Se Eduardo Cunha não pode ir até a Câmara, a Câmara vai até Eduardo Cunha. A fórmula posta em prática nesta terça-feira (21) custou o cargo de diretor-executivo de Comunicação Social da Câmara para o jornalista Cláudio Lessa. Ele foi exonerado pelo presidente em exercício da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), no mesmo dia em que a TV Câmara transmitiu, ao vivo, uma entrevista de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diretamente de um hotel em Brasília.
Embora o próprio Maranhão negue que a exoneração de Lessa, apadrinhado de Cunha, tenha sido motivada por esse episódio, tudo indica que foi a pressão de outros deputados – sobretudo das bancadas do PT e do PSol – que levou a esse desfecho. Eduardo Cunha, que está afastado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do exercício do seu mandato como deputado e presidente da Câmara, também está proibido de transitar pela Casa, segundo o mesmo STF.
Em sentido literal, o fato de a TV Câmara ter deslocado uma equipe com todo o aparato necessário para uma transmissão em tempo real fora das dependências do Parlamento revela, além do poder de Cunha de continuar dando as cartas, o desrespeito a uma decisão judicial. A gravidade está no fato de a instituição Câmara ter servido de instrumento para essa desobediência. Na tribuna, a atitude foi classificada como “absurda”, “abusiva” e “acintosa” por diversos parlamentares.
“Avalio esse fato como algo extremamente sério e está orientado pela mesma prática de Eduardo Cunha de se valer da estrutura pública para seu interesse privado”, disse a deputada Maria do Rosário (PT-RS), a primeira a denunciar da tribuna a transmissão da entrevista, feita no mesmo horário da uma sessão de votação no plenário. “Servimos – todos nós, do Parlamento brasileiro – como assessoria que gastou recursos, tempo e interesse público para atender os interesses privados e nefastos de Eduardo Cunha”, completou Rosário, que também repudiou a atitude da mesa diretora da Câmara, que não tomou providências, mesmo tendo sido alertada.
O deputado Wadih Damous (PT-RJ) disse que ficou claro ter havido conivência da mesa com esse episódio, já que vários deputados estavam acompanhando a entrevista ao vivo. “Somente depois que a entrevista foi concluída, o presidente da sessão anunciou que a transmissão foi suspensa. É de rigor que se abra uma sindicância para, entre outros pontos, apurar qual foi o parlamentar que compõe a mesa que autorizou a transmissão”, afirmou Damous. Ele também disse que vai propor à bancada oficiar o STF sobre o desrespeito à decisão judicial.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) lembrou que o diretor exonerado da TV Câmara é um notório reacionário que persegue jornalistas progressistas e que fechou vários programas com história consolidada na emissora. “Ele agiu seletivamente para transformar a TV Câmara quase em uma ‘TV Cunha’. Mas hoje ele extrapolou aquilo que já vinha sendo feito”, ressaltou. Pimenta também reivindicou que sejam apuradas ouras responsabilidades. “Uma situação como essa não pode ser tratada como algo normal, até porque ela mostra que Cunha continua mandando”, cobrou.
O deputado Givaldo Vieira (PT-ES) reforçou a análise segundo a qual Cunha demonstrou o seu poder ao mobilizar recursos da TV Câmara em benefício dos seus interesses particulares. “Ele também manda em parte do governo, porque nomeou o ministro da Justiça, que foi advogado dele; nomeou um secretário na Casa Civil, que foi seu advogado; nomeou o ministro de Transportes. Cunha forçou e indicou ainda o líder do governo na Câmara. E, sobretudo, ele continua mandando na Câmara”, apontou Givaldo.
Para a deputada Erika Kokay (PT-DF), Cunha continua com esse poder porque o governo golpista de Michel Temer tem que pagar a ele a conta do golpe, sendo o próprio governo, segundo a deputada, o “grande articulador” do espaço do qual Eduardo Cunha tem se utilizado. “Por isso e por muita coisa, Eduardo Cunha deveria estar preso, porque continua desrespeitando ordem judicial e se utilizando desta Casa, mandando nesta Casa, para se defender do indefensável”, concluiu a petista.
Tarciano Ricarto
Charge-Cunha-Aroeira