A agenda que Jair Bolsonaro cumpriu neste primeiro semestre de 2021 nos informa que o presidente da República emprega parte substancial do seu tempo na busca de atalhos que o livrem da prisão.
A rigor, quem governa o Brasil, hoje, é o Centrão de Arthur Lira e Ricardo Barros.
São eles que tentam barrar a oposição parlamentar para “passar a boiada” e impor a agenda neoliberal ao País, com as privatizações, a alteração das normas de proteção ambiental e o esbulho das terras indígenas, para citar três exemplos recentes.
Mussolini de moto
Enquanto isso Bolsonaro realiza motociatas, para animar sua esquadra paramentada de negro para projetá-la na esfera digital.
Reproduz a coreografia de Mussolini, buscando exibir uma força que já lhe escapa, agita em comício a figura lamentável de Eduardo Pazuello, general da ativa, e, quando interpelado, agride repórteres, particularmente mulheres.
O poder corrosivo das revelações da CPI da Covid-19 produz resultados visíveis na erosão da imagem do governo.
O mais significativo – e espantoso – é ouvir de parlamentares da base de sustentação de Bolsonaro – os quais não se comoveram com mais de meio milhão de brasileiros mortos pela pandemia — confessarem sua decepção com o governo a que servem por se tornar alvo de denúncias de corrupção.
Nervosismo do genocida
Bolsonaro percebe inconformado, e aparentemente com surpresa, que os amigos vão se tornando ex-amigos.
Os aliados, ex-aliados ou inimigos. Todos sabemos que não há pior inimigo que um ex-aliado, como assistimos na última semana com os irmãos Miranda prestando depoimento na CPI.
Talvez por tudo isso o presidente venha mostrando, em suas aparições públicas, um crescente nervosismo e agressividade.
As manifestações de 29 de maio e 19 de junho introduzem um fator que andava ausente da disputa política: a presença massiva nas ruas das oposições lideradas pelas esquerdas.
Foram dois momentos fortes e o quadro de desgaste do governo estimulou a antecipação da próxima mobilização para sábado, 3 de julho.
Povo nas ruas
A mídia, hoje dividida em dois campos — de um lado empresas que recebem os generosos estímulos da Secretaria de Comunicação de Bolsonaro e, de outro, as que estão sendo estranguladas por ele — modificou a cobertura das manifestações.
De uma atitude inicial de desdém, em 29 de maio, quando noticiaram o ato só dois dias depois, para uma cobertura mais digna do que se define como jornalismo, em 19 de junho, mais ampla e com repercussão mais significativa para o conjunto do país.
Não há como ignorar o peso das duas manifestações sobre a complexidade e o ritmo da conjuntura.
É perceptível que os blocos de sustentação do governo Bolsonaro se movem, diante das manifestações e das primeiras pesquisas – presenciais – publicadas nos últimos dias.
As pesquisas dão notícia da curva declinante das avaliações sobre o desempenho do governo e apontam, nesse momento, um forte crescimento das opções eleitorais em favor do seu principal adversário, o ex-presidente Lula.
Abandono do genocida
Particularmente o segmento mais popular que ainda apoia Bolsonaro – os eleitores evangélicos – tido e havido como seu reduto cativo, dá mostras de que escapou do redil, informam as pesquisas, para apoiar Lula, que já ultrapassa o atual ocupante do Palácio do Planalto.
Esse segmento passará a pressionar seus líderes, pastores e bispos no sentido contrário ao visto até agora, desde a eleição de 2018.
No topo da pirâmide, parte do grande capital se move no sentido de abandonar o presidente depois da proposta de reforma tributária apresentada pelo ministro Paulo Guedes, que retoma a taxação de lucros e dividendos.
Os movimentos do vice-presidente, general Hamilton Mourão, deixam escapar que, entre os fardados, a aparente unanimidade do apoio ao governo esconde uma crise real.
O escândalo da Covaxin que explodiu na última semana aprofunda as contradições entre parcelas importantes das três armas, insatisfeitas com a identificação da imagem das instituições que representam com um governo declinante, mergulhado em crises sucessivas.
As mais recentes delas, revelada pela CPI, articula a condução desastrosa das políticas de saúde pública frente à pandemia da Covid-19 com escândalos de corrupção que envolvem o próprio líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (Progressistas-PR), bem como o envolvimento do diretor de Logística do Ministério da Saúde em processo suspeito de aquisição da AstraZeneca, envolvendo proposta inicial de propina de U$1,00 por dose adquirida.
Frente a este cenário, só há uma forma de barrar o disparate de um governo genocida e corrupto: a força dos setores democráticos e populares organizados nas ruas.
Nesta quarta-feira (30) será protocolado na Câmara dos Deputados o superpedido de impeachment de Bolsonaro.
Um documento que vai aglutinar todos os crimes de Bolsonaro contido em 120 pedidos de impeachment. .
No sábado (3), as Frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, junto com a Coalizão Negra, centrais sindicais, partidos políticos, igrejas, movimentos sociais e populares, voltam às ruas para defender o direito do povo brasileiro à vida!
Vamos juntos!
Fora, Bolsonaro! Impeachment Já!
Paulo Pimenta é deputado federal (PT-RS)
Artigo publicado originalmente no site VioMundo