Balanço: O saldo de 2020 é extremamente negativo para o Brasil

Os deputados da Bancada do PT na Câmara, Rogério Correia (MG) e Afonso Florence (BA), discursaram na sessão da Câmara Federal, nesta terça-feira (22), sobre o caos que foi o ano de 2020. Para os petistas “o saldo é extremamente negativo para o País”. Eles destacaram a pandemia do Covid-19 no Brasil, as pautas autoritárias do presidente Jair Bolsonaro e o papel da Minoria no Parlamento brasileiro.

“O saldo é extremamente negativo para o País: um governo, em primeiro lugar, obscurantista, que quis colocar pautas que foram barradas muitas vezes pela força da própria população, dos movimentos sociais, e, por vezes, até do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF)”, apontou Rogério Correia. E completou: “Os filhos chegaram a dizer que com um cabo e dois soldados fechariam o Supremo. O presidente se lançou contra o Congresso Nacional. Foram períodos terríveis. E o próprio STF teve que agir e impedir que esses atos autoritários continuassem. Até pretensos jornalistas estão presos por fazerem com que o ódio fosse destilado no País em favor de um regime autoritário e da desobediência em relação ao sistema democrático”.

Para Rogério Correia, o Parlamento precisa, a partir do ano que vem, ter pautas que sejam positivas para o povo e não olhar apenas para os “desejo do mercado, dos banqueiros, dos grandes capitalistas”. “Durante a campanha eleitoral, nós não pudemos sair muito, mas quem fez campanha viu que o índice de miséria aumentou, que a situação do nosso povo vem piorando no campo e na cidade, programas da agricultura familiar são desfeitos pelo governo”, lamentou.

Vacina

Já foram vacinados quase 1,5 milhão de pessoas pelo mundo, e, evidentemente, tem sido um sucesso: nenhum caso de morte, nenhum caso grave em relação à vacina. Para Rogério Correia, Bolsonaro prefere a cloroquina à vacina e ainda fica insuflando os brasileiros a não tomar os cuidados necessários com a pandemia.

“Os negacionistas, incluindo o presidente, insistem em fazer com que a pandemia prevaleça, e neste aspecto causou a morte de milhares e milhares, centenas de milhares de pessoas. Portanto, não temos o que comemorar também, no que diz respeito à pandemia que assolou o mundo e que no Brasil foi uma verdadeira tragédia”, disse o parlamentar.

Economia

O deputado mineiro questionou o porquê do Brasil não aprova a taxação das grandes fortunas como aconteceu com a Argentina e a Bolívia. “No Brasil só se pensa em taxar o pequeno. E o governo vem de novo falar em Reforma Administrativa para tirar direitos de servidor público; inovar a Reforma Trabalhista com aquela Carteira Verde e Amarela, que era a carteira da escravidão e que felizmente, na Câmara e no Senado, nós conseguimos barrar; Reforma da Previdência para tirar direitos dos idosos, como se o que tivesse que ser feito era, de novo, pedir sacrifício ao povo brasileiro”, protestou.

Neste período dramático em que o mundo e o Brasil estão vivendo, o auxílio emergencial acaba no dia 31 de dezembro. Segundo uma pesquisa do Datafolha, 36% das pessoas não têm outra renda a não ser o benefício emergencial. “O governo Bolsonaro simplesmente diz que não teremos nada a partir de janeiro. Como ficará o povo brasileiro? Já se fala, a partir de janeiro, no aumento do desemprego, que hoje está em 14 milhões de pessoas, para 20 milhões! O que tem o governo a comemorar? A tragédia do País? A tragédia do povo? Até mesmo os índices inflacionários aumentam”, lamentou.

Foto: Gabriel Paiva/Arquivo

Reações

Rogério Correia destacou as reações positivas que não deixaram que o Governo Federal acabasse ainda mais com as conquistas dos brasileiros ao longo do ano, principalmente na educação.

