Dois sinais de esperança surgiram no horizonte nos últimos dias. Um veio das ruas, e outro pode vir das urnas no ano que vem. O primeiro me apareceu no sábado, quando participei da manifestação contra o presidente Jair Bolsonaro em Belo Horizonte. Foram dezenas de milhares de pessoas caminhando na capital mineira e pelo menos 700 mil em 304 cidades do Brasil e em 18 países que saíram às ruas para defender a vida, protestar contra o aumento da fome e do desemprego e exigir a saída do presidente da República. Além de ampla participação, a novidade veio da amplitude política, que trouxe partidos e organizações, além da esquerda, a somar nos protestos.
Já nesta segunda-feira, o jornal O TEMPO publicou a segunda rodada de pesquisas realizadas pelo DATATEMPO em todo o Estado, que mostram o presidente em queda nas intenções de voto e com rejeição em alta, sendo reprovado por 64,9% dos mineiros. O levantamento mostrou também que o presidente Lula continua na dianteira da corrida presidencial, com 40,4% na estimulada, à frente de Bolsonaro, que vem atrás, com 20,1%.
Hoje, o petista venceria, com, no mínimo, 25 pontos percentuais de vantagem, Bolsonaro ou qualquer outro candidato que chegasse com ele a um eventual segundo turno. Quanto aos nomes apresentados como terceira via, continuam sem empolgar o eleitorado. Chama a atenção a situação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que tem apenas 1,4% nas intenções de voto no seu próprio Estado.
Analisando a pesquisa por faixa etária, um sopro de esperança vem da juventude. Os que têm entre 16 e 24 anos são os que mais querem votar no ex-presidente Lula, e é entre eles que se apresenta o maior grau de rejeição ao atual governo. Essa turma pode fazer a diferença na eleição, pois é uma geração completamente digital e engajada nas redes sociais, área que foi decisiva para a vitória de Bolsonaro em 2018.
O mais animador é saber que o cenário apresentado em Minas deve se reproduzir fora dele, pois o comportamento eleitoral do mineiro tem sido o espelho da apuração das urnas no Brasil.
Nas oito eleições presidenciais pós-democratização, o resultado proporcional de votos daqui foi praticamente o mesmo do país. Isso acontece porque nosso Estado, segundo os dados do IBGE, é a síntese socioeconômica e genética do Brasil. Darcy Ribeiro traduziu essa realidade ao afirmar que “Minas foi o nó que atou o Brasil e fez dele uma coisa só”.
Pesquisas são retrato do momento, e até o próximo outubro tem muita água para passar debaixo da ponte. A prioridade agora é defender a vida do brasileiro, ameaçada por um governo genocida.
As manifestações do dia 2 de outubro mostraram a importância de se juntarem, com unidade e luta, amplas forças políticas, artistas, movimentos variados, numa grande frente anti-Bolsonaro.
Só a mobilização social pode fazer parar os retrocessos representados não só pelo presidente, mas por grande parte do Congresso, que quer fazer a reforma administrativa para acabar com o serviço público, reduzir investimentos nas áreas sociais, privatizar estatais estratégicas, como os Correios. Nos piores momentos vividos pela nação, foram as ruas que mostraram o caminho.
Reginaldo Lopes é deputado federal (PT-MG)
Artigo publicado originalmente no jornal O Tempo