A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) usou a tribuna da Câmara, nesta terça-feira (29), para denunciar a onda de intolerância e racismo praticada por bolsonaristas fanáticos inconformados com a derrota de Bolsonaro no último dia 30 de outubro, e que tem vitimizado e assustado parcela da população brasileira desde que ocorreu a derrota eleitoral. A deputada relatou que ela sofreu na pele a violência praticada pelos correligionários do atual presidente da República.
“Na última quinta-feira (24), eu fui hostilizada no aeroporto. Nesses 80 anos da minha vida, eu nunca vi ninguém ousar tanto com uma frase que eu nem quero repetir aqui”, se mostrou indignada a deputada.
Em seu desabafo, Benedita contou que estava no guichê para fazer a troca da passagem quando foi abordada por um homem que estava acompanhado de mulher e filhos, e teve a covardia de a maltratar verbalmente, com claro propósito de a humilhar.
“Mas eu fiquei de cabeça erguida, porque eu não sou uma pessoa odiosa. Quem são os fanáticos são eles! São eles que pertencem a essa seita de ódio, que está pelo Brasil afora. Não se respeita mais ninguém neste Brasil, e isso não pode continuar! Isso é crime”, denunciou Benedita.
Conivência presidencial
A parlamentar reclamou da conivência por parte do atual presidente em relação a esses fatos graves que tem envergonhado o País. “Esse presidente que aí está tem de tomar, sim, providências, em vez de permanecer calado, porque quem cala consente! Ele deve estar ajudando a organizar essas manifestações odiosas e desrespeitosas”, alertou.
Solidariedade
Benedita da Silva manifestou solidariedade àqueles que assim como ela, têm sofrido ataques racistas e intimidação dos alguns fascistas que saíram derrotados do último pleito presidencial. Entre eles, o músico Gilberto Gil e sua esposa Flora Gil, agredidos por bolsominions presentes na Copa do Mundo do Catar, durante o jogo entre o Brasil e Sérvia.
A parlamentar se solidarizou também o músico Odivaldo Carlos da Silva, conhecido como Neno, de 55 anos, que lá em Curitiba, sofreu insultos racistas e foi agredido com um cassetete. Segundo a deputada, o músico teve corte no rosto que renderam cinco pontos, teve o maxilar trincado e perdeu um dente.
Além de os dois casos relatados, Benedita chamou a atenção para outro momento de agressão que, desta vez, ocorreu no município de Sinop, no Estado do Mato Grosso, quando um grupo de manifestantes golpistas ocupou a Câmara de Vereadores do município e agrediu verbalmente a vereadora petista, Graciele Marques dos Santos, durante a sessão.
A deputada também relatou que no último sábado, em Brasília, o militante Fabiano Trompetista, do Partido dos Trabalhadores, estava com sua esposa e uma amiga no carro quando um bolsonarista da extrema direita os ameaçaram com uma arma em trânsito na capital federal.
“Que País é este? Que presidente é este que ainda está no Governo? Que País é este que destila ódio, violência e agressão? ”, questionou Benedita da Silva.
Durante seu pronunciamento, parlamentares se manifestaram em apoio e solidariedade à deputada.
“Esta Presidência lamenta e repudia qualquer tipo de ação contra qualquer parlamentar. Os parlamentares foram eleitos de forma democrática e aqui representam os seus estados, representam o seu povo. Nós queremos que todos tenham respeito. Neste momento difícil por que passa o País, cabe a nós pedir a todos sabedoria e entendimento, para que possamos democraticamente ver o País andar”, afirmou o deputado Charles Fernandes (PSD–BA) que estava presidindo os trabalhos.
Em sua fala, o deputado Vicentinho (PT-SP) lembrou dos vários momentos em que testemunhou o respeito e admiração que Benedita desperta nas pessoas. “Você é uma imagem que dá tanto orgulho para o Brasil que, ao ser atingida, também nos sentimos atingidos. Você mesma é daquelas que diz que não devemos soltar a mão de ninguém. Agora nós estamos de mãos juntas, muito solidários”.
Benildes Rodrigues
