No dia em que Luiz Inácio Lula da Silva lançou o livro e plataforma digital Memorial da Verdade, para denunciar o lawfare movido por setores do Judiciário contra ele e o Partido dos Trabalhadores, as garras do golpismo das oligarquias foram expostas. Desta vez, na forma de um relatório escrito por um economista a serviço do banco Santander, Victor Candido.
O texto foi enviado a clientes e operadores financeiros do banco na quarta-feira (11), mas veio à tona em reportagem publicada no dia seguinte por Andy Robinson, enviado especial na América Latina para o portal Ctxt.
Após afirmar que “ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro”, Candido propôs outro golpe. Argumentando que a perspectiva de retorno de Lula ao poder seria “um problema na eleição de 2022”, sonhou alto: “É possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo”, concluiu.
No Twitter, a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), denunciou o relatório. “Declaração de economista do Santander sobre barrar Lula mostra como o mercado está de mãos dadas com o golpe pretendido por Bolsonaro e cia. É a junção do capitalismo selvagem com o fascismo, a pior combinação possível e a sociedade que se dane. Deplorável!”, publicou em seu perfil na noite de quinta.
Declaração de economista do Santander sobre barrar Lula mostra como o mercado está de mãos dadas com o golpe pretendido por Bolsonaro e cia. É a junção do capitalismo selvagem com o fascismo, a pior combinação possível e a sociedade que se dane. Deplorável!
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 13, 2021
Rapidamente, #SantanderGolpista tornou-se um dos assuntos mais comentados do Twitter. Na manhã desta sexta-feira (13), o Santander enviou nota ao portal IG e ao ativista e jornalista Jean Wyllys, que mencionou a reportagem nas redes sociais, afirmando que o texto não corresponde, “sob qualquer hipótese, a uma visão da instituição”.
“O conteúdo trata-se, tão somente, de avaliação feita por uma consultoria independente – que não censuramos e por cujo teor não nos responsabilizamos –, repassada a um grupo restrito de investidores que necessitam embasar suas decisões em diferentes visões do cenário nacional”, prosseguiu a nota.
Mais uma vez, Gleisi Hoffmann se manifestou em nome do PT. “Santander nos procurou para dizer que posição sobre golpe para tirar Lula das eleições é de consultoria independente, não reflete sua visão e que não censuram textos. Divulgar opinião é ser co-responsável. Só medida firme em relação a consultoria demonstrará que não concordam com ataques a democracia”, respondeu no Twitter na manhã desta sexta.
Santander nos procurou p/ dizer q posição s/ golpe p/ tirar Lula das eleições é de consultoria independente, ñ reflete sua visão e q ñ censuram textos.Divulgar opinião é ser co-responsável. Só medida firme em relação a consultoria demonstrará q ñ concordam c/ ataques a democracia
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 13, 2021
Lucros às custas de demissões e fechamento de agências
No início da tarde, Gleisi voltou ao Twitter, para combater em uma segunda frente: o artigo assinado por Pedro Passos, dono da Natura, Pedro Wongtschowski, do grupo Ultra, e Horácio Lafer Piva, ex-presidente da Fiesp. O texto “Nem Lula, nem Bolsonaro”, publicado no Estado de S. Paulo, foi outra demonstração de que alguns dos grandes empresários estão dispostos a tramar novamente contra a soberania popular.
“A solução não está nem em Lula nem em Bolsonaro. O voto é livre e soberano, mas, de tão sério, precisa ser exercido com alto grau de discernimento”, ensinam os endinheirados da Avenida Faria Lima. Em tom pomposo, sentenciam: “Persistir no que já se mostrou errado não será apenas burrice, será covardia. E, se há que voltar à História, covardia é palavra vã no vocabulário do brasileiro”.
Mais uma vez, a presidenta nacional do PT precisou explicar o que já é óbvio para a maioria dos entrevistados em qualquer das pesquisas de opinião, sempre favoráveis a Luiz Inácio. “Artigo de três ricaços no Estadão hj repete o blablabá de “nem Lula nem Bolsonaro”. Igualar os dois é mentira maior q as pedaladas do golpe e as promessas de Paulo Guedes q eles apoiaram. Lula é democracia c/ crescimento e justiça social, Bolsonaro é fascismo c/ recessão e miséria”
Artigo de três ricaços no Estadão hj repete o blablabá de "nem Lula nem Bolsonaro".Igualar os dois é mentira maior q as pedaladas do golpe e as promessas de Paulo Guedes q eles apoiaram. Lula é democracia c/ crescimento e justiça social, Bolsonaro é fascismo c/ recessão e miséria
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) August 13, 2021
Em entrevista ao Jornal Brasil Atual desta sexta, o cientista político Paulo Níccoli Ramirez afirmou que o relatório de Victor Candido “não tem pé nem cabeça” e está “totalmente desvinculado da realidade”. “É uma posição conservadora que se aproxima do fascismo, uma vez que defende a ruptura com as estruturas institucionais democráticas”, destacou o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP).
Embora ressalte que o relatório não reflete a posição da maioria dos agentes do mercado financeiro, Níccoli destacou os vínculos do banco Santander com “alas conservadoras” da Espanha. A cidade de Santander, no norte do país, é um dos berços do Partido Popular, o maior e mais tradicional partido conservador do país.
No segundo trimestre de 2021, Santander (R$ 4,1 bilhões), Banco do Brasil (R$ 5,5 bilhões), Bradesco (R$ 5,9 bilhões) e Itaú Unibanco (R$ 7,5 bilhões) obtiveram um lucro líquido conjunto de R$ 23,1 bilhões. Segundo a provedora de informações financeiras Economatica, foi o maior montante para um trimestre na história, considerando valores nominais.
Em contrapartida, os balanços do segundo trimestre também revelaram que, em um ano, os quatro maiores bancos brasileiros fecharam 1.647 agências físicas. Com menos postos de trabalho, logo vieram as demissões: no período, o saldo foi de 15.493 dispensas.
No início do mês, o juiz Jeronimo Azambuja Franco Neto, da 60ª Vara do Trabalho de São Paulo, condenou o Santander ao pagamento de R$ 50 milhões por danos morais coletivos, por entender que o banco praticou conduta antissindical e promoveu demissões em massa durante a epidemia.
A instituição financeira também foi proibida de praticar qualquer “conduta antissindical”, especialmente “perseguição” a sindicatos e seus filiados. Entre as alegações da ação civil pública estão atos como demissões feitas pelo banco durante a epidemia e a suspensão da gratificação de função de dirigentes sindicais. O banco vai recorrer.
Da Agência PT de Notícias