Estamos atravessando uma das piores crises que este país já viveu na política, na economia, na Justiça e da ética. O pior é que agentes públicos que deveriam estar trabalhando pela solução dessas múltiplas crises parecem estar mais preocupados com suas disputas particulares, partidárias e além de quererem escapar de uma Justiça cada vez mais parcial, e de abocanhar fatias de um poder político e econômico, em meio a um festival de hipocrisia. De fato, pouca gente está pensando no Brasil.
No Judiciário, a ameaça constante às garantias individuais de um processo justo, a banalização das prisões preventivas e as delações com status de prova, que fizeram da Operação Lava Jato a menina dos olhos daqueles que combatem o PT, começa agora a estender suas garras sobre outras forças políticas, que se imaginavam fora do alcance das instâncias jurídicas que, infelizmente, em alguns casos, tem atuado de forma parcial.
E eis que, materializando o velho ditado que diz: “Para os inimigos os rigores da lei, para os amigos os benefícios da lei”, vemos instituições que deveriam zelar pelo cumprimento da lei, usando o mesmo marco legal para acusar este e livrar aquele, prender aqui e soltar acolá, ao sabor das manchetes que expõem diariamente a parcialidade da imprensa no rosto de um número cada vez menor de leitores.
No Executivo, temos um presidente sem legitimidade, sem carisma, sem popularidade e sem condições de conduzir este país, flagrado em gravações nada republicanas, denunciado pela PGR, prestes a ser julgado nos próximos dias, pelo plenário da Câmara Federal.
Estamos diante da necessidade de elevarmos o debate. Precisamos pensar mais nos anseios do cidadão do que nos interesses pessoais e partidários. Precisamos pensar mais no país, nas pessoas que neste momento estão passando dificuldades, pelo desemprego, pela falta de saúde, pela educação precária e, até mesmo, pela falta de comida na mesa.
Sou um político convicto de que a seriedade nos faz limpos e defendo a ética não só na política, mas em todos os aspectos da vida pessoal e em comunidade. Mas não podemos nos pautar exclusivamente por um debate moralista, em torno dos costumes. Precisamos combater, sim, a corrupção, mas precisamos também pensar o país, construir saídas democráticas para a crise, garantir as liberdades individuais, promover o emprego, a saúde, a educação e a segurança num meio ambiente saudável.
Não me interessa o Brasil das manchetes de jornais. Não me interessa o Brasil das corporações e dos lobbies. O único Brasil que me interessa é o das pessoas concretas, pessoas que têm nome e endereço, que moram nas nossas cidades, que moram lá no interior, lá nos nossos seringais, ao longo dos nossos rios. Precisamos pensar nessas pessoas, porque elas têm suas necessidades. São pessoas comuns, com seus sonhos, com as suas alegrias e as suas dores. É por elas que devemos trabalhar e com elas que quero continuar trabalhando.
Espero que o Congresso Nacional tenha a coragem de afastar Temer da Presidência da República e o bom senso para encaminhar a solução desta grave crise nos marcos da democracia e do Estado de Direito.
Como podemos aceitar um governo que, em nome de uma improvável recuperação econômica, congela programas sociais por 20 anos, subtrai direitos duramente conquistados pelos trabalhadores e trabalhadoras? Como aceitar a continuidade de uma política econômica que só faz aumentar o desemprego, reduz o nível da atividade econômica, enquanto o sistema financeiro e as grandes corporações continuam sendo grandemente beneficiados.
Já é tempo de apresentarmos uma agenda positiva para o povo brasileiro, para que voltemos à normalidade, com o setor produtivo gerando emprego, gerando renda, gerando riqueza para o Brasil. Que este seja um país em que o cidadão possa ter acesso universal à saúde, com qualidade no atendimento e com resolutividade, e à educação, com a ampliação e melhoria da qualidade do ensino em todos os níveis e com apoio incondicional à pesquisa. Que este seja, principalmente, um país que dê atenção especial à segurança dos cidadãos, pois milhares e milhares de cidades brasileiras hoje vivem uma situação de caos na área da segurança.
Lideranças de todos os partidos, dos movimentos sociais, da classe empresarial e da classe trabalhadora devem fazer um pacto em favor do Brasil, um pacto em favor das pessoas, para que possamos buscar saídas para crise e para que o país volte a crescer, gerando oportunidades de trabalho e renda para todos.
No Parlamento, devemos trabalhar tanto quanto os demais trabalhadores e cumprir com nossas atribuições, mas principalmente apontando para o futuro, mediante uma agenda propositiva para o Brasil.
Raimundo Angelim é professor, economista, ex-prefeito de Rio Branco e deputado federal (PT-AC)