A desfaçatez do ministro da Economia, Paulo Guedes, nas respostas sobre a existência da offshore Dreadnoughts International, de sua propriedade, na Ilhas Virgens Britânicas, durante audiência na Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público (Ctasp), nesta terça-feira (23), foi rechaçada pelos parlamentares da Bancada do Partido dos Trabalhadores em discursos no plenário da Câmara.
“Nesta manhã, o ministro Paulo Guedes, com muito custo, após protelar ao máximo, veio para não dizer nada, para dizer que nada sabe. Não sabe quanto tem de investimento, não sabe quanto ele está lucrando nos paraísos fiscais”, criticou o deputado Padre João (PT-MG).
Investigação da Pandora Papers, realizada pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), revelou que em 2014, na época da abertura, a empresa tinha um capital de 8,5 milhões de dólares. No ano seguinte (2015) aponta a investigação, fez-se outro investimento no valor de 1,5 milhão de dólares.
“O ministro, com grandes investimentos nos paraísos fiscais, tendo à frente a própria filha, a esposa, e não sabe de nada, como que eles não tivessem nenhum contato, nem se falassem, e não falassem com quem está administrando”, ironizou Padre João.
O parlamentar mineiro classificou de antiético a postura de um ministro de Estado. Para o deputado, ao esconder dados, Guedes teme ao não apresentar informações à Câmara dos Deputados. “Então, é um escândalo o que nós estamos passando”, reclamou.
Na mesma linha, o deputado Alencar Santana Braga (PT-SP) acrescentou: “O ministro Paulo Guedes não tem hombridade porque o que ele diz ao tentar justificar que tenha dinheiro fora do País, mesmo na posição dele como ministro, que não é ilegal, que ele poderia ter, mas no mínimo é imoral. Ele é o ministro da Economia, tem que dar o exemplo”, opinou.
Ministro sonegador
Alencar Santana rechaçou também o argumento apresentado pelo ministro bolsonarista de que deixou dinheiro no paraíso fiscal justamente para não pagar tributo. “Ele disse isso hoje na audiência pública aqui pela manhã. Como pode? Enquanto o trabalhador sofre para comprar comida para alimentar a sua família e pagar seus tributos, o ministro diz, com toda a tranquilidade, como se não tivesse culpa no cartório, que deixou o dinheiro no paraíso fiscal para não pagar tributos, ou para pagar menos”, criticou.
O deputado acredita que tais fatos, aliados ao caos econômico que Guedes colocou o país, ele não tem mais condições de continuar à frente do cargo de ministro da Economia. “Como pode isso, senhoras e senhores! O ministro Paulo Guedes tinha que sair fora urgentemente do Ministério da Economia por conta disso e por conta das mazelas, do caos, da crise econômica e social que vivemos justamente por sua responsabilidade”, sugeriu Alencar Santana Braga.
O deputado Leonardo Monteiro (PT-MG) classificou de desastrosa a presença de Guedes na Ctasp. “A participação dele tão desastrosa como é desastrosa a política econômica do governo federal liderada por ele, organizada por ele, a política econômica do presidente Bolsonaro”, criticou.
Segundo Monteiro, o que Guedes fala da política econômica do País, retrata a participação dele e a aplicação dos seus recursos em paraísos fiscais. “Mostra para toda a população brasileira que, quando o dólar sobe, eles ganham mais dinheiro, porque seus recursos estão aplicados lá nos paraísos fiscais, enquanto a população brasileira sofre cada vez mais com o aumento do dólar”, alertou.
“Sobe o preço do arroz, o preço do feijão, aumenta a fila das pessoas comprando osso no açougue para poder colocar gosto na comida, o gosto de carne na comida. É dramática a situação da população brasileira”, reclamou.
Já para o deputado Joseildo Ramos (PT-BA) o ministro Paulo Guedes “não está à altura do cargo que ocupa. “Se este governo fosse sério, o Paulo Guedes não estaria mais frequentando a pasta que hoje ele dirige, melancolicamente, porque até então nada entregou que fosse do interesse maior da sociedade brasileira”, alfinetou.
O parlamentar também afirmou que Guedes não respondeu nenhuma questão que foi colocada, “driblando na sua resposta, mas visivelmente constrangido, considerando que definitivamente não há condição de responder às questões óbvias, que ferem o decoro, a ética de um País, que, está pagando um preço muito grande do ponto de vista da falta de credibilidade”.
“Um ministro, que antigamente era cunhado como “Posto Ipiranga”, em que se procurando tudo se resolveria. No entanto, só faz promessas vazias. Até então, ele tem se consolidado em todo o período republicano como o pior ministro da Economia que até então assumiu”, adjetivou Joseildo Ramos.
Trambiqueiro
O deputado Paulo Guedes (PT-MG) fez questão de esclarecer que a única semelhança entre ele e o bolsonarista é o nome. O parlamentar petista disse muitas perguntas foram feitas e nenhuma resposta convincente foi apresentada pelo ministro da Economia.
“A maioria ou 100% dos deputados que foram lá saíram convencidos de que o ministro Guedes não passa de um trambiqueiro. É a palavra mais certa para resumir o papel de uma pessoa – ministro da Economia -, que deveria dar o exemplo, e buscar investimentos para o nosso País. Não, vai aplicar seus fundos, suas riquezas lá nas Ilhas Virgens Britânicas”, censurou.
Brasil do conluio
O deputado Paulo Guedes também criticou o ministro que, em alto e bom som comunicou os parlamentares da Ctasp, que não iria prestar esclarecimento às Comissões da Câmara e que “não sabe quanto ganhou” com a offshore.
“As contas do ministro no exterior renderam mais de R$ 400 mil por mês. Para ficar bem claro, a cada dia que o dólar sobe, o ministro fica mais rico; a cada dia que sobe a gasolina, o ministro fica mais rico e o povo brasileiro mais pobre. É esse o Brasil do conluio do Dallagnol, do Moro, do ministro Guedes e do Bolsonaro. Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, sentenciou.
Benildes Rodrigues