Com o voto contrário da Bancada do PT, a Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (22) o projeto de lei (PL 5.191/2020) que institui os Fundos de Investimento para o Setor Agropecuário (Fiagro). Entre outros pontos, o texto possibilita que investidores, inclusive estrangeiros, invistam no setor sem serem proprietários de terra. Permite ainda que participantes do Fiagro possam arrendar ou alienar os imóveis rurais que venham a adquirir.
Segundo deputados do PT, a proposta abre caminho para a concentração de terras no País, ao permitir inclusive o ingresso de recursos estrangeiros para a aquisição de terras. Segundo o deputado Nilto Tatto (PT-SP), esse projeto vai modificar totalmente o agronegócio no País, ao permitir a constituição de fundos para financiar o agronegócio. Na sua avaliação, uma proposta dessa dimensão, deveria ser melhor debatida pela sociedade.
“Esse projeto traz problemas como exagerados incentivos fiscais, com isenção de impostos por um longo período. Deveríamos nesse momento apoiar a agricultura familiar para aumentarmos a produção, em meio a alta da inflação, porém, esse projeto prefere apoiar o agronegócio exportador de commodities e a concentração de terras, ao valorizar títulos de terras nas mãos de grandes fundos de investimentos”, acusou.
A deputada Erika Kokay (PT-DF) disse que o projeto do Fiagro traz a lógica da concentração de terras, ao possibilitar entrada do capital financeiro internacional na aquisição de terras no País, prejudicando inclusive a expansão da agricultura familiar que produz grande parte dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros.
“Esse fundo, ao possibilitar a compra de terras por estrangeiros para especular enquanto nós defendemos que a terra exista para produzir. Portanto, esse projeto atenta contra o uso social da terra, estrangula a agricultura familiar, estimula o êxodo rural e atenta contra a repartição da terra para a produção de alimentos que matam a fome do povo brasileiro”, criticou.
Isenção de Imposto de Renda
O PT apresentou uma emenda para derrubar a isenção de Imposto de Renda advindo de lucros e renda de capital de investimentos feitos no Fiagro. Ao defender a aprovação da emenda, o deputado Nilto Tatto explicou que o Brasil já tem isenções demais para o agronegócio, inclusive de R$ 4 bilhões para a cadeia do agrotóxico. “Esse projeto amplia esse modelo expansionista, que amplia o desmatamento e causa tantas doenças por conta do veneno. Esse modelo não é bom para o Brasil”, disse.
Pela liderança da Minoria, o deputado Afonso Florence (PT-BA) disse que é um absurdo aprovar isenção de Imposto de Renda para investidores do Fiagro, enquanto o Brasil debate uma reforma tributária com menos incentivos fiscais. Ele lembrou que os partidos de Oposição na Câmara apoiam a tributação sobre lucros e dividendos.
Apesar de apoiada pelos partidos demais partidos de Oposição (PSOL, PC do B, PSB, PDT e Rede) a emenda apresentada pelo PT foi rejeitada pelos partidos da base do governo Bolsoanro.
O PT apresentou ainda outra emenda para retirar os imóveis rurais de participação no Fundo, para impedir que o capital estrangeiro possa comprar terras no País. A proposta foi apoiada pelo PSOL, PC do B, PSB e Rede, mas também foi derrotada.
Héber Carvalho, com Agência Câmara