Ao expor aos parlamentares da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara (Creden), sobre projetos estratégicos, soberania e Defesa Nacional, nesta quarta-feira (5), o comandante do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Boas, afirmou que as Forças Armadas estão prontas para enfrentar os desafios impostos ao país. Entre os projetos desenvolvidos, o general elencou seis programas estratégicos, 12 estruturantes e cerca de 50 projetos.
Ele admitiu, entretanto, encolhimento do orçamento e restrições da pasta, diante da emenda Constitucional 95 que congela por 20 anos o orçamento do país. “Ficamos com o cobertor curto. É difícil fazermos racionalização, mesmo assim vamos reduzir o efetivo do exército”, disse o general.
Frisou o general que o tema da defesa nunca foi considerado relevante pelo conjunto da sociedade. Isso, segundo ele, ocorre porque o Brasil nunca viveu uma situação de ameaça à sua soberania. “A defesa exige toda a participação da sociedade”. Ela só será robusta com participação de todos os segmentos”, defendeu Villas Boas.
Apontou o comandante do Exército, como um dos erros cometidos pela sociedade brasileira, o confronto ideológico causado pela Guerra Fria. Esta confrontação dividiu a sociedade. “Perdemos coesão, perdemos a ideologia de desenvolvimento e perdemos o sentido de projeto que até hoje não recuperamos”, lamentou.
“Se não recuperarmos o sentido de projeto, essa densidade, essa capacidade gravitacional, nós ficaremos sujeitos às forças centrífugas. Não creio que corramos riscos de ter o território fragmentado, mas a nossa sociedade está se fragmentando” avaliou o general.
Tropa americana – Questionado pelo terceiro vice-presidente da comissão, deputado Nelson Pelegrino (PT-BA) e pelo líder da bancada do PT, deputado Carlos Zarattini (SP) sobre as ameaças à soberania brasileira provocada pela presença de tropa americana em território brasileiro, o general tranquilizou os deputados petistas.
“Trata-se do exercício chamado Amazônia logística (AmanonLog). São exercícios num ambiente humanitário sério. São treinos e preparos de infraestrutura para ajuda humanitária. É nesse contexto que se encontram os americanos”, tranquilizou o general.
PEC dos Gastos – O deputado Nelson Pelegrino lembrou que o orçamento das Forças Armadas também sofreu baque com a emenda Constitucional 95, que congela por 20 anos o orçamento do país. “Hoje o investimento na defesa é de 1,4% do PIB e a meta é de 2%. Um país que quer minimamente defesa, essa é a meta. No entanto, a perspectiva é que em 2026 esse percentual caia para 1,09 % e em 2036 para 0,85% do PIB se essa emenda for mantida e os critérios dela for mantido”, se mostrou preocupado, Pelegrino.
Zarattini partilhou da mesma preocupação. Segundo ele, os gráficos apresentados pelo general Villas Boas mostraram um cronograma que praticamente diz: ‘não vamos ter equipamentos’. “Quando a gente imagina 2030, 2040, lembramos de John Maynard Keynes que dizia que no longo prazo estaremos todos mortos. Só que queremos estar vivos para ver nossas Forças Armadas valorizadas, tanto do ponto de vista de seus equipamentos quanto do reconhecimento de seus homens e mulheres”.
Benildes Rodrigues