Após acompanhar atentamente os avanços e retrocessos ocorridos na saúde pública brasileira nas últimas décadas, o médico sanitarista e deputado federal Jorge Solla (PT-BA) afirma com convicção: o governo Bolsonaro promoveu uma “devastação gigantesca” no setor, exigindo do governo Lula um grande esforço de reconstrução (veja no vídeo a seguir).
Em entrevista ao Jornal PT Brasil (assista à íntegra no fim desta matéria), Solla ressaltou que, além de ter sido um dos países que mais perderam vidas para a Covid-19, com mais de 700 mil vítimas, o Brasil regrediu, desde o golpe de 2016, em praticamente todos os indicadores de saúde, como mortalidade materna e infantil, ocorrência de doenças preveníveis e taxa de cobertura vacinal.
“Além disso, o Ministério da Saúde perdeu seu papel de liderança. O Sistema Único de Saúde (SUS) é formado pelo conjunto dos entes federados (municípios, estados e União), cada um com uma parcela de responsabilidade e atribuições. O ministério sempre foi o farol desse sistema, como articulador, organizador e principal financiador. Nesses anos de trevas do governo anterior, tudo isso se perdeu”, lamentou Jorge Solla.
E isso ocorreu porque houve cortes gigantescos de investimentos e custeio, além da perda de credibilidade. O deputado citou alguns exemplos estarrecedores. No governo Bolsonaro, a renovação da frota do Samu, que antes ocorria a cada cinco anos, foi interrompida. E mais de 4 mil serviços de saúde criados por estados e municípios nesse período ficaram sem receber verbas do governo federal.
“São hospitais, policlínicas, postos de saúde, equipes de Saúde da Família, CAPs, unidades do Samu. No meu estado, a Bahia, oito grandes hospitais regionais e 27 policlínicas estavam somente com financiamento estadual”, exemplificou.
Após um ano de governo Lula, a situação já mudou muito, garantiu Solla. Nos dois exemplos acima, o governo federal já agiu. A frota do Samu está sendo reposta — em 2024, serão 1.800 novas viaturas — e todos os novos serviços foram incorporados ao financiamento do Ministério da Saúde.
Sem falar no Novo PAC, que financiará vários equipamentos, e nos diversos programas que haviam sido desmontados e já foram retomados, como o Farmácia Popular, o Mais Médicos e o Programa Nacional de Imunizações. E todos voltaram ampliados e melhorados. “Isso porque nós vamos reconstruir, mas não vamos nos conformar em apenas voltar a 2016. Estamos reconstruindo para fazer ainda mais e melhor do que nós tínhamos”, disse o parlamentar.
Desafio é maior na vacinação
Segundo Solla, porém, Bolsonaro causou uma destruição que está mais difícil de superar: o ataque às vacinas, que fez despencar a taxa de cobertura vacinal no país. “O retrocesso que o governo Bolsonaro fez na vacinação foi de 30 anos. As coberturas vacinais retroagiram à década de 1990.”
Segundo ele, municípios que tinham cobertura vacinal de 95%, estão com índices de 45% ou 50%, ameaçando o país a conviver mais uma vez com doenças erradicadas décadas atrás, como sarampo e poliomielite.
Reverter esse quadro é mais complexo porque passa por uma processo de reeducação da sociedade e combate ao discurso que a extrema direita insiste em manter. “Recuperar cultura, credibilidade, exige investimento de maior fôlego. Infelizmente, essa turma transformou o discurso antivacina numa forma de dividendo político eleitoral. Isso é algo irresponsável, criminoso”, disse.