O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestou depoimento na sede da Polícia Federal em Brasília (DF), nesta terça-feira (13), relativo a um processo no qual é acusado de obstrução de Justiça, quando foi nomeado ministro da Casa Civil da presidenta Dilma Rousseff, em março do ano passado. A audiência foi rápida e durou cerca de 45 minutos. Parlamentares que acompanharam o depoimento avaliaram que Lula expôs a inconsistências das acusações contra si, especialmente o ex-senador Delcídio do Amaral.
“Fico chateado com essa ilação feita neste processo contra mim pelo Delcídio. Se tem um brasileiro que neste momento deseja a verdade, sou eu. Só tem um brasileiro que pode ter medo de uma delação do Cerveró. Era o Delcídio. Ele sim era próximo dele. Eu nunca fui próximo do Cerveró. Acho que tem alguém instigando a falar meu nome. Fico sabendo disso. Depois de fazer a bobagem que fez, tinha que jogar nas costas de alguém”, afirmou o presidente através de sua conta no Twitter.
O massacre midiático foi mencionado por Lula de forma irônica. “Quem sabe está na hora de chamar o dono da Globo e da Record para me delatar. Quem sabe eles me delatam. Em nome da liberdade de imprensa, ninguém pode avacalhar a vida dos outros”, criticou.
E a conduta dos agentes públicos da Operação Lava-Jato também foi criticada pelo ex-presidente. “Juiz, delegado, procurador não devem ficar fazendo pirotecnia com a vida das pessoas. Provem, condenem e ponham na cadeia. Fazer isso não dá”, protestou.
O deputado Paulo Pimenta (PT-RS) qualificou de “primário” o interrogatório e disse que o ex-presidente se sentiu muito à vontade e chegou até a fazer piadas, como a revelação do apelido da sede do Instituto Lula, chamada de “Posto Ipiranga” por conta da intensa procura do seu patrono por representantes de todos os segmentos da sociedade.
“Lula foi muito bem, deu um show. As perguntas proporcionaram que ele desse uma verdadeira aula de política. Ele falou sobre o papel do Brasil no mundo, sobre a importância da Petrobras e do pré-sal, sobre o papel dele. Algumas perguntas eram risíveis. Não há nenhum fato, nenhum indício que possa ser caracterizado como obstrução à Justiça. Isso é um escárnio”, relatou o deputado gaúcho a um grupo de militantes que foi ao prédio da PF para manifestar apoio ao líder mais popular da história do Brasil.
Opinião semelhante expressou a deputada Erika Kokay (PT-DF). “É um absurdo, um escárnio com a inteligência do povo brasileiro. O Padilha voltou a trabalhar esta semana na maior desfaçatez, colocam tarja preta nas citações do Aécio Neves, o procurador Eugênio Aragão e o site do PT foram censurados pelo Alexandre de Moraes, Aécio, Temer e Renan blindados, mas o Lula está depondo por tentativa de obstrução da Justiça”, ironizou a petista.
“A perseguição jurídica e midiática contra Lula é por ele ter sido o melhor presidente da história e liderar pesquisas eleitorais para 2018! Testemunhas na Lava Jato, ex-procuradores-gerais da República, todos inocentaram Lula e disseram que ele nunca agiu para obstruir a Justiça”, acrescentou a deputada.
Para o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), Lula deixou “um libelo em defesa da sua honestidade, em defesa do seu governo e em relação à ausência de provas” por parte dos seus acusadores. “O presidente Lula demonstra que também há uma caçada promovida pela imprensa, por segmentos do Ministério Público e do Judiciário sem que haja qualquer prova contra ele”, ressaltou o parlamentar paulista.
Boa parte do depoimento do ex-presidente foi registrado em sua conta no Twitter. “Há dois anos, tenho sido vítima de um massacre. Um cidadão considerado o melhor presidente deste país, que saiu com mais de 80% de aprovação, se vê em meio de manchetes mentirosas de jornal. Me ofende profundamente dizerem que o PT é uma organização criminosa. Eu duvido que há um empresário que vai dizer que eu pedi 10 centavos para ele. Não porque sou melhor que os outros. É que eu sabia que não podia errar”, disse Lula ao longo de vários tweets.
Rogério Tomaz Jr.
Foto: Ricardo Stuckert