O dia 13 de maio ficou conhecido, nos livros antigos de história, como o dia da sanção da Lei Áurea, que aboliu oficialmente a escravidão no Brasil. Porém, após a abolição, a população negra nunca foi indenizada pelos trabalhos prestados e não foram criados mecanismos de amparo à inclusão no mercado de trabalho. As consequências desse desamparo, por parte do Estado brasileiro, são enfrentadas até hoje pela população negra que convive com o racismo, o preconceito, a violência e o desemprego. A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) discursou no plenário da Câmara Federal, nesta quinta-feira (13), contra toda violência e preconceito vividos pelo povo negro no Brasil.
“Nós estamos vivendo, no Brasil, o passado. Vivemos a escravidão moderna da exclusão por cor de pele. Não somente por classe social, sem emprego, na miséria da favela, no atendimento à saúde, na falta de escolas, no reconhecimento do seu saber, da sua cultura. Nós vivemos hoje o racismo moderno e praticado pelo Estado quando impede que haja, na comunidade negra, um crescimento. Quando tiram dos quilombolas a possibilidade de criarem seus filhos, toda a sua descendência que ali esteve e está hoje a se manter nas suas terras”, lamentou a parlamentar.
Benedita da Silva disse ainda que o dia 13 de maio não é para ser comemorado, mas um dia de luta e de reflexão de como a história foi contada e distorcida. “É uma contaminação geral praticamente na sociedade brasileira. E nós, na condição de Parlamentares, não podemos desconhecer que, no Brasil, existe racismo, que ele é institucionalizado e que nós temos que criar uma sociedade antirracista”.
Para a deputada carioca, a escravidão significa “tortura, o que passou o nosso povo nas senzalas. Significa apartheid, porque foram retirados de suas nações para se tornarem escravos no Brasil. Significa etnocídio, porque foram jogados ao mar vários corpos. Significa que vivemos a barbárie do racismo até os dias de hoje, uma banalização do corpo negro. Nós temos, inclusive, o aparelho do Estado que criminaliza, que reprime, que encarcera e, muitas vezes, mata”.
Chacina no Jacarezinho
A deputada Benedita da Silva também falou sobre a chacina que aconteceu na Comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que deixou 28 mortos. Para ela, o Estado deveria pender, encarcerar e julgar, mas nunca matar.
“Quando nós falamos isso, pensam que nós estamos defendendo bandidos, mas olhem quem foi tratado como bandido. Depois do dia 13 de maio – quando ficaram sem escola, sem emprego, sem creche, sem nenhuma oportunidade e os idosos sem energia e força para trabalhar – foram jogados às traças, porque não havia quem cuidasse deles. Hoje, o Estado faz isso com a população que está na rua, com a nossa juventude negra, com o povo que está no seu quilombo, nas favelas, negros e negras, com a nossa juventude que precisa provar que não é bandida, que não é bandido”, disse.
Benedita criticou que o combate ao tráfico só acontece nas favelas e não nos aviões ou em qualquer outro lugar. “É por isso que as manifestações, hoje, se fazem acontecer nos estados do Brasil contra essa barbárie, contra o fato de o Estado usar as suas mãos armadas para destruir, para retirar a possibilidade de vivermos, de termos emprego, termos saúde, termos escola, universidade e uma convivência cultural fraterna, solidária, inclusive, num momento de pandemia”.
A parlamentar justificou que vive isso a muitos anos e criticou o abuso de autoridades. “Sei muito bem que o chicote da caneta funciona muito neste País. E o abuso de autoridade, em qualquer nível, não é apenas militar e policial, o abuso de autoridade tem cor, o abuso de autoridade tem classe e o abuso de autoridade também tem gênero, por mais que queiram dizer que não”.
Lorena Vale