No dia 17 de setembro, o IBGE divulgou os resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, edição 2017/2018.
A POF é uma pesquisa do IBGE que avalia as estruturas de consumo, dos gastos e dos rendimentos das famílias. Com isso, permite que se trace o perfil das condições de vida da população brasileira a partir da análise de seus orçamentos domésticos. Nesta edição, pela primeira vez a POF informa as prevalências de segurança alimentar, segundo a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar – EBIA. As investigações anteriores do tema foram feitas nas edições de 2004, 2009 e 2013 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD, com o uso da mesma metodologia, o que permite a comparação dos indicadores.
Essa mais recente POF confirma os enormes retrocessos em indicadores sociais fundamentais, observados em tão pouco tempo no Brasil após o golpe que depôs a presidente Dilma.
Creio que a próxima POF seguramente exporá queda ainda mais acentuada na qualidade de vida da população do país em função da tragédia brasileira inaugurada com o governo Bolsonaro, intensificada com a pandemia.
Em 2017-2018, dos 68,9 milhões de domicílios no país, 36,7%, o equivalente a 25,3 milhões, estavam com algum grau de Insegurança Alimentar. Essa proporção equivaleu a 84,9 milhões de habitantes em situação de insegurança alimentar.
Em 2013, a proporção de domicílios com algum grau de insegurança alimentar foi de 22.6%, ou seja, em 2017/18 ocorreu um aumento de 14.1 pontos percentuais, ou de 62% no número de domicílios brasileiros com algum nível de insegurança alimentar.
A chamada insegurança alimentar grave, aquela em que houve ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores, incluindo, quando presentes, as crianças, aumentou 43.7% em 2017/18, relativamente a 2013. Em 2017-18, a insegurança alimentar grave atingiu 3,1 milhões de domicílios, onde viviam 10,3 milhões de pessoas: um aumento de 33% em comparação com 2013.
Os reflexos do pós-golpe são ainda mais devastadores nas áreas rurais. De acordo com o IBGE, de 2013 para 2017/18, a proporção de domicílios em situação de insegurança alimentar ampliou de 35.3% para 46.4%, enquanto os domicílios em segurança alimentar decresceram de 64.7% para 53.6%. Simplesmente um escândalo!
O IBGE demonstrou que nas regiões Norte e Nordeste, menos da metade dos domicílios dessas regiões tinham acesso pleno e regular aos alimentos em 2017/2018. Os percentuais eram melhores no Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%).
Para os domicílios com segurança alimentar, ou seja, para aqueles com maiores níveis de renda, as despesas com alimentação correspondem, em média, a 13% das despesas totais dos domicílios. Para estes mesmos domicílios, os gastos com habitação equivalem a 29% das despesas totais.
De outra parte, os domicílios em situações de insegurança alimentar apresentavam gastos com alimentação, em relação às despesas totais, de 17.3% para aqueles com insegurança leve; de 19.9% para os domicílios com insegurança alimentar moderada; e de 20,7% para os de insegurança grave.
As desigualdades brasileiras se refletem nas despesas com alimentação que distinguem áreas urbanas e rurais. Na média, os gastos com alimentação nas áreas urbanas representam 13.7% das despesas totais dos domicílios, enquanto nas áreas rurais, 20.2%. Nos domicílios em condições mais graves de insegurança alimentar, os gastos médios nas áreas urbanas correspondem a 19.4% dos dispêndios totais; nos domicílios rurais, essa proporção é de 27.7%.
Para que se tenha a dimensão dos custos da comida no Brasil, nos EUA, os alimentos representam, em média, 10% dos orçamentos das famílias.
No Pará, a maior parte dos domicílios se encontra em situação de insegurança alimentar. De acordo com a POF, dos. 2.4 milhões de domicílios no estado, 61.2% achavam-se nessa condição. Lamentavelmente a escala da insegurança alimentar que incide sobre a população paraense é a terceira pior do Brasil, atrás apenas de Maranhão (66.2%) e Amazonas (65.5%). São 1.437 domicílios em insegurança alimentar, dos quais, 44.3% em intensidades variando de moderada a grave.
Enfim, o ‘golpe’ reabriu as portas do Brasil para o passado. Mas, ao lançar no dia 21 de setembro, o ‘Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil’, o PT, assim como em 2002, conclama a população do país a se engajar em torno desse projeto e rejeitar de vez por todas a exclusão, as desigualdades, e garantir um futuro de oportunidades para os jovens e de vida digna para o conjunto do nosso povo.
Beto Faro é deputado federal (PT-PA)
Foto: Gustavo Bezerra/Arquivo