Além do recorde de queimadas no Pantanal, da devastação do Cerrado e de outros biomas brasileiros, 2020 foi o segundo ano consecutivo de aumento no desmatamento da Amazônia. Um estudo da revista Science revela que 2% das propriedades rurais na Amazônia e no Cerrado são responsáveis por mais de 60% do desmatamento ilegal nestes biomas. A prática criminosa está associada à especulação e à grilagem de terras públicas; à exploração predatória de madeira; ao garimpo e à expansão das fronteiras do agronegócio.
Entre outros fatores, a Amazônica é fundamental para os processos que levam chuvas ao Centro-Oeste e Sudeste do país, irrigando lavouras e abastecendo reservatórios. A importância do Cerrado não fica atrás, já que sua vegetação ajuda na captação de águas das chuvas para a manutenção de aquíferos responsáveis pelo abastecimento de água de boa parte do Brasil e de outros países. O Cerrado, no entanto, já perdeu mais de metade da sua área original e possui, proporcionalmente, muito menos áreas protegidas por unidades de conservação do que a Amazônia.
O Pantanal, apesar de ser uma das maiores extensões úmidas do Planeta, registrou recorde histórico de queimadas. Isso se explica pelo período de forte estiagem combinado com a falta de fiscalização do Estado e com as ações de criminosos. Estamos falando de crimes que transcendem cada bioma – além de atingir os povos que ali habitam; ameaçam a diversidade étnica e cultural; a fauna e a flora brasileiras, com graves impactos tanto local quanto globalmente. Não podemos permitir que o povo brasileiro continue pagando esta conta, para que criminosos sigam ganhando dinheiro às nossas custas.
Por este motivo é que protocolei na Câmara dos Deputados, ao lado do também deputado Alencar Santana, um projeto que proíbe por 20 anos a utilização agropecuária ou urbana das terras com cobertura vegetal nativa ilegalmente desmatadas ou queimadas. É preciso dar tempo para que a terra se recupere, mas também a garantia de que nenhum setor da economia poderá obter lucro promovendo a destruição e a morte.
*Nilto Tatto é deputado federal (PT-SP)
Foto: Gabriel Paiva