do vale-gás, considerou que é uma proposta boa, porém insuficiente. “O projeto que esta Casa aprovou foi para que o vale-gás atendesse 24 milhões de famílias, e o presidente Bolsonaro limitou, através de um decreto, para apenas 5,5 milhões de famílias. É um projeto insuficiente, mas de forma alguma nós vamos deixar de apoiar qualquer benefício ao trabalhador, ao povo brasileiro, que sofre com um governo incompetente, um governo que, ao longo de três anos e meio, não fez um único programa positivo para o povo brasileiro”, lembrou.
Para Zarattini, é preciso mudar essa política, “e vamos mudar, tenham certeza, garantindo ao povo brasileiro dignidade, emprego, soluções efetivas por largo período de tempo, e não apenas até o dia 31 de dezembro, como propõe a PEC Eleitoral de Bolsonaro”.
Compra de votos
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) também criticou o pacote eleitoral, mas enfatizou ser favorável ao auxílio de R$ 600,00. “Nós somos favoráveis a que todos os pobres brasileiros tenham maior renda, tanto é que a nossa bancada, a do PT, quando existia o Bolsa Família, apresentamos um projeto de lei para elevar o valor para R$ 1.000,00”, relembrou. Ele também frisou que o vale-gás, que terá o valor ampliado pela PEC, é uma iniciativa da Bancada do PT. “O problema insanável da proposta, porém é que ela vem literalmente no período eleitoral”, protestou.
Arlindo Chinaglia destacou ainda que o então deputado Bolsonaro dizia que o Bolsa Família era para comprar votos. “Nós podemos dizer, com toda a segurança, a partir da sua análise obtusa sobre o Bolsa Família, que está PEC é um fundo eleitoral onde o Bolsonaro vai tentar comprar consciências e votos. Então, se há algo que é para comprar votos, é exatamente a proposta do Bolsonaro”, denunciou.
Para piorar a situação, continua o deputado, o Auxílio Brasil, que substitui o Bolsa Família, não garante a continuidade do benefício neste momento em que o Brasil tem 33 milhões de pessoas passando fome — 120 milhões de pessoas estão em insegurança alimentar. “Qual é a segurança que um projeto desse, que dura apenas poucos meses, traz para as famílias?”, indagou Chinaglia, ao afirmar que quer o povo recebendo mais, “mas não queremos que esse governo tente enganar o povo”.
Estelionato eleitoral
O deputado Bohn Gass (PT-RS), ao criticar a PEC Eleitoral, destacou a destruição que Bolsonaro fez no País nesses 3 anos e meio. “E ele veio para destruir, destruir a Amazônia, a economia do País. Milhões estão desempregados. Os salários estão congelados. As reformas fazem o povo não se aposentar ou se aposentar mal. A pobreza cresce. As pessoas voltam à fila do osso, porque não têm o que comer. Há filas no INSS de pessoas tentando reivindicar sua aposentadoria ou fazer perícias quando estão com auxílio acidente de trabalho”, enfatizou.
Na avaliação do deputado do PT gaúcho, o governo Bolsonaro chega ao final totalmente perdido, comprometendo o Brasil das atuais e futuras gerações. “E, nesse momento, de forma eleitoreira, o governo Bolsonaro tenta apresentar propostas para o povo, algo que não fez em nenhum momento, porque só beneficiou os ricos porque o fosso entre o pobre e o rico só aumentou nesse governo, para tentar eleitoralmente, agora, com medidas que podem ser consideradas inclusive de estelionato eleitoral, comprometendo a economia e o processo democrático no País”, argumentou Bohn Gass.
Segundo o deputado, o povo não quer isso. O povo quer um projeto para não ter o benefício só para os últimos dias, ele quer para os 4 anos. “Quer emprego nos 4 anos; quer salário mínimo corrigido acima da inflação; quer economia com conteúdo nacional; quer o retorno das empresas brasileiras trabalhando pela soberania do País é isso que o povo quer”, finalizou.
Os deputados Henrique Fontana (PT-RS), Joseildo Ramos (PT-BA), Valmir Assunção (PT-BA) e Zé Neto (PT-BA) também criticaram a proposta tardia e eleitoral de Bolsonaro.
Vânia Rodrigues