A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) foi nomeada nessa quinta-feira (9) Embaixadora da Paz pela ‘Universal Peace Federation’, entidade parceira da Organização das Nações Unidas (ONU). Ela participou, a convite, do evento Diálogos Brasil-Europa: Independência, Prosperidade Mútua e Valores Compartilhados, em Viena (Áustria).
“Em tempos de guerra, ser reconhecida como Embaixadora da Paz é uma grande honra. Eu tenho fé que a paz e o amor podem derrotar todo esse ódio que persiste no coração de algumas pessoas”, afirmou Benedita.
História
A trajetória de Benedita da Silva é marcada por lutas e conquistas, entre outras, foi a primeira Senadora negra do Brasil. Nascida em uma família de baixa renda no Rio de Janeiro, Bené, como é carinhosamente conhecida, começou a trabalhar muito cedo para ajudar nas despesas de casa.
Na infância, vendeu limões e amendoins pelas ruas do estado. Na adolescência, precisou interromper seus estudos e foi trabalhar como tecelã em uma fábrica de tecidos, e em casa ajudava sua mãe a lavar, passar e entregar as roupas dos clientes.
Nos anos 1980, ela voltou aos estudos, formando-se como auxiliar de enfermagem e, depois, em Serviço Social.
Vida política
Com 40 anos de vida política, Benedita iniciou como liderança comunitária no Morro do Chapéu Mangueira. Quebrou todos os tabus das esferas políticas ao se tornar a primeira mulher negra a ocupar os cargos de vereadora no município do Rio de Janeiro.
Deputada federal na Assembleia Constituinte de 1988, ela integrava a chamada Bancada do Batom, como ficou conhecido o grupo formado por mulheres constituintes, ela era a única preta do grupo. Foi senadora da República, governadora do Estado do Rio de Janeiro e ministra da Secretaria Especial de Trabalho e Assistência Social no primeiro governo do presidente Lula. Atualmente ela exerce seu quarto mandato como deputada federal.
“Eu era uma mulher como outra qualquer da comunidade do Chapéu Mangueira. Ali eu dei os meus primeiros passos para a organização da mulher, organização da própria comunidade, que na época passava por momentos difíceis”, relembrou Benedita na série “Testemunha da História” do Senado Federal em 2018. Para Benedita, o Congresso Nacional foi um novo espaço, um “espaço desconhecido”. “Quando eu cheguei eu era mulher, negra favelada”.
No Congresso Nacional, a parlamentar sempre lutou pela representatividade da população negra e no combate ao racismo no Brasil e no mundo. Ela é responsável, dentre outros, pelo projeto que inscreveu Zumbi dos Palmares no panteão dos heróis nacionais e também instituiu o dia 20 de novembro como o “Dia Nacional da Consciência Negra”. Benedita foi relatora da PEC das Domésticas que garantiu uma série de direitos aos trabalhadores domésticos.
Além de ser um dos principais nomes do combate ao racismo, a luta de Benedita da Silva sempre esteve voltada para a defesa da classe trabalhadora, da democracia e da soberania do nosso país.
Direito das Minorias
Em 2018 ao Senado Federal, Benedita da Silva relembrou a luta pelos direitos das minorias durante a Constituinte, em que foi a única parlamentar negra a integrar a Assembleia Nacional Constituinte. “Foi um momento único para o Brasil. Colocar na Constituição as terras dos remanescentes dos Quilombos, as terras Indígenas”, disse Benedita.
Ela classificou a Constituinte como o melhor “momento político” de sua vida. “Nós dialogamos com a alma das pessoas (…) as pessoas acreditavam, lutavam com esperança de que nós teríamos uma Constituição da qual elas teriam os seus direitos garantidos. Direitos de orientação sexual, dos jovens, da criança, da mulher, do indígena, dos negros”.
Bancada Negra
No último dia 1 de novembro, o plenário da Câmara aprovou o projeto de resolução (PRC 116/23) que cria a Bancada Negra da Câmara, composta por parlamentares negros e negras. A Casa tem 31 parlamentares que, pelo critério racial, se declaram pretos e pretas, e 91 que se identificam com a cor parda. “Não sou mais a única, somos uma bancada agora”, afirmou Benedita da Silva sobre criação da frente ao programa “Bem Viver” do jornal Brasil de Fato.
A deputada lembra que junto com o atual senador Paulo Paim (PT-RS), os dois participaram da constituinte e “seguimos batalhando, por 35 anos, por direitos da população negra, população quilombola, para que esse debate fosse nacionalizado”. Ainda segundo ela, a construção da bancada só foi possível por conta do aumento de deputados e senadores negros no congresso, uma consequência “dos recursos disponibilizados do fundo eleitoral para as campanhas” de candidatos negros.
“Eu não estou mais só, ninguém vai apontar para o Congresso e [dizer]: ‘Olha a primeira mulher negra, única mulher negra’, agora nós temos uma bancada, uma bancada que vai fazer com que esse debate aconteça não é só para dentro do Congresso, [como] para fora do Congresso, é para sociedade”, celebra Benedita da Silva.
Lorena Vale, com agências