Enquanto os juros sobem, a confiança da indústria cai e o crescimento econômico desacelera; confederação reclama revisão da política monetária do BC
Na última quarta-feira (11), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual. O patamar passou de 11,25% para 12,25% ao ano. Trata-se do ato final da sabotagem ao governo patrocinado por Campos Neto, presidente da autarquia até o final deste ano. A decisão injustificável ocorre em um cenário de desaceleração da inflação e de plena recuperação econômica, quando o esperado era uma redução na taxa, vital para a contribuição e o crescimento do país.
O impacto na indústria brasileira foi imediato, como mostram os dados mais recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Antes do anúncio do Copom, a entidade divulgou que o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu 2,5 pontos em dezembro, chegando a 50,1 — uma transição do otimismo para a neutralidade.
O efeito no setor produtivo
O fim do ciclo de corte da Selic, iniciado em setembro, gerou efeitos negativos em uma indústria que, após anos de crise sob Bolsonaro, vinha mostrando sinais pungentes de recuperação. “Nos últimos meses, a retomada da elevação dos juros vem afetando a confiança dos empresários sobre os seus negócios e, principalmente, sobre a economia”, afirmou Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI.
O ICEI, que mede tanto as condições atuais das empresas quanto as expectativas para os próximos meses, refletiu essa mudança na percepção dos empresários. O componente Índice de Condições Atuais caiu 1,8 ponto, atingindo 46,5 pontos, o que indica uma visão negativa sobre o presente. Por outro lado, o Índice de Expectativas, que ainda se mantém acima dos 50 pontos, aponta que os empreendedores começam esperando um futuro melhor, mas com uma perspectiva já mais cautelosa.
A redução da confiança não é um isolamento acústico. Ela reflete um sentimento geral de insegurança econômica, que inclui ainda a perspectiva de novos aumentos na taxa de juros. Para a CNI, a decisão do Copom é “incompreensível e totalmente injustificada”, especialmente considerando que a inflação desacelerou em novembro, e que o governo federal já tomou medidas para controlar o crescimento das despesas. De acordo com a Confederação, a intensificação da alta agrava a situação fiscal do país, prejudicando os investimentos e a geração de empregos.
A percepção da indústria
Além do aumento da Selic, a volatilidade do câmbio também é uma preocupação da Confederação. A desvalorização do real frente ao dólar, fruto de pura especulação financeira de um mercado que não aceita ver um governo trabalhando em prol da igualdade e dos mais necessários, não apenas encarece os insumos importados, como também aumenta os custos operacionais e reduz a margem de lucro.
Com os fatores de câmbio e juros, as perspectivas para o setor produtivo começam a ser mais pessimistas. A Confederação já explicitou, em nota, sua insatisfação com a política econômica do BC, temendo que a continuidade do ciclo de alta da Selic reverte os avanços da indústria em 2024.
Críticas de todos os lados
Logo após o anúncio do Banco Central, a CNI emitiu nova nota, afirmando que o remédio da autarquia contra a inflação traz efeitos indesejados sobre a economia e precisa ser revisado com urgência. Segundo a entidade, o Brasil precisa reduzir o custo do crédito que, no final da cadeia produtiva, recai principalmente sobre empresas e consumidores. Caso contrário, o país pode perder a oportunidade de assumir o protagonismo mundial na transição energética, que requer investimentos elevados.
A decisão do Copom também foi amplamente criticada por personalidades políticas e econômicas. A deputada federal (PT/PR) e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, classificou a alta como “irresponsável, insana e desastrosa” , destacando que a medida não será eficaz para conter a inflação, que já está sob controle.
Gleisi comentou ainda o fato de Campos Neto não considerar as ações fiscais do governo, como o pacote de cortes de gastos que visam melhorar o controle das contas públicas. E lembrou que “ esse 1 ponto a mais vai custar cerca de R$ 50 bilhões na dívida pública. E não faz sentido para um país que precisa crescer e continuar gerando empregos”.
É irresponsável, insana e desastrosa para o país a decisão do BC de elevar da taxa básica de juros para 12,25%. Não faz sentido nem seria eficaz para evitar alta da inflação, que não é de demanda. Nem para melhorar a situação fiscal, muito pelo contrário. Esse 1 ponto a mais vai…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) December 11, 2024
A desaprovação veio até mesmo da Globonews, canal frequentemente alinhado ao pensamento do mercado financeiro. “O ato do Copom está bastante claro na direção de que o Banco Central quer produzir uma recessão. Eles não querem um PIB muito alto e nem um desemprego muito baixo”, denunciou a jornalista Flávia Oliveira, desnudando a sabotagem impetrada pela presidência de Campos Neto. Afinal, a quem interessa uma crise em um país em plena recuperação, a não ser aos agentes que lucram e têm interesses políticos com ela?
É portanto necessário que o BC, a partir de janeiro sob a presidência de Gabriel Galípolo, reavalie suas estratégias e ajuste sua política competitiva para que a economia brasileira não sofra mais os danos dessas criminosas taxas de juros. Se a cautela contra a inflação pregada pelo BC é importante, o crescimento da indústria é necessário para o desenvolvimento de um país cada vez melhor e mais justo.
Por PT Nacional