Que circunstâncias econômicas e sociais permitiram o êxito do Golpe Militar de 1964? Como o Estado se organizou para impedir que as vozes dissidentes fossem ouvidas? Esses são alguns questionamentos que o livro A repressão Militar-Policial no Brasil – O livro chamado João, que será lançado no próximo dia 22, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados, às 19h30, procura responder.
A obra escrita por nove militantes durante o período em que cumpriram penas no Carandiru e no presídio do Barro Branco, entre 1973 e 1975, só foi impressa no final do ano passado. Faz uma leitura das circunstâncias em que ocorreu o Golpe Militar de 1964. Trata desde seus fundamentos ideológicos, políticos, os vínculos de segmentos militares com a política externa dos Estados Unidos, alinhando o Brasil às políticas do Departamento de Estado contra União Soviética, no contexto da Guerra Fria. “A formulação teórica que deu base ao Golpe foi construída na Escola Superior de Guerra, liderada por Golbery do Couto e Silva, Humberto de Alencar Castelo Branco, Ernesto Geisel, Orlando Geisel e Olímpio Mourão Filho, dez anos antes do Golpe” conta um dos autores do livro e ex-secretário de cultura do DF, Hamilton Pereira.
A obra faz um resgate histórico do desenvolvimento do País, traçando sua trajetória até chegar ao golpe. Aponta os aspectos econômicos e de subdesenvolvimento e como as instituições jurídicas e políticas foram tratadas. “O golpe não foi improvisado. Exigiu uma construção elaborada porque a tomada do poder demandava um projeto autoritário de País que pudesse deter o avanço das classes populares e, para tanto, precisava romper com a constituição liberal de 1946”, afirma Pereira.
Há um capítulo especial sobre a construção do aparato repressivo. Ele foi unificado com a criação do Sistema Nacional de Informações, que integrou as Delegacias e Departamentos de Ordem Política e Social (Dops) que funcionavam nos Estados e foi liderado pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), criado por Golbery. Essa unificação produziu um salto de qualidade na repressão aos movimentos populares e às forças de esquerda que combatiam o regime. Permitiu a difusão das técnicas de tortura que passaram a ser utilizadas de forma sistemática em todo o País para aniquilar os opositores do regime. “No livro, traçamos uma evolução da tortura na história do Brasil, destacando os instrumentos e as técnicas de tortura utilizadas, como as técnicas francesas utilizadas na guerra da Argélia, por exemplo”, explica o ex-secretário.
São autores o advogado Aton Fon, Carlos Lichtsztejn, Celso Horta, Gilberto Belloque, José Carlos Vidal, Manoel Cyrillo Netto, Paulo Vannuchi e Reinaldo Morano Filho e Hamilton Pereira (Pedro Tierra).
O lançamento contará com a presença dos autores Hamilton Pereira, José Carlos Vidal e Aton Fon. “Embora tenha sido escrito há 40 anos, é muito atual. E é interessante perceber que os segmentos sociais que apoiaram o golpe de 1964, como grandes empresários ligados ao setor financeiro, parte da mídia, o agronegócio e que arrastaram a classe média, também estavam presentes no apoio à deposição da presidente Dilma Rousseff”, afirma Pereira.
Assessoria de Comunicação