Os incêndios criminosos na floresta Amazônica e os ataques do governo de Jair Bolsonaro (PSL/RJ) às unidades de conservação, assentamentos extrativistas, quilombolas e terras indígenas na Amazônia foram debatidos na segunda-feira (26), na sede da CUT Nacional, pela direção executiva da Central e o deputado federal Airton Faleiro (PT-PA). No encontro, as lideranças debateram estratégias e formas de reação dos movimentos sindicais e sociais para impedir os ataques do governo.
Faleiro denunciou que o governo Bolsonaro estuda anular 372 unidades de conservação, centenas de assentamentos extrativistas e de reforma agrária já regularizados, inclusive com escolas funcionando e invadir terras indígenas para exploração mineral de forma desenfreada.
“Quando a gente fala da Amazônia não é só dos animais e das árvores. O meio ambiente inclui os povos da região cada vez mais ameaçados por este governo que tem uma política de depredação, de ataque aos direitos dos povos e que ainda quer flexibilizar as leis ambientais e desconstruir a capacidade de fiscalização dos órgãos de controle e monitoramento”, alertou o deputado.
Ação e reação
De acordo com Faleiro, apesar das manifestações em favor da Amazônia terem grande repercussão no Brasil e no mundo, o desafio é incluir os povos da Amazônia neste debate e, para isso, os movimentos sindicais e populares organizam uma reação aos ataques aos seus territórios.
Segundo o deputado, uma das maneiras é impedir a derrubada da floresta, da mesma forma que fazia o ambientalista Chico Mendes (assassinado em 1988), com os chamados “empates” – que são correntes de pessoas com as mãos dadas em torno da área a ser devastada e assim impedir o desmatamento, ou ainda cercar os trabalhadores encarregados do desmatamento e levar seu líder a assinar um documento garantindo que o trabalho será suspenso.
Já a ação a curto prazo será desencadeada na próxima quarta-feira (28), às 10h, na Câmara Federal. A pedido da presidenta do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), vão se reunir a CUT e os líderes da bancada de oposição ao governo Bolsonaro, para articularem juntos com as demais organizações sociais e sindicais, principalmente as que têm base na região, uma ação coordenada em nível nacional em defesa dos povos da Amazônia
“É muito importante que o Brasil e as comunidades internacionais se mobilizem, mas é determinante que os povos da Amazônia se mobilizem. São eles os primeiros que têm que reagir”, diz Airton Faleiro, que também é agricultor e um dos fundadores do PT de Santarém (PA).
Sobre a reação dos povos da Amazônia, a vice-presidenta da CUT, Carmem Foro, diz que é necessário que o mundo e os próprios brasileiros entendam que a Amazônia não é formada apenas por índios e floresta. Há negros, quilombolas e toda uma gama de trabalhadores e trabalhadoras que precisam ser incluídos no processo de discussão sobre seu futuro e, segundo ela, isto não vem sendo feito.
“Essa é uma grande oportunidade de discutir a Amazônia dentro da CUT porque lá têm trabalhadores como em São Paulo e em qualquer região do País. Este é um momento de mostrar como é possível um desenvolvimento sustentável e de inclusão”, afirma.
Já para o secretário do meio ambiente da CUT, Daniel Gaio, é preciso denunciar criminalmente o governo sobre os ataques que estão sendo cometidos em nome de Bolsonaro.
“Vamos nos mobilizar e entrar com ações de crime de responsabilidade contra o ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, e todos os autores e parceiros de Bolsonaro, responsáveis por esses incêndios e queimadas”, defende o dirigente.
Dia do Fogo
No último dia 10 de agosto grupos de ruralistas da região de Altamira, no Pará, se organizaram pelo WhatsApp para lançarem o “Dia do Fogo”, data em que eles ateariam fogo na floresta, num sinal claro de que eles têm o apoio do governo Bolsonaro.
Conforme o deputado Airton Faleiro, a ideia extrapolou o estado do Pará e foi encampada por diversos ruralistas de outros estados que desencadearam queimadas, incêndios e derrubada de árvores em toda a região Amazônica.
“Esses anúncios do governo contra o meio ambiente encorajou os setores mais radicais que matam e tomam terras indígenas, quilombolas e assentamentos da reforma agrária. Foi uma forma deles dizerem que têm respaldo do governo”, alerta o deputado.
Faleiro critica a “jogada de marketing” do governo em acusar ONGs e fiscais do Instituto de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), pelo fogo.
“O governo quer retirar o foco dos verdadeiros articuladores do ‘dia do fogo’ para tentar confundir a opinião pública, porque Bolsonaro sabe que nem as reformas Trabalhista e da Previdência, nem os cortes na educação tiveram tanto efeito negativo e tão profundo no Brasil e no mundo, quanto às queimadas e os ataques aos povos da Amazônia”, afirma.
Bolsonaro põe acordos internacionais em risco
Para o deputado outro discurso que “só pega” junto ao eleitorado mais radical de Bolsonaro é de que países estrangeiros querem tirar a soberania do Brasil sobre a Amazônia.
“Duas coisas que estão globalizadas é a economia e o meio ambiente. Os brasileiros têm que entender que somos o principal gestor da Amazônia, mas a região tem importância para o clima do mundo. É hipocrisia acreditar que podemos fazer o que quisermos com a Amazônia e não vai ter reação”, avalia.
Faleiro critica, ainda, o último pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV, feito na sexta-feira (23) por Bolsonaro em que defendeu o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
“Ele leu um discurso que não é dele. Ele não age assim, não pensa assim. O pronunciamento foi para tentar amenizar a besteira que está fazendo e que vai levar a sanções e perdas de contratos internacionais. Bolsonaro está ameaçando o acordo econômico entre o Mercosul e a União Europeia. É uma política agressiva e burra”.
“Bolsonaro está jogando pra galera dele numa tentativa de construir uma narrativa que não pega mais, de que a Amazônia é só nossa e quem está de fora não tem de se meter”, finaliza Faleiro.
Por CUT
Roberto Parizotti/CUT