Deputado Miranda (DEM-DF) revelou que Bolsonaro associou irregularidades na compra da vacina a Barros, líder do governo na Câmara; “Como vamos votar sendo comandados por suspeitos de corrupção?”, questiona Bohn Gass (PT-RS).
Após a revelação de que o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), é o nome citado por Jair Bolsonaro como envolvido na compra com indícios de corrupção da Covaxin, vacina indiana contra a Covid-19, o líder do PT, deputado Elvino Bohn Gass (PT-RS), informou à Fórum que, já neste final de semana, vai se reunir com outras lideranças para defender a paralisação de todas as votações na Casa.
Em depoimento na CPI do Genocídio nesta sexta-feira (25), o deputado Luís Miranda (DEM-DF) afirmou que, quando levou a Jair Bolsonaro, em março, os indícios de corrupção da compra da Covaxin, o presidente afirmou que seria “coisa” do líder do governo na Câmara: Ricardo Barros. Bolsonaro, no entanto, nada fez com relação às denúncias de irregularidades.
“Se o Bolsonaro sabia que tinha maracutaia, se não fez nada, se manteve o Barros, então, tudo está suspeito. Como que nós vamos votar orientados por suspeitos de corrupção? A Câmara não pode aceitar ser orientada em suas votações por suspeitos de fraude”, disse Bohn Gass.
“Eles [Barros e Bolsonaro] sabiam, participaram [das negociações suspeitas para a aquisição da Covaxin] e estão suspeitos. Chega de passar a boiada”, completou o líder do PT.
Aziz
O presidente da CPI do Genocídio, senador Omar Aziz (PSD-AM), declarou que Jair Bolsonaro “prevaricou” no escândalo de compra da vacina indiana Covaxin.
A afirmação foi motivada por uma intervenção do senador governista, Jorginho Mello (PL-SC), dizendo que o presidente, alertado sobre as suspeitas de corrupção no caso, teria pedido ao ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello para investigar.
“Respeito o senador Jorginho Mello, mas essa informação que foi transmitida a ele é mentirosa. O presidente Bolsonaro não pediu que o Pazuello investigasse nada, mesmo porque ele seria exonerado em seguida. O presidente prevaricou. Ele só resolveu pedir apuração do caso esses dias”, disse Aziz.
Indícios de corrupção
O aval para a compra da vacina foi dado por Jair Bolsonaro, no início do ano, que aprovou a compra do imunizante a um valor 1.000% maior que preço inicialmente anunciado pelo fabricante. A Covaxin foi a única vacina que teve um intermediário – a Precisa Medicamentos – na negociação.
Um telegrama da embaixada brasileira em Nova Délhi mostra que, quando lançada, a vacina produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech custava 100 rúpias ou cerca de 1,34 dólares a dose. Em fevereiro desse ano, sob pressão de Bolsonaro, a Precisa Medicamentos fechou a compra para o Ministério da Saúde pelo valor de 15 dólares a unidade. Ao mesmo tempo, o governo federal rejeitou a compra da vacina da Pfizer a 10 dólares alegando preço muito alto.
Em depoimento ao Ministério Público, o servidor do Ministério da Saúde Luís Ricardo Miranda, que nessa sexta-feira (25) prestou depoimento à CPI do Genocídio, diz ter sofrido pressão “atípica” para garantir a importação da vacina, sendo acionado por diversos superiores, inclusive aos finais de semana. A pressa no fechamento da negociação também impressionou o MP, que investiga o contrato suspeito. O período entre a negociação e a assinatura do contrato para aquisição da Covaxin levou 97 dias. O do imunizante da Pfizer demorou 330 dias, o prazo mais longo entre todas as vacinas.
Bolsonaro teria, inclusive, sido alertado pelo deputado federal e ex-aliado Luís Miranda (DEM-DF), irmão do servidor do Ministério da Saúde, sobre os indícios de corrupção na compra do imunizante, tendo apresentado documentos que reforçariam as suspeitas. O presidente, no entanto, nada fez para investigar o caso.
Por Revista Fórum