Nilto Tatto: Basta aos maus tratos

Deputado Nilto Tatto. Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

(*) Nilto Tatto

O título brasileiro de “maior exportador de gado em pé do mundo” não é capaz de esconder as mazelas do tratamento que os animais recebem quando são transportados e enviados em vida para o exterior. Confinados em navios cargueiros inadequados durante semanas, envoltos em fezes e urina que se acumulam, muitos têm seus cascos fissurados em meio a dolorosos processos inflamatórios, sofrem hemorragias, infecções e chegam até a morrer, quando não são atirados ao mar.

Como não há espaço ou local adequados, os animais exportados vivos acabam defecando e urinando uns sobre os outros, formando uma camada de dejetos que se sobrepõe ao couro, alterando a regulação térmica dos seus corpos e aumentando ainda mais o estresse que já era alto em todo o processo. Isso tudo afeta o sistema imunológico e agrava problemas respiratórios causados pelo ar tomado pela amônia e o metano derivados da urina e dos gases. É quando surge a chamada doença respiratória bovina (BRD, da sigla em inglês), que inclui quadros equivalentes à pneumonia em humanos.

Exportação

Além dos danos à saúde e bem estar dos animais, exportar carga viva não traz benefícios à economia brasileira – se estes animais fossem abatidos e sua carne beneficiada no Brasil, além de evitar muito sofrimento, poderia gerar empregos em solo brasileiro e valorizar o produto final, que poderia inclusive ser vendido mais caro para o mercado externo. Para tentar acabar com esse tipo de prática, vários projetos proibindo a exportação de “carga viva” já foram protocolados, sem sucesso, na Câmara e no Senado. Via de regra, estes projetos são arquivados ou deixados de escanteio, uma vez que a bancada ruralista é majoritária no Congresso.

Uma forma de tentar driblar esta letargia foi protocolar na Câmara dos Deputados um projeto que aumenta impostos de exportação sobre as operações relativas a animais vivos. Se a carga tributária for alta, a venda de animais vivos para o mercado externo se torna economicamente inviável e a prática tende a se extinguir. É preciso lembrar que a própria Constituição Federal proíbe qualquer prática que submeta os animais a tratamento cruel e que cabe a nós dar um basta aos maus tratos.

(*)  Deputado federal (PT-SP)

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