Parlamentares, juristas, jornalistas, blogueiros, ativistas digitais, militantes e dirigentes de entidades e movimentos sociais repudiaram, nesta segunda-feira (7), as ameaças feita pelos irmãos Marinho, controladores da Rede Globo, aos blogs e sites de esquerda que noticiaram casos sobre os quais pesam suspeitas de negócios ilícitos da família, como a mansão em Paraty (RJ) e um financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Os blogs e sites notificados pela família Marinho foram: O Cafezinho, Tijolaço, Diário do Centro do Mundo e Rede Brasil Atual. A eles se soma o Blog da Cidadania, de Eduardo Guimarães, ameaçado de processo pelo Ministério Público Federal por ter denunciado, com uma semana de antecedência, o teor da 24ª etapa da Operação Lava-Jato, que tinha como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ato ocorreu na sede do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, cujo auditório ficou minúsculo para o público que compareceu ao evento. Para o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, a emissora do Jardim Botânico simboliza, representa e organiza a ofensiva conservadora dos anos recentes no Brasil. “Nós estamos assistindo a um avanço conservador como há muito não se assistia nesse País. E o elemento pensante principal que articula a grande mídia é a Globo”, criticou Pimenta, que se colocou à disposição para assinar as matérias dos blogueiros notificados pela família Marinho.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), também presente ao ato, lamentou que os governos petistas não tenham dado prioridade à pauta da democratização da mídia. “Infelizmente, os nossos governos não enfrentaram o monopólio da comunicação”, disse a parlamentar, que sugeriu a “porta da Globo” como “ótimo local” para as manifestações do dia 13 a serem realizadas pelo campo democrático e popular.
Outro parlamentar que participou do ato foi o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que lembrou o passado golpista da empresa dos Marinho. “A Rede Globo nunca teve apego à democracia. Nasceu na ditadura e cresceu com ela”, recordou Lindbergh.
Figura histórica do movimento que resultou na perda do mandato do presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, o advogado Marcello Lavenère, então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), criticou duramente a seletividade nas investigações e as ilegalidades da Operação Lava-Jato, apoiada integralmente pela Rede Globo. “A pior legalidade é aquela que encapa uma ilegalidade. Nada mais perigoso do que práticas ilegais que se praticam como se legais fossem. Essas pessoas [do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário] são lobos traiçoeiros togados de cordeiros que estão atacando as nossas instituições”, alertou Lavenère, com a autoridade e a experiência de quem assinou o pedido de impeachment que interrompeu o mandato de Collor.
Também estiveram representadas no Sindicato dos Jornalistas entidades como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), a União Nacional dos Estudantes, a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), entre outras.
Intelectuais e jornalistas também marcaram presença: Ladislaw Dowbor, Bernardo Kucinski, Palmério Dória, Paulo Henrique Amorim, Paulo Moreira Leite e muitos outros.
Confira o manifesto em defesa da liberdade de expressão e de repúdio à Rede Globo:
http://baraodeitarare.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1210
Rogério Tomaz Jr.
Foto: Jornalistas Livres