(*) Reginete Bispo
Na última semana, o Brasil alcançou um marco histórico ao testemunhar a criação da sua primeira bancada negra na Câmara dos Deputados. Esta conquista não apenas reflete a longa e árdua luta por representatividade política, mas também sinaliza uma etapa significativa na evolução da democracia brasileira. A criação dessa bancada é um tributo aos heróis e heroínas do passado, que batalharam pela igualdade racial, como a primeira senadora negra Laélia de Alcântara, que assumiu o mandato em 1981, há mais de 40 anos.
O Brasil, historicamente marcado pela desigualdade racial, viu a criação da bancada negra como um passo vital na direção de uma sociedade mais justa e equitativa. Entre os ilustres membros desta bancada, destacam-se figuras emblemáticas como a deputada Benedita da Silva e o deputado Vicente Paulo da Silva (Vicentinho). Ambos, com origens humildes, personificam a possibilidade de luta social e a importância de representantes do povo no cenário político.
Na época em que Laélia de Alcântara ingressou no Senado, a presença de negros e negras no Congresso Nacional era escassa. Hoje, apesar do progresso alcançado desde então, ainda temos um longo caminho a percorrer. O crescimento no número de representantes negros é notável, mas insuficiente já que representamos 56% da população. A criação da bancada negra é um passo audacioso em direção à concretização da pluralidade e do fortalecimento da democracia.
Uma das conquistas mais significativas desta nova bancada é ter assento nas reuniões do colégio de líderes, com direito a voz e voto. Essa inclusão representa a capacidade de influenciar a agenda legislativa e de contribuir para a tomada de decisões cruciais. Significa não apenas uma cadeira à mesa, mas também o poder de moldar o rumo das políticas públicas em benefício da população negra e, consequentemente, de toda a nação.
Atualmente, contamos com 30 deputados que se declaram negros e 91 que se autodeclaram pardos. No entanto, a representatividade política não deve se limitar apenas à quantidade, mas à qualidade das vozes que são ouvidas. A bancada negra não é apenas um símbolo de inclusão, mas também uma esperança para um futuro mais justo e igualitário. Seu impacto transcende a esfera política, ecoando na sociedade como um todo, desafiando racismos arraigados e inspirando gerações futuras.
Em tempos em que a unidade e a equidade são mais cruciais do que nunca, a criação da bancada negra no Brasil ressoa como um lembrete de que juntos somos mais fortes, e a representatividade é uma das chaves para a construção de um país verdadeiramente inclusivo. Através do trabalho destes representantes, a esperança é que as vozes outrora silenciadas sejam finalmente ouvidas, e que a luta por justiça e igualdade racial encontre terreno fértil para crescer.
(*) Reginete Bispo é deputada federal (PT-RS)