O alto valor das contas de luz está pesando cada vez mais no bolso dos consumidores brasileiros, que apertam os cintos e, para o salário chegar até o fim do mês, cortam o consumo de energia e deixam de comprar alguns produtos. A maioria culpa o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o Congresso Nacional pelo custo elevado da energia no país, segundo pesquisa Datafolha contratada pela Associação Brasileira dos Comercializadores de energia (Abraceel). E o presidente é culpado, sim, porque não fez planejamento e escolheu modelos de geração de energia que priorizaram setores amigos, diz sindicalista.
Confira abaixo o que pensam os brasileiros sobre a energia e de quem é a responsabilidade pelo preço:
A explicação para a dificuldade das famílias em pagar a conta de luz está relacionada ao processo de desgoverno de Jair Bolsonaro na área de energia, afirma a vice-presidente da Confederação Nacional dos Urbanitários (CNU), Fabíola Latino, que completa: “Este governo deixou de lado o planejamento do setor”.
“O governo prioriza o despacho das hidrelétricas ao ponto de esvaziar os demais reservatórios, e quando se acionam as usinas térmicas, elas entram em um patamar muito alto, que aumenta a conta de luz do consumidor porque esse tipo de energia utilizar combustíveis fósseis, mais caros que a água”, diz a dirigente.
De acordo com Fabíola, que é também e uma das coordenadoras do Coletivo Nacional de Energia (CNE), o governo prioriza grupos detentores de usinas térmicas e a população paga a conta da escolha. “A partir do momento em que se deterioram os recursos hídricos, priorizando a energia de térmicas, e há o aumento do combustível, essa conta é repassada ao consumidor”.
Há um enviesamento por um modelo energético que atende os interesses de setores amigos de quem está no comando, no caso de priorização das térmicas. É tão grave que, para conseguir privatizar a Eletrobras, foi aprovada a contratação de energia térmica a gás natural em locais em que sequer há gás, ou seja, o povo também pagará pela estrutura dos gasodutos
– Fabiola Latino
A privatização da Eletrobras e a contratação de térmicas inflexíveis sem estudos, que entraram na lei, aprovada pelo Congresso Nacional, aumentarão ainda mais os valores da conta de luz, segundo Fabíola.
Segundo ela, isso vai acontecer porque outros itens virão a compor a conta, como a fatura em consequência da Covid, a renovação dos contratos do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e a descotização dos empreendimentos da Eletrobras.
A descotização é a mudança de regime de comercialização de energia pela empresa. Hoje, as usinas operam em regime de cotas e vendem energia a preços mais baixos. Após a descotização poderão comercializar com base nos preços de mercado.
Preço do diesel também contribui para aumentar valor da conta de luz
Fabiola diz que essa equação prejudicial ao consumidor tem a ver com a política de Preço de Paridade de Importação (PPI) da Petrobras já que o modelo energético atual de utilização de termoelétricas, à base de combustíveis como óleo diesel, faz o brasileiro pagar mais caro por uma conta que não deveria pagar.
“Veja que isso está associado também a uma nova forma de organização da sociedade, o teletrabalho, que fez com que o consumo nas residências aumentasse para várias famílias, e essa é uma tendência que veio para ficar”, acrescenta a dirigente.
Proposta dos eletricitários
Para a vice-presidente da CNU, o modelo de setor elétrico deve ser visto como uma engrenagem, em que a alteração de uma peça pode interferir em outra, se não for visto o sistema como um todo. E deve-se priorizar os pilares da segurança energética, modicidade tarifária e energia limpa para o desenvolvimento.
“É primordial que o atual modelo seja revisto com base nestes pilares. E nesse sentido, uma questão é essencial. A revogação da privatização da Eletrobras, que para fosse aprovada no Congresso Nacional passou por uma série de ilegalidades, que resulta no aumento da conta de luz ao consumidor e suja a matriz elétrica. A transição energética não pode ser realizada sem pensar em ter a União como detentora dos reservatórios, que são a bateria do setor elétrico, por isso, ter a Eletrobras pública é essencial para qualquer processo de desenvolvimento com tarifa justa”, conclui Fabíola.
Bolsonaro deixa a energia mais cara desde 2003
Entre janeiro de 2019 e outubro de 2021, a inflação acumulada foi de 18%, enquanto a tarifa de energia subiu praticamente o dobro, 35%. Somente neste ano, as contas de luz tiveram em média reajuste de 11,35% para os clientes residenciais, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Em pelo menos nove distribuidoras, o reajuste foi igual ou superior a 20%.
Nos governos do PT, energia era mais barata
Levando em consideração somente a estrutura do preço da energia (tarifa e impostos), em valores médios, a luz subiu 1,32 vez mais que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) durante os oito anos do governo Lula; 1,1 vez ao longo dos 5,7 anos na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff; 2,4 vezes sob Michel Temer (2/3 anos) e duas vezes em 2/3 anos de Bolsonaro. Os cálculos são do Instituto Clima e Sociedade (ICS) e foram publicados pela Folha.
Do site da CUT