Aumento dos juros agrava dívidas pessoais e custos da produção

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O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou nessa quarta-feira (3) que decidiu elevar a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 ponto percentual, para 13,75% ao ano. É o maior patamar da Selic desde janeiro de 2017, quando a taxa também chegou a 13,75%. Unânime, a decisão foi sinalizada na ata da última reunião do Copom, em junho, e correspondeu às expectativas do mercado, que já espera nova alta em setembro.

Esta foi a quinta reunião do Banco Central em 2022 e a 12ª alta promovida na Selic desde março do ano passado, quando estava no menor patamar histórico (2%). Já é o mais longo ciclo de aperto monetário da história do Copom. O índice já subiu 11,75 pontos percentuais, no maior choque de juros desde 1999 —na época, o BC elevou a Selic em 20 pontos percentuais de uma só vez para tentar aliviar a crise cambial.

O cenário inflacionário para 2022 e 2023, além da incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país após Jair Bolsonaro tomar os cofres da União de assalto para se reeleger, deverão manter o ciclo de aperto monetário na próxima reunião. Além disso, altas de juros no exterior além do previsto, como do Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos) e do Banco Central Europeu, adicionaram pressão sobre os juros brasileiros.

A última vez em que a Selic teve um valor mais alto do que o atual foi no ciclo de 19 de outubro de 2016 até 30 de novembro de 2016, quando foi a 14% ao ano. Esse valor poderá ser ultrapassado já na reunião de setembro. “O Comitê avaliará a necessidade de um ajuste residual, de menor magnitude, em sua próxima reunião”, adianta o comunicado do órgão do Banco Central (BC), abrindo espaço para um novo ajuste de 0,25 pp ou de 0,50 pp.

Líder do ranking mundial de juros reais desde maio, o Brasil aumenta a distância para o México, segundo colocado no levantamento compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management. Com a nova alta da Selic, os juros reais (descontada a inflação prevista para os próximos 12 meses) no Brasil atingiram 8,52% ao ano – mais que o dobro da taxa mexicana (4,20%).

Considerando os juros nominais (sem descontar a inflação), a taxa brasileira se mantém na terceira posição. Na cola da taxa da Turquia (14%), onde a inflação anual chegou a quase 80% em julho.

“Ciclo infernal” de Bolsonaro e Guedes enreda as famílias em teia de endividamento

A alta dos juros nas economias desenvolvidas tende a enfraquecer a economia global, afetando o preço de commodities e reduzindo parte da inflação importada. Mas o atual cenário brasileiro de crescimento econômico pífio e perda de renda generalizada aumenta a tendência de valorização do dólar, encarecendo os custos dos produtos e serviços e gerando mais inflação.

A alta da Selic eleva as taxas bancárias. Em abril deste ano, a taxa média cobrada pelos bancos foi a maior em três anos. Em 2021, a alta do juro bancário foi a maior em seis anos, enquanto os gastos com juros da dívida pública também foram os maiores em seis anos. A expectativa do mercado é de que essa despesa deve bater recorde em 2022, elevando a dívida pública, indicador valorizado pelos investidores internacionais.

Enquanto o cassino do mercado financeiro esquenta com os dividendos dos títulos públicos, para a população os juros altos significam redução do consumo, que já anda em baixa diante da queda da renda do trabalho, e maior endividamento, com dívidas mais caras. O consumo baixo faz investimentos produtivos serem adiados, com impacto negativo sobre Produto Interno Bruto (PIB), emprego e renda.

Assim, está criado o ciclo infernal de Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes, onde 97% da população economicamente ativa deviam R$ 1 trilhão em abril. O economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, diz que o ciclo de inadimplência se acentuou a partir do início do quarto trimestre de 2021, quando a inflação passou ao patamar de dois dígitos.

“A inflação reduz a capacidade de pagamento e isso faz com que pessoas que estavam pagando normalmente não consigam mais”, ressalta Rabi, já projetando novos recordes nos próximos meses. “A combinação de inflação e juros altos está provocando um ciclo de aumento da inadimplência que não se encerrou”, destaca o economista. Essa elevação, avalia, “vai continuar ao longo do próximo trimestre ou até o fim do ano”.

 

PT Nacional

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