Margarida Alves, Dorothy Stang, Maria do Espírito Santo, Dora Priante… Mulheres de trajetórias diferentes cujos destinos se cruzaram na luta pela terra – ideal que acabou determinando um fim trágico para cada uma delas. Foram assassinadas por defenderem os trabalhadores do campo, o direito à terra, a preservação do meio ambiente e as culturas tradicionais. Nesta terça-feira (5), todas elas foram lembradas durante audiência pública para tratar da situação da Violência Contra a Mulher no Campo e na Floresta.
O debate – promovido pela Comissão Permanente Mista de Combate à Violência contra a Mulher – contou com a presença de Ângela Mendes, representante do Conselho Nacional dos Extrativistas, que é filha de Chico Mendes, ambientalista assassinado em 1988, no Acre. Foi ela quem denunciou que, atualmente, quatro lideranças na região amazônica estão marcadas para morrer, entre elas, três mulheres. “Nós, mulheres, além de toda a violência física a que estamos expostas, ainda somos vítimas de outra violência quando vamos contra o agronegócio”, disse.
Todas as participantes da audiência – cuja iniciativa foi da deputada Luizianne Lins (PT-CE) – denunciaram os retrocessos que o governo ilegítimo e golpista de Michel Temer está promovendo às conquistas das mulheres que foram legitimadas nos últimos 13 anos. “É lamentável esse retrocesso”, afirmou Ângela Mendes, ao se referir à desarticulação das estruturas de apoio e implementação às políticas de Estado em prol das mulheres. Completou afirmando que, embora o acesso às políticas públicas tenham crescido, é preciso entender as necessidades da mulher do campo sob uma ótica territorialista, em que muitas delas têm dificuldades de acesso não apenas às politicas protetivas de segurança, mas também de saúde e educação.
Luizianne Lins, que também é relatora da Comissão de Combate à Violência contra a Mulher, afirmou que, como resultado prático da audiência, o colegiado vai questionar o governo interino acerca das políticas protetivas que foram desarticuladas. “Precisamos levantar quem vai abrigar dentro do governo esses programas. É importante saber como eles vão ter continuidade dentro dessa nova conjuntura, já que estruturas fundamentais que abrigavam esses projetos se foram. Vamos levar essa preocupação de forma muito concreta, porque, no fim das contas, quem vai pagar o preço são as mulheres, em especial aquelas do campo e da floresta”, disse a petista.
A deputada Maria do Rosário (PT-RS) reforçou a mesma preocupação de buscar respostas acerca da necessidade da manutenção e ampliação das estruturas de proteção às mulheres vítimas de violência. “É preciso ter um olhar sobre essa violência, percebendo que as mulheres são diferenciadas. As mulheres do campo, da floresta, estão dizendo as especificidades de suas vidas. E foi extremamente importante ouvir das participantes da audiência essa realidade de tantas jornadas e de tantas violações que estão presentes em meio a tanta luta e tanta força que essas mulheres demonstram”, afirmou Rosário, que já foi ministra de Direitos Humanos do governo Dilma Rousseff.
Também participaram da audiência como expositoras, Socorro Prado, representante do Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia; Sônia Maria Coelho Gomes Orellana, representante da Marcha Mundial de Mulheres; Carliene dos Santos Oliveira, representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura; e Beatriz Cruz da Silva, assessora da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça. Esteve presente ainda a senadora Regina Sousa (PT-PI).
PT na Câmara
Foto: Salu Parente/PTNACÂMARA