Parlamentares da Bancada do PT na Câmara acusam o presidente Jair Bolsonaro de ser o principal culpado pela maior tragédia humana já ocorrida no País, fruto da pandemia da Covid-19. Completados dois anos da decretação oficial da pandemia por causa da disseminação do vírus Sars-CoV-2, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 11 de março de 2020, os petistas ressaltam que milhares de vidas poderiam ter sido poupadas se o presidente Bolsonaro e seu governo tivessem adotado medidas básicas de enfrentamento àcovid, ao invés de terem apostado no negacionismo.
Em entrevista à Revista Fórum nesta semana, o ex-ministro da Saúde no governo Dilma Rousseff (2010-16) e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse que, nesse período de dois anos, o Brasil viveu a pior tragédia de sua história.
“O Brasil viveu a sua maior tragédia humana, corredor de morte, famílias destroçadas, sequelas que durarão anos, desmonte de família com dezenas de milhares de órfãos da pandemia, equipes de saúde inteiras dizimadas, equipes de UTI que morreram ou que estão sequeladas e não podem voltar a atuar naquele serviço, muito conhecimento perdido, profissionais experientes que morreram na área da saúde, na área da manutenção da cidade. É a maior tragédia humana que o Brasil já viveu”, frisa o ex-ministro da Saúde.
Negacionismo bolsonarista
Apesar da constatação da ciência e da OMS sobre a gravidade do vírus, o presidente Bolsonaro sempre desdenhou da situação. Em cadeia nacional de rádio e TV chegou a dizer que se fosse infectado pelo vírus teria, “no máximo uma “gripezinha” ou um “resfriadinho”, por causa de seu suposto “histórico de atleta”. Na ocasião, as falas negacionistas de Bolsonaro foram a senha para que grupos de bolsonaristas – principalmente nas redes sociais – passassem a desacreditar a existência da pandemia, atribuindo o fato a uma “histeria da imprensa”.
Com o recrudescimento dos casos de Covid-19 no País, o discurso bolsonarista mudou. Como era impossível esconder o avanço da doença, o próprio presidente Bolsonaro e parte de seus apoiadores passaram a divulgar falsos métodos de combate à proliferação do vírus, como a chamada “imunidade de rebanho” e o “tratamento precoce”, com hipotéticos medicamentos de prevenção à covid como a cloroquina (remédio para malária) e a ivermectina (de combate a vermes).
O deputado e médico Jorge Solla (PT-BA) lembrou que, enquanto proliferava esse tipo de discurso negacionista, o governo deixou de adotar medidas que poderiam ter amenizado a pandemia que provocou mais de 655 mil mortes no País até agora.
“Esse governo fez tudo errado, e ainda impediu que fosse feito o necessário para se evitar tanto sofrimento e mortes. Por exemplo, nós nunca tivemos um programa de testagens, para termos acesso a um diagnóstico da pandemia e tentarmos bloquear a contaminação. Não tivemos a disponibilidade de equipamentos de proteção individual de qualidade para profissionais de saúde, muito menos para a população, e sequer tivemos uma campanha oficial massiva nos meios de comunicação para alertar a população sobre como se proteger”, acusa o petista.
Genocídio à moda brasileira
Enquanto a primeira onda de contaminações avançava pelo Brasil, e o discurso negacionista de Bolsonaro e seus aliados continuava, a maioria da sociedade brasileira – com apoio da sociedade civil, do PT e demais partidos de Oposição – iniciava uma forte cobrança sobre o governo Bolsonaro para a aquisição de vacinas.
Em 11 de outubro de 2020, protesto em frente ao Congresso Nacional, pelas mortes que chegavam a 150 mil no País. Foto: Gabriel Paiva/Arquivo
Ignorando a necessidade de imunizar a população, Bolsonaro e seus apoiadores passaram a criticar os estudos então feitos pelo Instituto Butantã, de São Paulo, para iniciar a aplicação da vacina Coronavac no Brasil. Como os insumos da vacina tinham origem chinesa, várias fake news foram disseminadas por grupos bolsonaristas sobre supostos efeitos adversos que o imunizante poderia causar à população, obviamente sem apontar alguma evidência científica.
