O deputado e ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT-SP) participou, nesta terça-feira (17), do debate sobre os ensaios clínicos da vacina Coronavac no Brasil, promovido pela comissão externa da Câmara dos Deputados que acompanha o enfrentamento à Covid-19. Entre os convidados estavam o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres; o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas; e o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto, que participaram por videoconferência.
Um dos objetivos da reunião era esclarecer a suspensão dos testes clínicos da vacina Coronavac, conduzidos pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac Biotech, por parte da Anvisa. Os testes foram suspensos por dois dias – a partir da noite do dia 9 de novembro e retomado no dia 11 -, após um evento adverso grave, a morte de um voluntário participante do estudo, mas que não tinha nenhuma relação com a vacina. De acordo com informações divulgados pela imprensa, a polícia registrou o caso como suicídio.
No debate, o diretor do Butantan, Dimas Tadeu Covas, destacou que até o momento os estudos têm indicado um excelente perfil de segurança para a vacina. Ele informou que o Butantan está prestes a receber parte das vacinas prontas da China, e também a matéria prima que garantirá 46 milhões de doses em janeiro.
Segundo Dimas Covas, o relato enviado pelo instituto à Anvisa foi de um “evento adverso grave”, ocorrido mais de 25 dias após a aplicação da vacina, e não de uma reação adversa, ou seja, já se sabia que não haveria relação com a Coronavac. Ele ainda reclamou por ter tomado conhecimento da suspensão pela imprensa.
“Nós tomamos conhecimento pela imprensa de que o estudo havia sido interrompido. Nesse momento nós não tínhamos conhecimento de um ofício que a Anvisa colocou na caixa de mensagem do projeto, um ofício postado às 21h04, comunicando a suspensão. À noite, obviamente que não temos nenhum sistema de plantão pra ficar checando essa caixa de mensagem”, observou.
Ausência de comunicação
Para o deputado Alexandre Padilha ficou claro que – com o tempo em que o evento adverso grave foi notificado (29 de outubro), o dia da reunião convocada pelo instituto (10 de novembro) e a divulgação pública da Anvisa de suspensão dos estudos (9 de novembro) – houve uma ausência de comunicação direta entre a agência reguladora, o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan.
Ao constatar essa falta de troca de informações, o parlamentar perguntou aos representantes da Anvisa, do ministério e do instituto se eles consideravam essa ausência de comunicação adequada diante da importância da vacina para os brasileiros e se a Anvisa pretende mudar esse procedimento de comunicação com a continuidade dos estudos dessa vacina e das outras que já estão em estudo e das que ainda virão. “Nós vamos continuar com esse procedimento de comunicação, entre a agência reguladora, o Ministério da Saúde e um grupo de pesquisa que acompanha algo tão importante como a vacina da Covid-19, que permite este lapso?”, questionou Padilha.
Ele ainda explicou que “esse lapso” permitiu uma divulgação pública que gera questionamento sobre a eficácia e segurança de uma vacina. “Esse lapso pode contribuir para aquilo que todos nós estamos preocupados, que é surgirem Fake News, versões, divulgações que faça com que a população brasileira possam ter dúvidas sobre a eficácia de uma vacina, ou dúvidas sobre o papel da Anvisa, ou dúvida sobre a qualidade do Instituto Butantan” protestou o ex-ministro da Saúde.
Bolsonaro
Após o anúncio da suspensão, o presidente Jair Bolsonaro comemorou, em seu Twitter, a notícia. “Ele (Bolsonaro) fez chacota sobre a vacina e sapateou sobre a morte, decorrente de evento adverso grave, de um voluntário que dedicou o seu tempo à pesquisa e infelizmente acabou naquela situação. É lógico que a forma como foi feita essa comunicação pública tem impacto junto à população sobre a confiança nessa vacina”, reforçou Alexandre Padilha.
Reunião
A Anvisa e o Instituto Butantan fizeram uma reunião no dia 10 de manhã, após a suspensão dos estudos no dia 9 à noite. Após a reunião e com os fatos esclarecidos, o deputado paulista também quis saber por que a retomada dos estudos demorou mais de 24 horas. “Por que o anúncio da retomada do estudo só foi publicado e anunciado no dia 11? Quero entender, deve haver alguns motivos para isso”, questionou.
De acordo com Gustavo Mendes, na reunião do dia 10 a Anvisa teve acesso a mais informações sobre o caso específico e que elas precisavam ser documentadas. “Ficou muito claro ali, na reunião do dia 10, de manhã, que ainda precisavam ser tomadas ações pelo Instituto Butantan, principalmente em relação a acionar o Comitê Independente de Segurança, e obter do Comitê uma manifestação sobre o caso, para decidir sobre a retomada ou não do estudo. A liberação do estudo só foi endossada pelo Comitê Independente de Segurança depois que nós, na reunião do dia 10, solicitamos isso ao Instituto Butantan”.
Para o representante do Ministério da Saúde no debate, Hélio Angotti Neto, a Anvisa agiu com responsabilidade na situação, tendo em vista o interesse público.
Lorena Vale com Agência Câmara