A CPI da Covid iniciou os trabalhos desta semana com o depoimento do deputado estadual Fausto Junior (MDB-AM). Junior foi relator de uma CPI instalada na Assembleia Legislativa do Amazonas para investigar indícios de corrupção no estado na pandemia e na gestão da saúde em anos anteriores. No centro da oitiva, a crise sanitária e as responsabilidades do governador Wilson Lima e do governo Bolsonaro na tragédia humanitária que se abateu sobre o estado, especialmente na cidade de Manaus.
Aos senadores, Fausto Junior admitiu que não houve medidas de enfrentamento à pandemia, tanto por parte de Wilson Lima quanto do governo Bolsonaro. “Não houve nenhuma forma de enfrentamento [à pandemia], reconheceu o deputado.
Respondendo o senador Rogério Carvalho (PT-SE), Junior concordou que o governo federal limitou-se a transferir recursos ao estado, sem qualquer tipo de orientação além do uso da cloroquina. “Fica claro que o governo do Amazonas seguiu à risca o que o governo federal propôs: largar os brasileiros à própria sorte para contraírem o vírus e adquirir naturalmente a imunidade com pessoas doentes”, concluiu Carvalho.
Fausto Junior disse não ter informações sobre a estratégia da imunidade de rebanho, defendida pelo gabinete paralelo de Bolsonaro, e aplicada na prática na cidade de Manaus, justamente no período mais crítico da pandemia, em janeiro. Mas, ao ouvir o senador Ranfolfe Rodrigues citar declarações do vice-governador Carlos Almeida Filho confirmando o plano de transformar a capital amazonense em uma espécie de laboratório a céu aberto, classificou-as como “muito graves”.
À Rogério Carvalho, o deputado estadual também admitiu ter conhecimento de que uma equipe do Ministério da Saúde, chefiada por Mayra Pinheiro, a Capitã Cloroquina, estava em Manaus para “acompanhar situação da população”.
Cloroquina
“A doutora Mayra esteve aqui, disse que não tinha visitado estabelecimentos mas os vídeos mostraram outra versão, com o próprio governador dizendo que ela visitou várias unidades”, descreveu o senador. “Ela foi lá para apresentar o tratamento precoce”, disse Carvalho, apontando ainda para a gravidade de um experimento “em massa” com cloroquina feito na cidade.
“Este governador do Amazonas recebeu o presidente Bolsonaro que é aliado dele, seguiu a cartilha dele, e fez em Manaus uma verdadeira esculhambação do ponto de vista administrativo. A desordem favorecia aos larápios. E a CPI da Saúde não indiciou o governador”, lamentou o senador.
Junior foi cobrado sobre as razões por não ter indiciado Wilson Lima no relatório final da CPI. A Comissão identificou mais de 50 pessoas sob suspeita de crimes de corrupção que teriam ocorrido entre 2011 e 2020. Mas Lima, aliado de Bolsonaro e um dos grandes responsáveis pela catástrofe na saúde do estado, não aparece no relatório.
Em sua intervenção, o senador Humberto Costa (PT-PE) desafiou o deputado Fausto Junior a reunir assinaturas para a abertura de uma nova CPI no Amanonas, a fim de investigar omissões durante a pandemia, sobretudo a partir de dezembro, quando o estado estava na iminência de um colapso hospitalar que levou a dezenas de mortes por falta de oxigênio.
Fim do lockdown e mortes
Costa citou o fato de que o governador Wilson Lima determinou um lockdown no estado mas voltou atrás por pressão. “Ele recuou de forma covarde porque houve pressão de comerciantes, empresários”, lembrou. “Mas as principais [pressões foram] de integrantes do Congresso, como os deputados Eduardo Bolsonaro, Bia Kicis, Osmar Terra e do próprio presidente da República”, enumerou Costa.
“Isso é algo que a Assembleia Legislativa do Amazonas precisa investigar”, apontou o senador, ressaltando que as medidas restritivas eram fundamentais para impedir a tragédia em Manaus. “É um absurdo ver tudo que o estado do Amazonas passou, o colapso na saúde, e ainda não ter uma investigação a nível estadual robusta para encontrar os culpados”, destacou o senador.
Rogério Carvalho apontou novamente a responsabilidade direta do governo federal, pela atuação negacionista de Bolsonaro, causando uma explosão de casos e mortes em Manaus na virada do ano. “O consumo de oxigênio multiplicou nove vezes. Isso é uma ação que, em si, já é criminosa”, acusou.
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