O Partido dos Trabalhadores é seguramente o maior e mais importante acontecimento político-partidário da História do Brasil. Nasceu de baixo para cima, mobilizando trabalhadoras e trabalhadores dos campos e das cidades, militantes religiosos, educadoras, educadores, estudantes secundaristas e universitários, profissionais liberais, setores da classe média humana e socialmente comprometidos, pessoas que resistiram e sobreviveram à ditadura.
Sempre presente em mim a alegria de ter participado deste processo: viagens de ônibus, de carro, nos fins de semana, noites adentro. Encontros e reuniões no interior de Minas e do Brasil: cidades pequenas, zona rural, periferia das grandes cidades, acolhida generosa na casa de pessoas amigas e companheiras.
Desenvolvemos nos espaços públicos o modo petista de legislar e governar sempre à luz dos princípios éticos, do encontro da reflexão com a prática, do compromisso primeiro com os pobres e excluídos. Vivi intensamente esses procedimentos como Vereador e Prefeito de Belo Horizonte, Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministro do Desenvolvimento Agrário, Deputado Federal. Vivi também as experiências internas do partido, integrando os diretórios estadual e nacional. Fui secretário-geral e presidente do PT em Minas. Guardo lembranças inesquecíveis dos nossos grandes encontros nacionais.
Vivemos assim experiências notáveis nos espaços legislativos, nos governos municipais e estaduais e, sobretudo nas grandes mudanças e conquistas nacionais iniciadas em 2003, com o extraordinário governo do Presidente Lula.
Cometemos os nossos erros inerentes à condição humana. Acertamos muito mais do que erramos. Mudamos o Brasil para melhor. Abrimos caminhos de esperança. Fomos golpeados pelas forças econômicas e políticas a serviço dos grandes interesses econômicos porque priorizamos as políticas públicas que promovem a vida.
É hora de celebrar e festejar sim. Reviver as nossas realizações e nos contrapor de forma vigorosa às ações perversas do desmonte de tudo aquilo que tão bem realizamos.
Mas nesses tempos de Covid e de recolhimento é hora também de reflexão. O melhor e o mais permanente da tradição cristã, a partir dos ensinamentos de Jesus, nos ensina que não devemos perder a dimensão do exame de consciência, da autocrítica amorosa, do voltar-se para nós mesmos e nos perguntarmos sempre no plano individual e coletivo: Fiz, fizemos o melhor? Fui, chegamos aos limites das possibilidades para a realização dos nossos projetos? Colocamos em prática as nossas ideias e compromissos? Buscamos sempre uma conexão efetiva entre as palavras e as ações? O que devemos fazer agora?
Os nossos acertos e realizações são visíveis, não vamos esquecê-los, vamos divulgá-los sempre e fazer deles as bandeiras das nossas lutas.
Enfrentamos agora novos desafios. Além da perversidade de um presidente e seus asseclas, desprovidos do valor da solidariedade e da compaixão, vivemos os tempos sombrios do neoliberalismo, do pretenso estado mínimo, que na verdade é o estado máximo a serviço dos interesses dos donos do dinheiro, da desconstrução determinada das políticas públicas que promovem os direitos fundamentais, da agressão brutal à natureza e às fontes da vida.
A partir desses desafios estratégicos emergem muitos outros na conjuntura difícil em que vivemos. Fica aberta a conversa: como melhor celebrarmos os 41 anos do PT pensando na caminhada petista nos próximos 40 anos? O que dirão então do PT, as crianças de hoje? Temos muita estrada pela frente.
Patrus Ananias é deputado federal (PT-MG)