Presidenta do PT disse ainda que o Parlamento também tem a prerrogativa de trocar os diretores do BC;
A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou durante pronunciamento no plenário da Câmara que o Congresso Nacional “tem a responsabilidade de chamar o Banco Central à razão” e “tomar providências para que a instituição pare de apostar contra o Brasil”. A crítica da parlamentar refere-se à ata da última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) que manteve a atual taxa de juros em 13,75%, a maior em termos reais (descontada a inflação) do planeta. Durante o discurso, a parlamentar também leu trechos de um artigo do jornalista Reinaldo Azevedo condenando os argumentos do Copom.
No pronunciamento, Gleisi Hoffmann destacou que ao enviar recados de como o governo Lula deve atuar na economia, a Ata do Copom se transformou em uma ameaça. “A ata do Copom é uma ameaça, não uma ameaça ao Governo Lula, mas uma ameaça ao Brasil. E é uma ata eminentemente política. O Banco Central, de Bolsonaro e Guedes, manda recados para o Governo Lula. A autonomia, que foi aprovada nesta Casa, não é para o Banco Central mandar recados, é para ele ter responsabilidade com o País”, avaliou Gleisi.
Troca de diretores do BC
Diante desse comportamento, a presidenta do PT ressaltou que a Câmara e o Senado – que aprovaram a autonomia do Banco Central – “tem a responsabilidade de chamar a instituição à razão”.
“Quem pode colocá-los lá na diretoria também pode tirá-los. Nenhum membro, nenhum diretor do Banco Central é ‘imexível’. A lei que nós aprovamos aqui, Sr. Presidente, é clara em dizer que, se houver insuficiência de resultado — e há, aliás, e é contra aquilo que nós temos na lei, que é geração de emprego, desenvolvimento e controle da inflação —, eles podem ser retirados”, defendeu Gleisi Hoffmann.
No artigo citado pela presidenta do PT, o jornalista Reinaldo Azevedo – colunista do UOL – descreve a ameaça velada feita pelo Copom de aumentar a já estratosférica taxa de juros. Segundo o jornalista, essa ameaça está atrelada – segundo a ata do Copom – “a possível adoção de políticas parafiscais expansionistas” que venham a ser adotadas pelo BNDES, ou seja, oferta de crédito mais barato para ativar a economia.
“Qual é o empresário neste País que vai investir, que vai gerar emprego se pode ganhar, no mercado financeiro, sem fazer nenhum esforço, 7% de juros (reais) ao ano? Isso é uma tragédia para o Brasil. Isso é criminoso. Nós não podemos continuar com essa situação. Parece retaliação. E ainda querem sequestrar o debate, porque dizem que nós não podemos discutir o Banco Central, não podemos discutir o que o Banco Central define. E a imprensa faz esse coro. É lamentável que essa ata traga tal aberração”, ressaltou Gleisi.
Segundo Reinaldo Azevedo, em 2022 (último ano do governo Bolsonaro) “o BNDES desembolsou míseros R$ 98 bilhões, praticamente sem subsídio – coisa de ridículo 1% do PIB”. A atual direção do banco, presidida pelo economista Aloizio Mercadante, espera dobrar esse montante até 2026.
BC contra o crescimento econômico
A presidenta nacional do PT criticou ainda um item da ata do Copom que claramente prega a desaceleração econômica do País, já afetado pelas altas taxas de juros. Segundo o BC, “no âmbito doméstico, o conjunto de indicadores divulgados desde a última reunião do Copom segue corroborando o cenário de desaceleração do crescimento esperado pelo Comitê”.
Para Gleisi Hoffmann, a desaceleração do crescimento esperado pelo Copom e a contração da oferta de crédito pode derrubar a geração de postos de trabalho no País, aumentando o desemprego.
“Eu acho que esta Casa, que tem responsabilidade com o setor produtivo do País, tem que, junto com o Senado, tomar as providências para que o Banco Central pare de apostar contra o Brasil”, defendeu Gleisi.
Héber Carvalho