Audiência na Câmara denuncia plano de desmonte da Caixa para precarizar atendimento e forçar privatização do banco

Representantes de trabalhadores da Caixa e de concursados que esperam ser chamados para trabalhar no banco público denunciaram nesta quinta-feira (13) que existe um plano velado do governo Bolsonaro para desmontar e precarizar os serviços da Caixa visando uma futura privatização. Os palestrantes que participaram da audiência pública na Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, de autoria do deputado Alexandre Padilha (PT-SP), defenderam ainda a contratação de todos os aprovados no concurso da Caixa de 2014, como forma de melhorar o atendimento à população, principalmente a mais idosa.

Deputado Padilha. Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados

A Diretora Executiva da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro e Coordenadora Executiva de Empregados da Caixa (CEE/Caixa), Fabiana Proscholdt, ressaltou que umas das formas encontradas pela direção atual do banco – em consonância com o governo – para enfraquecer a instituição com o objetivo de privatizá-la é apostar na queda da qualidade do atendimento ao público. Segundo ela, a Caixa precisaria atualmente de 130 mil funcionários para prestar um bom atendimento à população. A instituição possui hoje pouco mais de 85 mil empregados.

“Por que a Caixa não contrata mais? Porque o trabalho na Caixa está sendo precarizado justamente para privatizá-la. Não tem outra explicativa. Essa venda já começou, por exemplo, via IPO da Caixa Seguridade”, apontou. IPO, em inglês, é a sigla para “initial public offering”, ou “oferta pública inicial”, em português. Representa a primeira vez que uma empresa recebe novos sócios ao realizar uma oferta de ações ao mercado.

Segundo Fabiana Proscholdt, os balanços da Caixa entre o 1º trimestre de 2020 e do 1º trimestre de 2021 apontam uma perda de 2.946 empregados. “O atual presidente do banco, Pedro Guimarães, anunciou a contratação de 2.766 empregados. Ou seja, menos do que tínhamos no ano passado. Assim vamos continuar sem condições de atender bem os clientes”, lamentou a representante dos empregados ao lembrar que essa foi um dos motivos da paralisação nacional da categoria no último dia 27 de abril.

Para Fabiana Proscholdt, a falta de contratação de empregados também não tem justificativa financeira. Ela informou que o próprio presidente da Caixa, Pedro Guimarães, anunciou recentemente que o banco teve, em 2020, crescimento de 50% em seu lucro.

O Presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae), Sérgio Takemoto, ressaltou que esse atendimento impacta diretamente a população, especialmente a mais idosa, que utiliza os serviços oferecidos pela Caixa. “A Caixa é um banco primordial para atender os aposentados e a população, porque detém 30% das contas de poupança do País, 70% dos financiamentos de imóveis, sendo estes 90% dos financiamentos voltados à população de baixa renda (até R$ 1,8 mil)”, explicou.

Segundo ele, além de apostar na precarização do atendimento o governo também enfraquece o banco público ao praticamente acabar com programas sociais tocados pela instituição.
“Não contrata, precariza o atendimento, piora a imagem pública do banco e o discurso de abrir mercado para os bancos privados se fortalece. Também enfraquece o papel público do banco ao praticamente acabar com o Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, destinando apenas R$ 23 milhões para o programa em 2021. O mesmo se faz com o FIES, que atende a baixa renda, que em 2014 atendeu 732 mil pessoas e em 2021 vai atender cerca de 3 mil. Isso é o fim do programa”, protestou.

O Secretário Executivo da Secretaria de Relações Sindicais e Sociais do Sindicato de Bancários de São Paulo, Dionísio Siqueira, destacou que é fundamental para o País ter a Caixa com uma estrutura forte para atender a população com qualidade e fomentar a economia do País. Ele lembrou que, em 2014, a Caixa tinha 101 mil funcionários, e na época já precisava de 20 mil funcionários a mais.
“E a demanda de lá pra cá só cresceu, não só dos correntistas, mas de pessoas que procuram a Caixa para atendimentos sobre o FGTS, habitação, Fies, Bolsa Família, seguro-desemprego e mais recentemente o auxílio emergencial”, observou.

Contratação dos aprovados no concurso de 2014

A audiência pública também debateu o tema da contratação de milhares de aprovados no concurso da Caixa em 2014, e que até hoje não foram chamados. A presidente da Comissão Independente dos Aprovados na CEF em 2014, Isabel Freitas Santana, protestou pela demora na contratação de mais de 20 mil aprovados, entre os 32.880 selecionados para o cadastro de reserva da Caixa.

Segundo ela, o déficit de funcionários no banco – que geram problemas de sobrecarga de trabalho, de doenças laborais e atendimento precário a população – poderiam ser amenizados com a contratação mais rápida dos aprovados no concurso. Isabel Santana lembrou ainda que uma ação judicial da Vara do Trabalho já garante a validade do concurso até esgotar as chamadas dos nomes do cadastro de reserva.

Também membro da Comissão Independente dos Aprovados na CEF em 2014, Carina Bhering relatou um drama pessoal para justificar a contratação de mais empregados pela Caixa.
“Acompanhei a minha avó a uma agência para ela sacar a aposentadoria e vi uma inscrição dizendo que a Caixa é o “Banco do Aposentado”. Como a Caixa pode ser o banco do aposentado se não tem o mínimo de estrutura para atender os idosos? Observei que o banco precisa de mais atendentes, de pessoas especializadas para atender idosos que tem dificuldade de lidar com a tecnologia, por conta da idade, e que acabam buscando ajuda nas agências”, apontou.

Em apoio aos aprovados no concurso e contra qualquer tipo de privatização do banco, a deputada Maria do Rosário (PT-RS) manifestou apoio à contratação imediata. Ela disse ainda que “a Caixa precisa ser fortalecida como banco público e estatal, para continuar pertencendo ao povo e ao Brasil, principalmente os aposentados”.

Já o deputado Alexandre Padilha garantiu aos aprovados no concurso que não vai deixar o assunto ser esquecido. “Os trabalhadores da Caixa podem ter certeza de que, da minha parte e desta comissão, não vamos parar com esse assunto aqui”, afirmou.

Outro lado

Representando a Caixa o Gerente Nacional de Recrutamento, Mobilidade e Quadro de Pessoal da CEF, Domício Tinoco Pinto Neto, disse que a Caixa está chamando os aprovados no concurso de 2014. Segundo ele já foram chamados 11.246 aprovados (34% do total), e que em fevereiro deste ano a Caixa autorizou a contratação de 566 novos empregados.

Héber Carvalho

 

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