(*) Nilto Tatto
Quem afirma que é preciso esperar o bolo crescer para dividi-lo, certamente não é um dos milhões de seres humanos que ainda passa fome no mundo, mas ao contrário, faz parte de uma seleta casta para quem nunca nada falta. Ainda que vivam numa condição confortável, estas pessoas são refratárias ao dever Constitucional do Estado em garantir direitos fundamentais, entre os quais o direito a vida. Quando o governo encampa políticas sociais, por exemplo, são os primeiros a defender seu fim para que a economia, leia-se os seus privilégios, não seja abalada.
É razoável dizer a uma pessoa com fome que ela vai ter que esperar a inflação estabilizar, o dólar cair ou a relação dívida/PIB melhorar para que ela possa comer? Será que este seleto grupo de pessoas que defende o corte nos programas sociais paga devidamente ou equitativamente seus tributos? Será que abriria mão das gordas isenções que suas empresas, ou o setor em que atuam, recebem do Estado? É evidente que não. Parece que estas pessoas não se importam se a população faz 1, 2, 3 refeições por dia ou se não come nada, desde que não dispute o orçamento público com os seus negócios particulares. Acontece que combater a fome é responsabilidade de todos e dever do Estado.
A fome não é natural
“A fome não é uma coisa natural, ela existe por uma decisão política”, afirmou o presidente Lula durante a reunião do G20, no Rio de Janeiro, quando foi lançada a Aliança Global Contra a Fome – uma iniciativa do governo brasileiro para acelerar os esforços globais de erradicação da fome e da extrema pobreza. Assinada por 82 países e mais de 50 organizações nacionais e internacionais, a Aliança tem como meta erradicar a fome no mundo até 2030. “Os símbolos máximos da nossa tragédia coletiva são a fome e a pobreza. Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível”, lembrou o presidente do Brasil.
Ainda que pareça uma meta ousada, não podemos nos esquecer de que o G20 concentra 85% do PIB, 75% do comércio de bens e serviços e pelo menos 2/3 da população mundial. Todas as reuniões e a articulação para a criação da Aliança Global Contra a fome representam uma grande vitória da diplomacia brasileira, mas sobretudo, se as metas forem alcançadas, para toda a humanidade.
(*) é deputado federal (PT-SP)