O presidente Jair Bolsonaro traiu o seu juramento de respeitar a Constituição de 1988 ao determinar que os quartéis celebrassem o golpe militar de 64, que depôs o presidente João Goulart e rasgou a Constituição de 1946.
Segundo declarou o vice-presidente, general Mourão, a divulgação do vídeo fazendo apologia do golpe de 64 e da intervenção militar contra o regime democrático partiu do próprio Bolsonaro.
Mas qual o propósito de se trazer para o presente esse passado de dor e opressão, não como crítica, mas como exemplo?
O objetivo de Bolsonaro no governo não é o de governar, como já está claro nesses primeiros três meses na Presidência da República, mas o de se manter como presidente. E o seu método é o de dividir a sociedade para atrair os setores mais reacionários e obtusos, que só sabem se expressar pelo ódio contra todos e todas de que deles discordam.
Até mesmo como instrumento político de um sistema econômico que despreza o povo ele se mostrou incompetente.
Em pouco tempo vemos esse sistema se voltar contra Bolsonaro porque está preocupado com o seu projeto antipopular, destacadamente a nefasta Reforma da Previdência.
Mas se houve celebração nos quartéis, talvez mais como cumprimento de ordens do que por entusiasmo golpista, na sociedade as manifestações predominaram em repúdio ao golpe militar e em respeito à memória daqueles que foram torturados, assassinados e desaparecidos pelos por facínoras como o coronel Ustra e o delegado Fleury.
É preciso, sim, lembrar às novas gerações o que foi a ditadura militar para esse pesadelo nunca mais se repetir.
Bolsonaro e os setores militares antidemocráticos fazem proselitismo do golpe militar porque no Brasil a ditadura não sofreu a derrota profunda que ocorreu com as ditaduras da Argentina, Uruguai e até mesmo do Chile.
Nesses países os torturadores não foram anistiados e seus mandantes, os generais ditadores, foram presos.
Se a vitória da democracia tivesse tido no Brasil essa mesma força, não haveria a menor condição para Bolsonaro espalhar suas fake news contando “maravilhas” do golpe militar de 64.
A celebração forçada do golpe de 64 saiu pela culatra. Bolsonaro não conseguiu fazer de 31 de março de 2019 um novo período de escuridão como aquele começado em 31 de março de 1964.
A única verdade do ridículo vídeo que divulgou veio embrulhada numa mentira, ao dizer que antes do golpe de 64 era um tempo em que se “prendia e matava os próprios compatriotas”. Isso de fato ocorreu, mas feito pela ditadura militar.
A sociedade está acordando para o horror da eleição de Bolsonaro. O campo democrático se amplia, se levanta em defesa da aposentadoria e reage contra o projeto homicida de Moro, que visa “prender e matar os próprios compatriotas” das favelas e periferias.
Os primeiros raios da libertação de Lula começam a clarear o horizonte da Nação.
- Benedita da Silva é deputada federal (PT-RJ) – Artigo publicado originalmente no VioMundo