O senador Roberto Requião (PMDB-RJ), defensor da democracia e da presidenta Dilma Rousseff, lembrou hoje (30), na tribuna do Senado, a célebre fala de Tancredo Neves, quando o então senador se indignou com o colega Auro de Moura Andrade, que declarou vaga a presidência da República, com João Goulart ainda no Brasil, abrindo espaço para a ditadura militar de 1964: “canalha, canalha, canalha” (…). “As palavras de Tancredo coçam-me a garganta”, disse Requião, diante de dois dos principais responsáveis pelo golpe de 2016, os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Antonio Anastasia (PSDB-MG).
Requião reforçou, durante sua fala, que a presidenta Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade. “Duvido que um só de nós esteja convencido de que a presidenta Dilma deva ser impedida por ter cometido crimes. Não são as pedaladas ou a tal irresponsabilidade fiscal que a excomungam”, afirmou e aproveitou para acusar Anastasia. “O próprio relator da peça acusatória praticou-as à larga. Só que lá em Minas não havia um providencial e desfrutável Eduardo Cunha e nem um centrão querendo sangue, salivando por sinecuras e pixulecos”, afirmou Requião.
O senador disse ainda que está prestes a “repetir a ignomínia de março de 1964”. E alertou que o Senado Federal precisa estar consciente que as consequências do impeachment — a retirada de direitos, o arrocho ao povo brasileiro em favor do grande capital e da espoliação estrangeira — terá graves efeitos sobre a paz social. “As senhoras e os senhores estão preparados para a guerra civil?”, questionou.
E sugeriu: “Entrincheirem-se então, porque o conflito será inevitável. O povo brasileiro, que provou por alguns anos o gosto da emergência social, não retornará submissamente à senzala”.
Na avaliação do senador Requião, a injustiça contra a presidente Dilma, porém, não é a parte mais grave da manobra que reedita 64, sem precisar dos tanques e baionetas. “O pior será a materialização do programa de maldades patrocinado por Michel Temer e seus aliados”, citou, destacando entre essas maldades a desvinculação do reajuste das aposentadorias e pensões do aumento do salário mínimo, destruindo o maior instrumento de distribuição de renda do País, que é a Previdência Social; a retirada de direitos e garantias, especialmente as trabalhistas; o congelamento por 20 anos das despesas correntes e dos investimentos da União — o que representa o congelamento de gastos com saúde, educação, segurança pública, saneamento, infraestrutura, habitação e outras áreas.
“Não será a primeira vez que os abutres e os corvos caem sobre o nosso País, retalhando-o, estraçalhando-o, sugando-o. Essa combinação explosiva de entreguismo com medidas contra os aposentados, os assalariados, os mais pobres, contra direitos e conquistas populares alimentam as contradições de classe, e em consequência, a luta de classes”, alertou Requião, que encerrou seu pronunciamento lendo a Carta Testamento de Getúlio Vargas, outro presidente massacrado por ter liderado um programa voltado para os brasileiros mais pobres.
PT na Câmara com agências
Foto: Agencia Senado