CPMI do Golpe: Os acampamentos funcionavam como uma fábrica de terrorista, afirma Rubens Pereira Jr

Deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA) - Foto: Roque de Sá/Agência Senado

A CPMI do Golpe ouviu o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Saulo Moura Cunha, que estava no cargo no dia 8 de janeiro e foi exonerado em março, nesta terça-feira (1º). Segundo o ex-diretor nos alertas feitos pela agência, nos acampamentos bolsonaristas, em Brasília, havia pessoas armadas, com grande “indícios de periculosidade” e de ter “financiado” os atos terroristas que depredaram as sedes dos Três Poderes, além de informações de convocações para depredação e invasão a prédios públicos.

“Os acampamentos funcionavam como uma fábrica de terrorista, uma fábrica de golpista, onde ali era gestada uma tentativa de golpe de Estado”, apontou o deputado Rubens Pereira Jr. (PT-MA). Ele perguntou a Cunha se o serviço de inteligência do governo anterior, antes dele assumir a direção, também teve acesso a essas informações dos acampamentos.

De acordo com Saulo Cunha a Abin do governo Bolsonaro fez um relatório para a equipe de transição com nomes de grupos e pessoas de caráter radical que teriam sido identificados no meio dos atos nos acampamentos. “Essa tentativa de golpe que estava sendo gestada, a Abin já tinha informado ao governo passado, que, em vez de coibir, celebrava, comentava no grupo de WhatsApp e torcia por ela”, afirmou Rubens.

Ameaça Constitucional

Rubens Pereira Jr também quis saber se para o oficial de inteligência havia ameaça constitucional. “Havia uma ameaça de ruptura constitucional a partir do momento, como os próprios fatos demonstram, as três sedes dos Poderes foram ocupadas e vandalizadas. É uma ameaça à ordem constitucional”, disse Saulo Moura da Cunha.

O ex-diretor da Abin ainda confirma que ouve uma premeditação para que houvesse uma ruptura institucional.  “À medida que há um discurso de que se planeja e se incita, partimos do princípio de que há uma premeditação”, afirmou.

Para o deputado Rubens, o depoimento de Saulo Moura da Cunha foi o depoimento da CPMI mais importante até o momento. “O senhor, que é técnico, que não tem vinculação política, reconhece aquilo que a gente dizia desde o início. Até então, diziam: “Não, são umas velhinhas que querem apenas se manifestar”. Hoje, fica claro que não era isso. Era gente que se dizia armada, planejada, insatisfeita com o resultado eleitoral”.

Financiadores

O deputado maranhense também afirmou que pessoas que se beneficiava do governo Bolsonaro estava financiando essa tentativa de golpe. “Teve gente que financiou a campanha eleitoral do Bolsonaro e estava financiando essa tentativa de golpe. E o bom é que isso não é opinião política; isso são fatos. E fatos a gente comprova na hora em que tiver a quebra de sigilo bancário ou mesmo com o relatório de inteligência financeira”.

Rubens Jr reiterou que o fundamental é apurar quem participou efetivamente dessa tentativa de golpe. “Com o depoimento do Sr. Saulo, nós temos a prova de que foi planejado, de que foi financiado e de que foi uma tentativa de golpe. Hoje foi o dia em que colocamos mais luz na CPI”.

“Pessoas perigosas”

Para o deputado Rogério Correia (PT-MG), é preciso chegar em quem financiou e colocou “pessoas perigosas” na Capital Federal. “Quem fez esse tipo de financiamento, colocou aqui pessoas perigosas, armadas, que é o que está no relatório, com bolas de ferro, barras de ferro, atacaram policiais, isso, com certeza, mudaria se eles não tivessem vindo aqui. Portanto, quem fez com que eles viessem aqui tem que pagar certamente por isso”.

O deputado mineiro defendeu a convocação do bolsonarista Antônio Cláudio Alves Ferreira, que aparece nas imagens quebrando o relógio dado de presente por Luís XIV, Rei da França, para Dom João VI. “Esse sujeito tem que vir aqui, porque ele virou um certo símbolo do terrorismo bolsonarista aqui dentro do Congresso Nacional. Então, eu vou fazer a convocação dele”, afirmou.

Deputado Rogério Correia (PT-MG) – Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Convocação do governador do DF

Rogério Correia também quer explicações do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por não ter pedido a convocação da Força Nacional no dia dos atos terroristas. “É o governo do Estado quem tem que fazer o pedido. E o ministro Flávio Dino (Justiça) chegou a oferecer, e sabe quando que o Ibaneis respondeu a isso? Dia 8 à noite, depois de tudo quebrado. Eu também estou convocando o governador Ibaneis, porque ele tem que vir aqui esclarecer por que ele não quis a Força de Segurança Nacional”, defendeu.

O parlamentar ainda questionou a ausência do ex-secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres e pediu que fosse marcado sua oitiva. “Por que o então secretário de Segurança do Distrito Federal estava nos Estados Unidos? Fica aí também um apelo para que se possa marcar a data da vinda de Anderson Torres, porque essa, sim, é uma viagem estranha. Assume a Secretaria de Segurança e deixa tudo à deriva. E todas as argumentações que nós vamos ver são de que a polícia do Distrito Federal estava sem comando, porque o comandante principal, que era o Sr. Anderson Torres, não estava aqui. Não deixou também ninguém no lugar”, protestou.

 

Lorena Vale

 

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