O líder do PT na Câmara, Enio Verri (PR), ao celebrar em discurso os 41 anos de fundação do partido, fez hoje (10) duras críticas ao projeto neoliberal bancado pelo governo Jair Bolsonaro e sua base parlamentar para garantir a autonomia do Banco Central, deixando a instituição virtualmente nas mãos do mercado financeiro.
“É uma pauta que não tem nada a ver com o enfrentamento da miséria, do desemprego, a ampliação da aplicação de vacinas a nossa população: só tem a ver com os interesses do mercado especulativo e financeiro”, denunciou.
Em discurso no plenário, Verri listou as conquistas do partido com a implementação de políticas heterodoxas à frente do governo federal, de 2003 até o golpe de 2016. O PT mudou a realidade do País, sem interferir na autonomia do BC e sem dar ao banco autonomia plena, desvinculado do projeto de governo que transformou a realidade brasileira e alçou o Brasil para um lugar de destaque no cenário mundial.
Pleno emprego
“Mudamos a realidade do País. Quarenta milhões de pessoas foram tiradas da miséria. Conseguimos gerar pleno emprego na economia. Conseguimos dar à população acesso a bens de consumo e algo fundamental na política: esperança. Em uma década, como diz o professor Fernando Haddad, nós tiramos a família debaixo da lona e o filho graduou-se na universidade”, pontuou.
Segundo ele, foi uma verdadeira revolução “de inclusão social, econômica, que fez com que o Brasil fosse respeitado em todo o mundo”. Ele observou que os grandes líderes procuravam os presidentes Lula e Dilma para ouvir o que era melhor para o mundo e como o País poderia participar, cenário oposto ao atual, no qual o Brasil virou pária internacional com o governo Bolsonaro.
BC capturado pelos especuladores
Para o líder do PT, o Brasil não vai sair do buraco com o Banco Central virtualmente independente, em nome de uma suposta segurança do mercado, como alegam os defensores do PLP 19/2020. “Sabem o que é mercado de fato? Mercado de fato é a produção agrícola, a fábrica e o comércio funcionando, tendo consumo. Esse é o mercado”.
Ele criticou os colegas parlamentares que têm agido puramente em defesa dos bancos e da especulação financeira, que nada produzem e por isso são chamados de “capital vadio”.
Verri observou que nos governos do PT as conquistas de toda a população foram inúmeras, mas com o golpe de 2016 instituiu-se um modelo neoliberal que foi aprofundado pelo governo neofascista Bolsonaro. De lá para cá, o povo só perdeu, disse Verri.
“Reformas trabalhista, sindical e da Previdência, terceirização, aumento da miséria! E mesmo que digam que estamos mal hoje por conta da pandemia, é importante ressaltar que em 2019 a economia cresceu 1,1%, resultado da política econômica aplicada por Jair Bolsonaro e Paulo Guedes”, afirmou o líder do PT.
Geração de empregos
A tentativa de mudança de status do Banco Central é resultante do modelo em que só se pensa nos interesses dos poderosos e do capital, observou o parlamentar. Para Enio Verri, a mudança que deveria haver no BC do Brasil poderia ser espelhada no papel desempenhado pelo FED, o banco central dos Estados Unidos, que se preocupa com inflação mas também com a geração de empregos.
“Na hora em que os burocratas do Banco Central resolverem aumentar a taxa de juro saberão que, subindo os juros, aumentará o desemprego. Portanto, terão que fazer o equilíbrio. Isso, sim, é estar preocupado com o mercado”, assinalou o líder do PT.
Autonomia do BC sempre existiu
Ele lembrou que desde o governo FHC (1995-2002), o BC já tem uma autonomia relativa, com o presidente da República escolhendo a diretoria da instituição. “Eles têm autonomia e nunca tivemos problemas, nem nos governos do PSDB, nem nos do PT e nem no pós-golpe. Mesmo assim, o Banco Central sempre se baseia no boletim da Focus, que é o mercado que monta. Então, hoje, com autonomia relativa, ele já é dependente do mercado financeiro. Imaginem com 100% de autonomia?”, indagou.
Enio Verri criticou o PLP 19/2020 por não colocar travas na indicação de gente do mercado financeiro ao BC e também por estabelecer a não demissibilidade da diretoria por um presidente da República eleito. Pelo projeto, a diretoria do BC pode ficar 24 meses no cargo depois das eleições presidenciais, mesmo que o presidente eleito tenha uma proposta totalmente diferente do mandatário que a colocou à frente da instituição.
“Vamos colocar uma pessoa do mercado financeiro que não tem vinculação nenhuma com o programa de Governo que a população elegeu para atender os interesses de quem? Do capital produtivo, da agricultura? Não, só do mercado financeiro.”, denunciou Enio Verri.
“Portanto, nós vamos passar uma procuração ao mercado financeiro para controlar toda a política financeira e monetária do nosso País. Se hoje já somos submetidos à especulação financeira, imaginem com a autonomia do Banco Central! Imaginem!?”
Segundo ele, o projeto não se assemelha à situação de nenhum país, já que nele está embutida uma preocupação única com o setor especulativo da economia, voltado aos que “não produzem nada e ganham muito e que, com a autonomia do Banco Central, irão produzir menos ainda, mas ganharão muito mais.”
Na opinião do líder do PT, a Câmara devia estar votando políticas para a geração de emprego e renda e a volta do auxílio emergencial de R$ 600,00, o Mais Bolsa Família, recursos a pequenas e micro empresas e à agricultura familiar, além de atuar para que a vacinação contra a Covid-19 seja rápida e abrangente para toda a população. “Isso sim, é política para esta Câmara dos Deputados tão valorosa e que mostrou a sua competência durante todo o ano de 2020 lutando pelos interesses do País”, afirmou.
Paulo Paiva Nogueira