Zeca Dirceu, em artigo, diz que é hora de dar “nome aos bois”, dos responsáveis pela tentativa de golpe à democracia

Deputado Zeca Dirceu. Foto: Gabriel Paiva

Nome aos bois é uma música do Titãs de 1987 que traz uma lista de facínoras e seus apoiadores. Concordo integralmente com a lista. Agora, chegamos nessa quadra de 2023, depois dos atentados de 8 de janeiro, com a imperiosa determinação de novamente dar nomes aos bois: dos mentores, incentivadores, apoiadores, financiadores e do principal autor desta tentativa de golpe à democracia brasileira.

Não sejamos tolos. Nada foi espontâneo, tudo planejado, senão mais 700 golpistas não escapariam na calada da madrugada de segunda-feira, 9, do acampamento montado em frente ao Forte Apache em Brasília. Outros tantos foram protegidos por dois tanques depois que se esconderam no que a imprensa chamou de “QG do Golpe”.

Nem tampouco, os ônibus que chegaram no domingo, 8, sequer foram ao acampamento e desceram em Praça dos Três Poderes com a horda de malfeitores mascarados com rádios comunicadores que partiram para depredação e pilhagem do patrimônio público no Congresso Nacional, Palácio do Planalto e STF (Supremo Tribunal Federal).

Esses também foram espertos, não se deixaram prender e contaram até com a leniência do comando de batalhão que deveria proteger o Planalto, não o contrário: brigar para defender golpistas e vândalos. Como bem disse o presidente Lula, as portas da entrada do Planalto não sofreram arranhões ou sinais de arrombamento.

Somados a esses, tem-se a omissão ou conluio da Secretaria de Segurança Pública e do comando da Polícia Militar do Distrito Federal que culminou na intervenção na segurança da capital, afastamento do governador Ibaneis Rocha (MDB) e a prisão do ex-secretário Anderson Torres.

As provas da tentativa do golpe ficaram mais robustas com a apreensão pela Polícia Federal na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, da minuta de um decreto para instaurar estado de defesa no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e reverter o resultado da eleição que consagrou pela terceira vez a vitória do presidente Lula (PT).

Tudo se encaixa no roteiro golpista que teve seu ensaio no dia 12 de dezembro na diplomação do presidente Lula, na tentativa de invasão da Polícia Federal em Brasília e na depredação de veículos. Ninguém foi preso.

A trama segue no dia 30 de dezembro, Jair Bolsonaro (PL) se evade do país, posteriormente posta nas redes sociais um vídeo em que não reconhece a vitória de Lula, deixa-o repercutir por pelo menos três horas para acalentar sua seita de fanáticos e depois deleta e agora vem com a conversa mole que não tem nada a ver com isso.

Seu ministro da Justiça é nomeado secretário de Segurança do DF, toma posse, destitui o comando da Polícia Militar, sai de férias e vai para Orlando (EUA), justamente na cidade em que Bolsonaro se instalou.

Fecha-se o cerco da suspeição com seus personagens centrais: Bolsonaro, Torres, Ibaneis e a conivência das forças de segurança instaladas em Brasília.

O que os golpistas não contavam é com a forte reação do governo Lula que teve apoio dos governadores, até da oposição, que mandaram desbloquear rodovias e refinarias. E ainda houve, outros atentados como derrubadas de torres de energia no Paraná, Rondonia e São Paulo.

Além da seita e aliados, a tentativa de golpe não teve adesão da população, a qual sua grande maioria (93%) condenou o vandalismo golpista em Brasília. Tampouco, nenhum Tejero se animou a embarcar na aventura terraplanista, negacionista e facista.

Agora, essa tentativa de golpe não foi urdida do dia para noite. Vem de tempos. O PT, no Paraná e no Brasil, enfrentou a campanha mais violenta da sua história, com assassinatos de militantes e simpatizantes, agressões de toda ordem, ameaças a trabalhadores, e a disseminação das fake news com os fantasmas comunistas, aborto, liberação das drogas, fechamento das igrejas e outras diatribes da pauta moral bolsonarista.

No front econômico, Bolsonaro usou e abusou da máquina do governo federal, despejou R$ 20 bilhões em auxílios aos pobres. Também não foram só os quatro anos do governo Bolsonaro em que as ameaças de golpe se manifestava a cada 7 de setembro, nos rojões disparados contra o STF, no negacionismo da vacina contra a covid, na escolha das universidades públicas como inimigas número um, na escola sem partido, no kit gay nas escolas e outras tantas sandices que envergonharam o país, nacional e internacionalmente, desde 1ºde janeiro de 2019 até poucos dias atrás.

O golpe vem de longe. Desde que o Brasil tolerou o intolerante. Sim, o país foi muito tolerante com esse lixo da história. Desde quando ameaçou matar o presidente Fernando Henrique Cardoso. Desde quando incentivou a guerra civil no Brasil, quando defendeu a matança de 30 mil brasileiros e quando homenageou o torturador Brilhante Ustra no golpe que impuseram à presidente Dilma Rousseff (PT).

O Brasil tolerou o intolerante quando disse que a deputada Maria do Rosário (PT-RS) não merecia ser estuprada, quando incentivou o fuzilamento da petralhada, quando agrediu verbalmente as mulheres, jornalistas e deputados.

O país foi tolerante quando o intolerável, reiteradamente, repetiu o discurso de ódio, de mentiras, de teorias conspiratórias delirantes. Isso sem falar em qualquer projeto ou ação relevante em 28 anos de mandato parlamentar.

Bolsonaro alcançou o poder graças a um segundo golpe, este perpetrado por um juiz pernicioso, para dizer o mínimo, que afastou o presidente Lula (PT) da disputa presidencial de 2018. A ação engendrada foi tão flagrante que Sérgio Moro integrou o ministério bolsonarista, foi defenestrado, saiu o atirando e depois voltou a beijar a mão da sua criatura.

Bolsonaro e seu séquito de malfeitores precisam ser investigados, condenados, punidos, presos e execrados da vida pública.

Sem anistia!

 

Zeca Dirceu é líder do PT na Câmara dos Deputados, titular da Comissão da Educação e ex-prefeito de Cruzeiro do Oeste.

Artigo publicado originalmente no Site  Brasil 247

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