Aquele 7 de abril de 2018, dia em que Lula foi preso pelo carrasco da democracia, o então juiz Sergio Moro, ficará marcado para sempre como o dia da ignomínia nacional. Mas, ali, no mesmo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo que, em 1978, tinham começado as lutas heroicas dos trabalhadores contra a ditadura militar, por liberdade e justiça social, Lula não foi simplesmente preso, mas se deixou prender, pois tinha todas as condições para sair do País.
Os golpistas tentaram prendê-lo como um bandido, mas Lula se deixou prender como um mártir a fim de provar, com a sua inocência, que a operação Lava Jato era um sistema criminoso criado para liquidar a democracia tão duramente conquistada depois de anos de luta contra a ditadura militar. Lula demonstrou coragem pouco vista nos homens públicos.
Defesa da honra
Como Lula sempre disse desde que foi condenado e preso, a prova de sua inocência é a arma mais forte da defesa de sua honra, da democracia e do Estado de Direito. Nela reside toda a força moral que o tornou a pessoa mais livre do Brasil, embora ainda seja mantido refém dos golpistas nas masmorras da Lava Jato.
Mas o que conseguiram as forças da exceção institucional nesses 500 dias de prisão política de Lula? O saldo é estarrecedor: devastação do Brasil pelo fascismo bolsonarista, pela recessão econômica e pelo entreguismo desenfreado e isolamento internacional do País.
Por outro lado, Lula deixou de ser apenas uma ideia de liberdade, alimentando a esperança do povo para crescer também como uma necessidade de normalização democrática e da volta ao Estado de Direito. Uma necessidade sentida até mesmo por setores que antes tinham defendido a sua prisão política, mal disfarçada de combate à corrupção.
Farsa de Moro
O destemor do jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil, usando a liberdade de imprensa, revelou a essência do esquema criminoso por trás da fachada da Lava Jato. Com isso, derrubou a falsa narrativa moralista criada pelo golpe de 2016, provando toda a farsa jurídica montada por Moro para prender Lula, eleger Bolsonaro e se tornar ministro da Justiça.
Ao mesmo tempo, as ações do governo de Bolsonaro para destruir a Nação brasileira ao lado de seu projeto, executado pelo seu clã familiar, de institucionalizar a criminalidade, empoderar as milícias e subordinar totalmente o País aos EUA de Donald Trump, estão fazendo a sociedade acordar do pesadelo bolsonarista. É algo tão abusivo e sem futuro que afasta do governo setores políticos, midiáticos e empresariais que o apoiaram nas eleições.
Esperança de justiça
Os 500 dias de martírio de Lula se completam em um momento – o segundo semestre do primeiro ano de Bolsonaro –, em que um forte raio de luz brilha daquela cela livre de Curitiba.
O primeiro sinal disso foi a decisão do Supremo Tribunal Federal de impedir a criminosa transferência de Lula de Curitiba para uma prisão comum em São Paulo. O próximo passo, inevitável diante do desmoronamento moral e político do projeto golpista e não apenas do governo Bolsonaro, será a anulação da injusta sentença de Lula e o reconhecimento de sua inocência, como ele próprio havia previsto.
O pedido pela anulação de sua sentença acaba de ser apresentado ao STF por quatro partidos da esquerda e movimentos sociais. Milhares de Comitês Lula Livre espalhados por todo o país realizam manifestações exigindo o fim da prisão política do nosso maior líder popular. O mesmo vem ocorrendo no âmbito da opinião pública internacional, com abaixo-assinado de prestigiados juízes e juristas de vários países.
Volta do Estado de Direito
Tudo isso é parte da situação política que está mudando rapidamente a favor da volta ao Estado de Direito. A enorme pressão sobre a Corte Suprema para fazer justiça no caso de Lula reflete o desejo atual da maioria da sociedade pelo respeito ao Estado de Direito. O voto pela continuidade da prisão política de Lula se tornou, finalmente, uma decisão absurda, uma desmoralização contra quem o faça, um ponto fora da curva.
Mais do que nunca continua firme e esperançosa a impressionante manifestação de confiança na inocência de Lula feita pela Vigília Lula Livre que, nesses 500 dias, recebeu dezenas de milhares de pessoas, líderes de movimentos sociais, religiosos, juristas e estadistas de todo o mundo. Os militantes da resistência democrática em Curitiba não arredaram o pé um minuto sequer, levando o calor da solidariedade ao frio da cela de Lula, o preso político mais conhecido do mundo.
Mais do que nunca o Brasil precisa de Lula Livre!
* Benedita da Silva é deputada federal (PT-RJ). Artigo originalmente publicado pela Revista Fórum.