CPI: Mais de 50% da população brasileira é negra e rotulada como inferior, denuncia especialista

COMISSAO NEGROS MINORIAS 12 05 15

FOTO: Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados

O professor, jornalista e militante da igualdade racial, Edson Cardoso, em exposição nesta terça-feira (12), na audiência pública promovida pela CPI que investiga a violência contra jovens negros e pobres, se valeu da dimensão histórica das questões raciais para alertar sobre o processo de desumanização e estigmatização da população negra do país. “É da natureza do estigma, a desumanização”, disse o professor. Ele acrescentou que mais de 50% da população brasileira é negra e estigmatizada como “inferior”.

Ao discorrer na CPI, presidida pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), o professor lembrou que a inferioridade de negros, mulheres, índios,  a partir  da natureza biológica, atravessou o século 19 e formou o conceito que ainda hoje perdura no seio da sociedade. Para ele, a justificativa da inferioridade de parcela da sociedade pela sua natureza biológica caracteriza o racismo científico. O ativista racial defende que a sociedade se debruce sobre esse processo histórico para, assim, compreender de onde vem a naturalização e de onde vem a sanção para tantos assassinatos de jovens negros e pobres.

“Por que isso acontece? Por que toleramos essas montanhas de cadáveres, há décadas?  Para responder essas perguntas temos que compreender que somos envolvidos por uma ideologia, por uma representação da humanidade que exclui as pessoas. Essa é a questão”, lamentou o professor. Para Edson Cardoso, o país não vai avançar nessa questão enquanto não enfrentar o desafio de mudar o modo como a humanidade é representada. 

“Nós teremos que ser capazes de mexer no sistema educacional. Temos que ser capazes de mexer na representação do humano que tem regras soltas nos meios de comunicação. É preciso mexer na representação privilegiada de um tipo de brasileiro em detrimento de outros”, observou.

Ele alertou ainda que quando um soldado mata um jovem negro e pobre, essa morte é “autorizada”  e “consensuada” por uma sociedade que não quer discutir esse tema.  “O grande poder em que sucumbe a juventude negra, é o poder da sociedade que consensuou a possibilidade de seu desaparecimento, da sua morte. Essa é a questão mais profunda: o racismo”, assinalou Edson Cardoso. Ele conclamou a comissão a se debruçar sobre essa temática.

Em relação à impunidade dos homicídios dos quais os jovens negros e pobres são vítimas, o professor disse que, a rigor, pode-se matar uma pessoa negra e pensar que nada vai acontecer. Para ele, o número de assassinatos que tem vitimado essa parcela da população comprova essa assertiva. “Quem efetivamente é punido por esses crimes? Nada mais estimulante que sair pelas ruas e matar pessoas negras. Vai acontecer o quê? Nada”, afirmou.  

“Uma comissão que tem o desafio de enfrentar um problema dessa natureza, só pode receber o meu profundo respeito”, concluiu Edson Cardoso. A audiência ocorreu em atendimento a requerimento da deputada Benedita da Silva (PT-RJ), integrante da comissão. 

Benildes Rodrigues

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