O deputado Zé Geraldo (PT-PA) afirmou nesta semana, em pronunciamento no plenário da Câmara, que a “onda” conservadora que tomou conta recentemente do Brasil chegou ao ápice e que a sociedade precisa reagir. Segundo o parlamentar, o movimento reacionário é “capitaneado por setores midiáticos, por forças políticas oposicionistas e até mesmo por ditos aliados do governo de olho nas eleições de 2018”.
Ainda de acordo com o parlamentar, uma das faces do avanço da direita, “é o nefasto retrocesso que está sendo proposto e aprovado a ‘toque de caixa’ nas duas casas do Congresso Nacional”.
“A elite pensante, a sociedade civil organizada, os partidos políticos progressistas e democráticos e os movimentos sociais precisam se posicionar contra aqueles que, com a desculpa de atender às demandas populares, flexibilizam direitos dos trabalhadores, ameaçam direitos indígenas e de minorias, votam na marra uma Reforma Política pífia que só atende às empresas; atropelam a Constituição e estupram o regimento para aprovar uma Redução da Maioridade Penal; e incitam ainda mais a intolerância religiosa”, conclamou Zé Geraldo.
De acordo com o petista, o encarecimento dos custos de campanha nas últimas eleições tem afastado parlamentares defensores de bandeiras sociais e possibilitado a vitória de candidaturas conservadoras e defensoras de interesses conservadores e corporativistas. Segundo Zé Geraldo, na última eleição de 2014, o custo médio da eleição de um deputado ficou em R$ 1,4 milhão e da eleição de um senador em R$ 4,9 milhões.
Para exemplificar o fato, o petista citou números revelados pelo sociólogo Silvio Caccia Bava, em recente artigo no Le Monde Diplomatique Brasil, no qual fica demonstrada a captura do sistema político brasileiro pelo poder econômico. A publicação atesta que “70% da composição da Câmara dos Deputados é formada por fazendeiros e empresários”.
Influência – Ainda de acordo com o parlamentar, parte da mídia também é responsável pela pauta conservadora que está sendo imposta ao País. “Para casos como a Redução Penal, por exemplo, a população precisa acordar deste transe, deste estado de dormência cerebral, em que esta sendo submetida pela mídia”, lamentou.
Para Zé Geraldo, o populismo penal e midiático induz a população a identificar a redução da maioridade penal como “a causa redentora das nossas mazelas no campo da segurança pública”. O petista disse ainda que esse raciocínio simplista alimenta sentimento de vingança e de ódio observados com frequência no País.
“Não à toa, muitas vezes inocentes são covardemente chacinados simplesmente porque alguém gritou ladrão, bandido ou assassino”, observou.
Consequência – O parlamentar paraense alertou ainda para os perigos da escalada de ‘justiçamento’ em marcha no Brasil. Segundo ele, a ascensão de Adolf Hitler ao poder alemão foi baseada em sentimentos semelhantes, fomentados por uma forte propaganda de apelo popular.
“Hitler conquistou amplo apoio da população alemã para colocar em prática o mais cruel regime policial da História, o qual em pouco tempo já reduzia toda população judia e cigana em gigantescos campos de concentração. Portanto, a maioria da população alemã sabia das atrocidades de Hitler, mas estava embriaga pelo populismo penal pseudocientífico e midiático Nazista”, ressaltou.
Injustiça – O deputado petista criticou ainda durante o discurso a judicialização da política no País. Como exemplo ele citou “os abusos cometidos pelo juiz Sérgio Moro”. “Abusos como o encarceramento ilegal do tesoureiro afastado do PT João Vaccari Neto, preso – em caráter preventivo – em 13 de abril, baseado em elementos frágeis do ponto de vista legal, tese totalmente desmontada pelos juristas professores Pedro Dallari, da USP, e Pedro Serrano, da PUC-SP”, afirmou Zé Geraldo.
Reação – Ao finalizar o pronunciamento, o petista comemorou o início da reação à “onda conservadora” que tomou conta de parte do País.
“Felizmente o Brasil começa a se assustar com esta onda conservadora. É preciso, no entanto, que após o susto venha a reação. E as reações contrárias já começam a se manifestar em pronunciamentos de intelectuais, artistas, juristas e mesmo alguns setores da mídia. O Brasil de hoje não será levado ao obscurantismo da Idade Média”, afirmou.
Héber Carvalho