Ao avaliar a pesquisa da Oxfam Brasil que revelou nesta segunda-feira (27) as grandes empresas que lucraram com a pandemia, parlamentares da Bancada do Partido dos Trabalhadores na Câmara afirmaram que só uma Reforma Tributária justa pode equacionar essa distorção apontada pela pesquisa. Segundo o estudo, 42 empresários brasileiros aumentaram em US$ 34 bilhões seu patrimônio. Esse montante equivale a R$ 176 bilhões. O levantamento foi feito entre 18 de março e 12 de julho.
O estudo mostra ainda que o patrimônio líquido desses bilionários saltou de US$ 123,1 bilhões no mês de março para US$ 157, 1 bilhões, em julho. De acordo com os parlamentares, a desigualdade social cunhada no levantamento da Oxfam exige urgência na taxação das grandes fortunas.
Os dados compõem o relatório ‘Quem Paga a Conta? – Taxar a Riqueza para Enfrentar a Crise da Covid na América Latina e Caribe’. Ao todo, são 73 bilionários da América Latina e do Caribe que aumentaram suas fortunas em US$ 48,2 bilhões, entre o mês de março e julho deste ano (período de proliferação do coronavirus).
Face cruel do capitalismo
Para o líder da Bancada do PT na Câmara, deputado Enio Verri (PR), os dados revelam a face cruel do capitalismo. Segundo ele, o capitalismo tem uma “mágica especial”, ou seja, quanto maior a crise, maior concentra a sua renda.
“Por isso, é que a gente vê as notícias de hoje e percebe que à medida que aumenta essa crise, que é uma crise sanitária, de proteção social e, consequentemente, uma gigantesca crise econômica, aumenta o número de milionários, a concentração de renda e, ao aumentar os milionários, você aumenta o número de miseráveis”, explicou Verri, a lógica do capitalismo.
O deputado usou os bancos privados como exemplo. Para ele, essas instituições deveriam dar suas parcelas de contribuição nessa crise, “visto que sempre ganharam muito, aumentaram a taxa de juros, aumentaram as suas taxas, aumentando consequentemente os seus lucros”.
Para Enio Verri, essa é a história de um país onde ricos ficam cada vez mais ricos às custas de pobres, que ficam cada vez mais pobres. “Ou como dizia, Dom Helder Câmara, na oração Mariana: é injusto que tantos vomitem para comer mais e muitas pessoas morram de fome”, citou consternado o líder petista.
Taxar fortunas
No relatório, a Oxfam faz algumas propostas fiscais, emergenciais ou de temas pendentes ainda não resolvidos, “para que possamos distribuir melhor a conta da crise econômica”.
Entre elas, um imposto extraordinário sobre grandes fortunas, resgates públicos a grandes empresas com condições, redução de impostos para pessoas em situação de pobreza, imposto sobre resultados extraordinários de grandes corporações, imposto digital, deter a enorme perda de arrecadação por conta da evasão fiscal e elevar ou criar taxas sobre rendimentos de capital.
Pandemia escancara a desigualdade
Em sua conta no Twitter, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) escreveu que a pesquisa demonstra que enquanto uns lucram, outros sofrem para sobreviver em meio à crise econômica e sanitária que assola o País. “A pandemia não afeta todo mundo de forma igual. Ela escancara a desigualdade. É urgente taxar grandes fortunas e altas rendas para enfrentar os efeitos da crise para a maioria da população e combater as desigualdades”, defendeu o parlamentar gaúcho.
Ele disse ainda que enquanto o povo se arrisca a ser contaminado para não perder emprego e para colocar comida na mesa, os bilionários aumentam sua fortuna à custa dos mais pobres. “Já passou da hora dos impostos no Brasil serem mais justos”, defendeu Fontana.
Na opinião do líder na Minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), a crise tem alvo. “Enquanto a miséria aumenta e o fantasma da fome volta a assombrar, o patrimônio dos super-ricos brasileiros cresce US$ 34 bilhões durante a pandemia. Não é possível fazer reforma tributária justa sem taxar grandes fortunas”, asseverou.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) também pelas redes sociais questionou sobre quem recai a crise sanitária. “Crise para quem? Enquanto a população brasileira luta para sobreviver à pandemia, os bilionários brasileiros ficaram cerca de R$ 176 bilhões mais ricos, segundo estudo da Oxfam. É escandaloso! Mais do que nunca é preciso uma Reforma Tributária que promova justiça social”, argumentou.
Já o deputado Alencar Santana Braga (PT-SP) afirmou em sua conta no Twitter que o problema do Brasil não é dinheiro. “É a concentração na mão de poucos que gera a desigualdade. Podemos fazer muito mais contra a Covid-19 e contra a miséria, basta os bilionários pagarem impostos adequados a suas riquezas”, sugeriu.
Desigualdade e pobreza
Segundo a diretora executiva da Oxfam Brasil, Katia Maia, a Covid-19 não é igual para todos. “Enquanto a maioria da população se arrisca a ser contaminada para não perder emprego ou para comprar o alimento da sua família no dia seguinte, os bilionários não têm com o que se preocupar”, diz Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.
Para ela, os bilionários “estão em outro mundo, o dos privilégios e das fortunas que seguem crescendo em meio à, talvez, maior crise econômica, social e de saúde do planeta no último século”.
Segundo o relatório da Oxfam, citando a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1º de junho, a região passou a ser o novo epicentro da crise sanitária da Covid-19, superando o índice de infecção dos Estados Unidos e da Europa, “com um devastador efeito social”.
“Os elevados níveis de desigualdade e pobreza, preexistentes à crise, somados à alta informalidade e a administrações públicas com recursos insuficientes, são um efeito multiplicador que explica a vulnerabilidade da região e limita sua capacidade de conter a pandemia”, registra a Oxfam.
Empresas: privilégios e dificuldades
A desproporção entre quem perde e quem ganha também é sintomática na região da América Latina e Caribe, diz o relatório. Enquanto micro, pequenas e médias empresas fecham as portas, os ganhos de grandes corporações cresceram entre 30% e 50% desde o início do ano, segundo a entidade.
“Um recorde, compartilhado por um punhado de grandes empresas que estão vendo como seus resultados dispararam como consequência da pandemia, resultados tão extraordinários, como inesperados, atribuíveis ao efeito dos isolamentos”, destaca.
Enquanto isso, o cenário no Brasil, para micro e pequenas empresas, que representam 52% dos empregos formais no setor privado, o impacto da Covid-19 atingiu “em cheio esse setor”: 600 mil empresas já fecharam, mergulhadas em enormes dificuldades para ter acesso aos recursos anunciados pelo governo federal sob a forma de empréstimos.
Benildes Rodrigues com informações da Rede Brasil Atual