No último dia 5 de junho, o site Poder360 publicou pesquisa realizada pela sua divisão denominada DataPoder360 que, após analisada, conclui-se: não serve para nada. A pesquisa exclui de todos os cenários pesquisados o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Diferentemente de todos os grandes institutos de pesquisa, que sempre inserem pelo menos em um cenário o nome de Lula, o DataPoder360 vestiu a toga da Justiça Eleitoral e cassou o direito do Partido dos Trabalhadores de registrar o nome de Lula para disputar as próximas eleições. Foi efetivamente mais realista que o rei!
Leia o artigo na íntegra, que foi publicado originalmente no portal Viomundo.
Pesquisa Poder360 sem Lula não serve para nada!
*Valmir Prascidelli
No último dia 5 de junho, o site Poder360 publicou pesquisa realizada pela sua divisão denominada DataPoder360 que, após analisada, conclui-se: não serve para nada.
A pesquisa exclui de todos os cenários pesquisados o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Diferentemente de todos os grandes institutos de pesquisa, que sempre inserem pelo menos em um cenário o nome de Lula, o DataPoder360 vestiu a toga da Justiça Eleitoral e cassou o direito do Partido dos Trabalhadores de registrar o nome de Lula para disputar as próximas eleições. Foi efetivamente mais realista que o rei!
Além disso, o site Poder360 comete duas imprudências: contradiz seus pressupostos para definir suas pesquisas e manipula o texto de apresentação em favor de Bolsonaro, contrariando seus próprios números.
Na segunda-feira, um dia anterior à pesquisa, ao antecipar a divulgação de seus resultados, o site publicou um quadro explicativo sobre a pesquisa realizada pelo DataPoder 360º em que esclarecia o seguinte: “pesquisa apenas fotografa o humor do público pesquisado no momento em que as entrevistas são feitas” e que pesquisas são realizadas “para a sociedade saber o que seu conjunto pensa sobre os candidatos num determinado momento”.
Se a pesquisa visa captar o momento e busca saber a opinião do público naquele momento qual a razão de não inserir o nome de Lula nos discos apresentados aos entrevistados nesse momento?
Como não considerar Lula como sujeito ativo desse processo eleitoral?
Ora, quem define o nome que representa a agremiação nesse momento é o partido político registrado na Justiça Eleitoral e em condições para tal desafio. E nesse momento o PT afirma que seu candidato é Lula.
Então pode o instituto de pesquisa se arvorar no direito de desconsiderar a decisão da instituição partidária responsável pelo registro e manutenção (ou não) do nome de seu candidato?
Esse questionamento tem muita razão de ser, pois a candidatura de Lula (constando ou não na urna eleitoral) poderá definir o resultado do primeiro turno, em especial.
Repare o número de votos brancos, nulos e não sabe /não respondeu nos cenários sem o presidente Lula.
Desta forma, a razão de chamar a atenção para o número de “não voto” detectado pelo instituto de pesquisa não se deve à não inclusão do nome de Lula em um dos cenários?
Não seria prudente colocar o nome de Lula para poder medir se há ou não relação dos “não voto” com seus eleitores?
Esconder-se por atrás do argumento da similaridade com as eleições do Amazonas ou Tocantins é optar pela análise política (e não cientifica pesquisada) do site Poder360.
Mesmo assim, torna inevitável a pergunta: e se o nome de Lula estivesse em um dos cenários, qual teria sido o percentual dos “não voto”?
Outra pergunta: por que testar Fernando Haddad e não outro nome do PT?
O próprio Instituto ao justificar a não inscrição do nome de Lula escreveu: “Não foi apresentado o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, neste momento condenado em 2ª Instância e cumprindo pena da Lava Jato em Curitiba (PR).”
Pois bem, se se condicionou a não apresentação do nome ao “neste momento” significa que num outro momento ele poderá estar na cédula?
Se essa é a compreensão do DataPoder360, então por que não inserir o nome de Lula e usar a mesma justificativa para o presente levantamento: ou seja “neste momento”.
A justificativa ficaria assim: “O nome de Lula foi colocado apesar de neste momento estar cumprindo pena em Curitiba (PR) em decorrência de condenação da Lava Jato”.
Ainda neste diapasão, o DataPoder360 comete mais desatino quando na pergunta de intenção de voto insere somente o nome de Fernando Haddad para posteriormente indagar dos eleitores “Quem Lula deve apoiar?”.
Aí, candidamente, oferece 4 opções ao entrevistado: Ciro Gomes, Fernando Haddad, Marina Silva e Jaques Wagner.
Ora, se o próprio formulador do questionário não sabe quem Lula deve apoiar (e busca pesquisar) por qual motivo o instituto resolveu escolher o nome de Fernando Haddad para mensurar eleitoralmente?
A segunda imprudência do Poder360 é o de adotar um tom de proselitismo e ufanismo nos números apresentados ao candidato Jair Bolsonaro e certa manipulação no texto de apresentação.
Para o site, “o militar nunca esteve tão bem” e “nos 3 cenários testados, o capitão do Exército na reserva pontua de 21% a 25%” de intenções de votos.
Vale observar que nestes cenários não consta o nome de Lula.
Contudo ao olhar os arquivos do próprio DataPoder360, deparamos com números que desmentem tal afirmativa.
Em agosto Bolsonaro tinha 27 e 25%; em setembro, 26%; outubro, 23 e 24%; novembro, 22% e dezembro de 2017, 23% sempre considerando o cenário sem Lula.
Por esses números, repita-se, do próprio DataPoder360, seremos obrigados a dizer que o candidato não saiu do lugar e em alguns casos caiu.
Pode-se dizer que o site Poder360 forçou a barra em seu texto e que em agosto e setembro Bolsonaro esteve melhor.
Talvez fosse melhor o DataPoder360 mostrar o limite de Bolsonaro no 2º turno.
Ele não passa de 35% e perde em todos os cenários para aquilo que o próprio instituto denominou “não voto” que alcança de 41 a 48% das intenções de votos.
Também causa sensação de sabujice dizer que Ciro Gomes se firma como o anti-Bolsonaro.
Ciro merece todo o respeito e a torcida para ter um bom desempenho eleitoral, mas os números do próprio DataPoder360 não autorizam o Poder360 dizer que ele já se tornou o anti-Bolsonaro.
Vejamos: nos cenários com Fernando Haddad e Marina Silva há um empate técnico.
Ciro tem 12% e Haddad 8%. Ciro tem 11% e Marina 8%.
Como a margem de erro é praticamente 2% efetivamente existem empates técnicos.
Por fim vale uma observação política: é evidente que as forças do golpe engendram manobras para impedir a candidatura de Lula.
É fato também que o país vive sob o sentimento do imprevisível.
Por isso, ao auscultar o sentimento do povo brasileiro nesse momento, deve-se dar atenção para uma parcela popular que insiste em enxergar como saída a candidatura de Lula e que ninguém sabe como essa parcela se comportará na eleição de 7 de outubro.
Por isso que o DataPoder360 comete um grave erro ao excluir o nome do ex-presidente Lula de todos os cenários apresentados aos eleitores pesquisados.
E se o site Poder360 quisesse ser rigoroso com os números apurados, a manchete correta seria: “A maioria dos brasileiros não quer votar em ninguém se Lula não for candidato”.
*Valmir Prascidelli é deputado federal (PT/SP)