“Felizmente existiram reações. A reação principal veio das escolas, das universidades, das escolas públicas. Talvez seja por isso que Bolsonaro tenha tanto ódio da escola pública brasileira, não tenha se comprometido com o Fundeb. Tomara que ele não tenha coragem de vetar o Fundeb depois da vitória maravilhosa que a sociedade teve ao aprovar dinheiro público para a escola pública”. Ele alertou, no entanto, que Bolsonaro pode ainda estar pensando em “maldades”, assim como pensou em privatizar o Sistema Único de Saúde (SUS) em plena pandemia.

“Faço essas denúncias aqui para dizer que ano que vem nós precisamos de muito mais luta, para poder evitar que essas pautas conservadoras e reacionárias persistam e pautas preconceituosas façam parte do Brasil. O que nós precisamos é de um País com mais solidariedade e união entre as pessoas”, afirmou.

Década do avanço

Rogério Correia falou também da reportagem da Folha de S. Paulo, desta terça-feira (22), em que chamou o período, em que Lula e Dilma governaram o Brasil, de década do avanço. “A década tem nome: os governos de Lula, de Dilma, governos de esquerda que buscaram, minimamente, dividir renda, fazer com que o salário-mínimo crescesse, fazer com que a Reforma Agrária avançasse, que os pobres tivessem acesso ao trabalho, ao emprego, que os negros e negras entrassem nas universidades, que os homossexuais não fossem reprimidos. Tudo isso esteve na pauta daquela década”, enfatizou acrescentando que o que o jornal chama de década, “nós chamamos de governo Lula e governo Dilma”.

Golpe

Outra reportagem que o deputado mineiro mencionou foi a entrevista do hacker Walter Delgatti Neto à CNN. Para Delgatti, o foco da operação Lava Jato sempre foi o ex-presidente Lula. “O foco era o Lula, mas os empresários, também, e outros políticos, ou diretores da Petrobras que eles mantinham presos até a pessoa falar. Exemplo: o Léo Pinheiro. Eles falavam: ‘Se ele enviar, fizer a delação e não falar do Lula, não será aceita’. Tinha conversa assim”, relatou.

“Estou abismado com a entrevista que o hacker deu em relação a como agiram Dallagnol e Moro, exemplificando o que foi o golpe neste País e como aquelas ações levaram a mudar os rumos do nosso Brasil, a partir de mentiras e falsidades”, afirmou Correia. O parlamentar disse ainda que “hoje é impossível não pensar em realizar uma Comissão Parlamentar de Inquérito, para saber qual foi o papel que estes senhores tiveram para atravancar, para paralisar o processo democrático e retroceder o Brasil”.

Foto: Gustavo Bezerra/Arquivo

Papel da Minoria

O deputado Afonso Florence destacou o papel que a Minoria, em parceria com os movimentos sociais, com as forças políticas, entidades, associações, organizações da sociedade civil, cumpriu no parlamento brasileiro no ano de 2020.

“Trabalhamos intensamente para no período da pandemia garantir renda aos que mais precisam, garantir o funcionamento democrático das instituições, e um exemplo é o trabalho da CPMI das Fake News. E obtivemos importantes êxitos como os R$ 600 para a renda emergencial; a Lei Aldir Blanc; a Lei Assis Carvalho, e a política de apoio às micro e pequenas empresas e aos microempreendedores individuais”, apontou.

O parlamentar também deixou claro que a Minoria quer que haja investigação dos crimes cometidos pelo presidente Jair Bolsonaro. “Infelizmente, temos um Presidente da República que patrocina uma política que não é de promoção à saúde e que comete crime de responsabilidade. Há mais de 50 pedidos de impeachment”.

Resistência

Afonso Florence assegurou que em 2021, os partidos que compõem a Minoria na Câmara, vão continuar trabalhando para garantir ao Estado brasileiro que as reformas que são produtos do golpe de 2016, não passem. “Querem reescrever a Constituição, extinguindo a capacidade do Estado de promover políticas públicas e fomentar o desenvolvimento econômico e social. Nós vamos continuar resistindo”.

Lorena Vale

 

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