A estratégia utilizada por demagogos é a forma mesquinha e aproveitadora para iludir o povo e “passar a boiada” para implementar políticas que beneficiam uma elite endinheirada
A deplorável performance golpista do presidente neofascista Jair Bolsonaro no 7 de Setembro desfez qualquer dúvida de que é um falso patriota que tenta se apropriar dos símbolos nacionais. Ele e seu bando de fanáticos acham que patriotismo é vestir-se de verde e amarelo e se enrolar em uma bandeira para cantar o Hino Nacional, como se fossem donos do país. A Pátria tem dono sim, mas é do povo e não de Bolsonaro, um presidente que age como chefe de milícia. O falso patriotismo é utilizado por demagogos de forma mesquinha e aproveitadora para iludir o povo e “passar a boiada” para implementar políticas que beneficiem uma elite endinheirada que usa o Estado a fim de aumentar suas próprias riquezas. Bolsonaro usa o verde e amarelo para desviar a atenção de sua incompetência, da aversão ao trabalho e dos inúmeros crimes que pratica com sua família ou com suas ações de governo.
Nada mais emblemático que a ocorrência de crimes ambientais desde que assumiu o cargo de presidente. Tudo em nome do lucro de um pequeno grupo de grandes fazendeiros, grileiros, madeireiro e garimpeiros que destroem um patrimônio inestimável que pertence a todo o povo brasileiro. Usa o patriotismo para engabelar incautos sobre a suposta sanha estrangeira na Amazônia, enquanto as florestas e rios são destruídos por uma horda de criminosos – que, não por acaso, são todos seus apoiadores.
A política econômica atual é antinacional, contraria os interesses da Pátria, ao atacar os direitos coletivos trabalhistas e sociais e abrir aos estrangeiros a possibilidade de controle quase que total do país, com privatizações absurdas, como se o Brasil fosse uma neocolônia. O patriotismo de Bolsonaro é de bater continência para a bandeira dos EUA. Seus seguidores ainda saem com faixas em inglês com dizeres golpistas, alguns enrolados em bandeiras do tio Sam.
Bolsonaro age como fora da lei, num banditismo camuflado em discursos mentirosos em defesa da família, uma hipocrisia abissal. Fala em nome de Deus e pratica o oposto dos ensinamentos cristãos. Fala como se fosse o salvador da Pátria, mas seu discurso golpista e desestabilizador fez empresas brasileiras perderem bilhões de reais em valor de mercado na Bolsa de Valores no dia seguinte ao 7 de Setembro.
É um patriotismo de ocasião, macabro. Que Pátria é essa do miliciano que implementa políticas que trazem de volta a fome e a miséria? Um governo que deixou morrer 600 mil pessoas só porque negociava vacina com quem pagava propina? Como disse o presidente do STF, Luiz Fux, Bolsonaro age como um golpista e de forma criminosa atenta contra a democracia, ao ofender ministros da Suprema Corte e incitar a população a propagar discurso de ódio contra a instituição. O falso patriota quer espalhar a anarquia ao ameaçar não cumprir decisões judiciais. “Estejamos atentos a esses falsos profetas do patriotismo, que ignoram que democracias verdadeiras não admitem que se coloque o povo contra o povo, ou o povo contra suas instituições. (…) O verdadeiro patriota não fecha os olhos para os problemas reais e urgentes do país”, alertou o presidente da Suprema Corte.
Bolsonaro, de fato, foge da realidade e não age para enfrentar a pandemia, o desemprego, a fome, a miséria, a inflação, o aumento de preço desenfreado do gás de cozinha, gasolina, diesel e alimentos. A falta de energia está no horizonte, mas o ex-capitão fala de voto impresso e outras asneiras. Enquanto Lula lançou otimismo e esperança aos brasileiros em pronunciamento à Nação no dia 6/09, Bolsonaro não tocou nos problemas reais e insistiu em inocular ódio e desesperança. Diante desse descalabro, o Congresso precisa levantar a voz, antes que seja tarde. Mostrar firmeza para impedir o avanço da escalada autoritária e fazer progredir o processo de impeachment. Chega! A Pátria de verdade está em risco. Fora, Bolsonaro!
Bohn Gass, é deputado federal (RS) e líder do PT na Câmara dos Deputados
*artigo publicado originalmente na revista Focus da Fundação Perseu Abramo