Após muita pressão da sociedade, a vacina coronavac começou a ser aplicada no País e, com atraso de alguns meses, o Ministério da Saúde deu início à aquisição de vacinas de outros fabricantes estrangeiros para tentar acelerar a imunização. Denúncias feitas pela imprensa apontaram que o governo Bolsonaro atrasou deliberadamente a compra de vacinas da Pfizer, inclusive ignorando ofertas de vacinas oferecidas ao Brasil por esse fabricante.
Segunda onda
No início de 2021, uma segunda onda da covid atingiu todo o País. O Amazonas, e principalmente a capital Manaus, foram duramente atingidos, e chegou a faltar oxigênio para intubar pacientes graves infectados pela covid. O Ministério da Saúde, comandado na época pelo general Eduardo Pazuello (que se autodenominou “especialista em logística”’), ignorou alertas feitos pelas autoridades de saúde do estado de que o estoque de oxigênio para UTIs teria que ser reforçado. Dezenas de pessoas perderam a vida exclusivamente por causa dessa irresponsabilidade.
Uma investigação realizada pela CPI da Covid no Congresso Nacional, após averiguar os casos de desinformação praticados pelo presidente Bolsonaro, o atraso na compra de vacinas e a falta de políticas públicas do governo federal para tentar barrar a proliferação do vírus, considerou que o presidente Bolsonaro praticou um crime contra a humanidade ao deixar a população brasileira à mercê do vírus. O relatório da CPI foi entregue ao Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede na cidade de Haia (Holanda), onde está sendo analisado. Também a Procuradoria-Geral da República foi acionada, mas até o momento nada encaminhou acerca das denúncias apresentadas pela CPI.
Ações do PT em defesa do povo brasileiro
Ao lembrar a luta do PT no enfrentamento ao negacionismo de Bolsonaro e a pressão para a compra de vacinas, o então líder do PT em 2020 (ano do início da pandemia), deputado Enio Verri (PR), também ressaltou as ações adotadas pelo partido para proteger a população diante do acirramento da crise econômica gerada pela pandemia e pela ausência de políticas públicas do governo Bolsonaro.
O parlamentar lembrou que o PT, junto com os demais partidos de Oposição, foram os pioneiros da ideia de criação de um auxílio emergencial para os mais pobres no valor de R$ 600, valor aprovado pelo Congresso Nacional e acatado pelo governo federal, após muita pressão da sociedade. A ideia inicial do governo era pagar um auxílio de apenas R$ 200.
“Concomitante à luta pelas vacinas, ocorreu a luta pela sobrevivência da população mais pobre e que ficou desamparada naquele período. Tivemos a conquista do auxílio emergencial, lembrando que aprovamos no Congresso o valor de R$ 600. Bolsonaro depois deixou essa parcela da população sem valor algum por quatro meses, depois baixou para uma média de R$ 300, até acabar recentemente com o auxílio emergencial e o Bolsa Família. Além do auxílio (de R$ 600) aprovamos também propostas em defesa das mulheres”, lembrou o parlamentar.
Verri destacou ainda que o PT, na época, também defendeu um auxílio aos pequenos e microempresários através do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Já o líder da Bancada do partido em 2021, deputado Bohn Gass (PT-RS), ressaltou que nesses dois anos de pandemia “o PT ficou com o povo e a ciência ao defender as medidas de proteção sanitária e a compra de vacinas”. Além de citar a luta do partido pelo auxílio emergencial, o deputado lembrou ainda a proposta do PT em apoio aos agricultores familiares.
“O PT construiu a Lei Assis Carvalho, de socorro às famílias da agricultura familiar. Foi parceiro de todas as iniciativas que destinam verbas para o combate à doença. Então, se o Brasil segue como um dos piores exemplos mundiais no enfrentamento da Covid-19, nós lamentamos profundamente e nos solidarizamos com todas as famílias que perderam seus entes queridos. Mas temos a certeza de que, tudo o que estava ao nosso alcance, foi feito”, afirmou.
Héber Carvalho
