Os números da Covid-19 não param de crescer e revelam a tragédia anunciada desde o início da pandemia, em fevereiro do ano passado. Na noite de ontem (4), segundo dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), o Brasil registrou nas últimas 24h 2.966 mortes e 77.359 novos casos do novo coronavírus. No total, o País atinge as marcas de 14.856.888 infectados e 411.588 vidas perdidas para o vírus.
A pergunta que ronda a cabeça da população brasileira diante desse quadro que não apresenta melhora e a tendência – pela ausência do papel do Estado e do descaso e negacionismo do presidente da República – só tende a piorar é: o que esperar da CPI da Covid? Que resultado positivo ela pode trazer em benefício do povo, que todos os dias perde seus amores para a doença?
“A CPI é a oportunidade de a verdade vir à tona: as decisões de Bolsonaro que colocaram o povo brasileiro no corredor da morte e os interesses financeiros, os atos de corrupção que estão por trás disso”, afirmou o ex-ministro da Saúde, deputado Alexandre Padilha (PT-SP). Desde o início da pandemia o deputado denuncia e vem alertando sobre a gravidade da hecatombe (matança), da tragédia sanitária causada pelo descaso e negacionismo presidencial.
Na mesma linha, o deputado Henrique Fontana (PT-RS) observou que a gestão da pandemia no Brasil é considerada uma das piores do mundo, e o presidente Jair Bolsonaro é o grande responsável pela desestruturação do combate ao coronavírus no país.
“A CPI da Covid será muito importante para mostrar os crimes de responsabilidade cometidos pelo presidente e seu governo ao longo da pandemia, e minha expectativa é que ela possa mudar os rumos do enfrentamento à Covid, opinou Fontana, que também é médico.
Depoimentos
Padilha e Fontana têm razão. Os depoimentos dos ex-ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), e seu sucessor Nelson Teich, na CPI da Covid, revelam a face letal de Bolsonaro na condução da pandemia.
Cloroquina
Em seu depoimento, Mandetta disse que Bolsonaro ignorou a ciência e as informações de sua pasta sobre a gravidade da crise sanitária. Ele afirmou ainda que Bolsonaro optou por não fazer uma campanha de conscientização da população, preferindo estimular o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença. Ele se referiu ao medicamento cloroquina, que teve seu uso defendido abertamente por Bolsonaro.
Mandetta observou também que mesmo após a sua saída, Jair Bolsonaro continuou a negar o uso de máscara, a negar o uso de higiene das mãos, a compra de vacina e a negar a testagem. Bolsonaro ignorou as sugestões e passou a defender o isolamento vertical, flexibilizando a restrição da circulação de pessoas (isolamento social).
Nesta quarta-feira (5), o ex-ministro da Saúde Nelson Teich disse que sua demissão da pasta se deu por ele ser contrário ao uso de cloroquina sem comprovação científica. Outra razão apontada pelo ex-ministro foi a falta de autonomia e liberdade para exercer a função e atuar no enfrentamento à pandemia.
“Essa falta de autonomia ficou mais evidente em razão das divergências com o governo quanto à eficácia e extensão da cloroquina no tratamento de Covid-19. Enquanto minha convicção pessoal, baseada em estudos, era de que naquele momento não existe eficácia para liberar, existia um entendimento diferente do presidente, que era amparado por outros profissionais, até pelo Conselho Federal de Medicina. Isso foi o que motivou minha saída”, afirmou Teich.
Imunidade de rebanho
Luiz Henrique Mandetta informou que Bolsonaro defendia a chamada imunidade de rebanho que seria atingida por meio da contaminação de pelo menos 70% da população.
Teich também criticou a imunidade de rebanho adotada por Bolsonaro. Para ele, “imunidade de rebanho através de infecção é um erro. Imunidade você tem pela vacina”, defendeu.
Crimes
O deputado Henrique Fontana analisou os depoimentos na CPI, dos ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Segundo o parlamentar, esses depoimentos comprovaram a pressão direta do presidente (Jair Bolsonaro) para a “adoção da cloroquina como tratamento para Covid, medicamento sem eficácia comprovada e contraindicado por instituições científicas do mundo inteiro”.
“Ao longo de 14 meses, foram muitos os crimes cometidos pelo governo que levaram o Brasil a registrar mais de 400 mil mortes e até hoje não ter vacina suficiente para imunizar a população. A CPI deverá mostrar esses erros e irregularidades e responsabilizar os culpados”, acredita Fontana.
Benildes Rodrigues com Agências