Foto: Eder Medeiros
Completou-se no 1º de abril meio século do Golpe Militar que manchou a história brasileira, torpedeando a democracia e os direitos dos trabalhadores. Foram longos e sombrios 21 anos, resultado da união entre forças do atraso com grupos estrangeiros, num alinhamento automático com os interesses dos Estados Unidos e sob as diretrizes da CIA. Transformou-se o Brasil num País sem voz no concerto das nações, sem projeto nacional, sem distribuição de renda e justiça social.
Sob a égide do anticomunismo, ao amparo de uma draconiana Lei de Segurança Nacional, direitos humanos foram ignorados, adotando-se o uso sistemático da tortura, desaparecimentos e assassinatos. O rompimento constitucional no Brasil abriu caminho para uma sequência de golpes na América Latina, sob inspiração de Washington.
Foram tempos tristes, em que empresas apoiaram financeiramente o golpe e, posteriormente, deram suporte à repressão, divulgando informações sobre seus funcionários para os agentes da ditadura, ampliando a exploração de classe para acelerar a acumulação capitalista.
A classe trabalhadora sentiu na carne a repressão. Muitas vítimas tombaram na resistência ao regime de exceção, como o companheiro Manuel Fiel Filho, Rubens Paiva, Vladmir Herzog e tantos outros. Rendemos nossas homenagens aos heróis da resistência e nos solidarizamos com seus familiares, muitos dos quais sem o direito básico de sepultar os restos mortais de seus entes queridos, que “desapareceram” depois de presos por forças do Estado.
Outros foram vítimas da violência da tortura, como a presidenta Dilma Rousseff, exemplo de fibra e determinação e que chegou, pela via democrática, ao cargo. Pelo voto do povo brasileiro, e não por articulações golpistas na calada da noite, com apoio das armas dos quartéis, comanda um governo que consolida um projeto transformador, com crescimento, distribuição de renda e justiça social. Dai extraímos a principal lição: é pela democracia que levaremos o Brasil a um pleno desenvolvimento econômico e cultural, com sustentabilidade e respeito aos interesses nacionais.
Vivemos o nosso mais longo período democrático, conquistado pela luta de diferentes segmentos da sociedade brasileira. Nós, os trabalhadores, tivemos papel estratégico, a partir de amplas mobilizações contra o arrocho salarial e em favor do respeito aos direitos humanos. Cito o papel de Lula, companheiro e ex-presidente da República, uma liderança atuante e de destaque na defesa dos trabalhadores, que, como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, liderou a greve de trabalhadores em plena ditadura militar, marcando definitivamente o ressurgimento do movimento sindical classista no Brasil. E que deu enorme contribuição para a abertura política e o processo de redemocratização do País.
Foi ali que percebemos os limites da ação sindical e a necessidade de organizar uma ampliação da mobilização social para, juntamente com muitos companheiros sindicalistas, criarmos em 10 de fevereiro de 1980 o Partido dos Trabalhadores.
Há 34 anos temos no Brasil um partido político nascido a partir dos trabalhadores, para a defesa dos interesses dos trabalhadores e de toda a sociedade. E com o oxigênio da democracia, que tem que ser aprofundada, com medidas como uma profunda reforma política e tributária, ampliação dos direitos dos trabalhadores e tantos outros desafios, muitos presentes na agenda do governo deposto em 1964.
Como se vê, há tarefas que estão na agenda há cinquenta anos, e vamos realizá-las. Para um País mais democrático e justo, que enterrou de vez um passado sombrio e macabro.
(*) Deputado federal (PT-SP), líder do partido na Câmara