A alimentação básica dos brasileiros está ficando cada vez mais cara e atinge, principalmente, os mais pobres. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do Brasil, acelerou para 0,64% em setembro, chegando a ser a maior taxa registrada para o mês de setembro em 17 anos.
Segundo a pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação foi impulsionada pela alta dos preços dos alimentos e dos combustíveis. O IPCA dos alimentos para consumo no domicílio subiu 2,89%, índice 4,5 vezes maior que o índice geral. Entre as maiores variações, em um único mês, estão o óleo de soja (27,54%); o arroz (17,98%); tomate (11,72%), o leite longa vida (6,01%) e as carnes (4,53%).
“A disparada da inflação no preço dos alimentos tem efeitos diretos na vida das pessoas. O óleo e o arroz integram diretamente a cesta básica do trabalhador e o aumento da cesta interfere diretamente no cálculo da inflação”, afirmou o líder da Bancada do PT na Câmara, Enio Verri (PR).
O parlamentar, que também é economista, explicou que o preço dos alimentos, principalmente do óleo de soja e do arroz, sobem porque são produtos que podem ser vendidos em grande quantidade para o exterior, e com a desvalorização do Real e o consequentemente o dólar valendo mais, os produtores preferem vender os alimentos para o exterior, optando pelo mercado externo em detrimento do mercado interno. “Esse pessoal que produz as comodities está preocupado com o mercado e não com a população brasileira”, denunciou.
O líder do PT enfatizou ainda que a inflação aumenta mais para os produtos consumidos pelos mais pobres. “Portanto, quem perde com esse processo de desvalorização do Real, como sempre, são os mais pobres que tem os principais produtos que ele precisa consumir sofrendo uma alta absolutamente fora da realidade nesse momento”.
Desmonte das Políticas Públicas
Com o seu governo ultraliberal, o presidente Jair Bolsonaro vem promovendo o desmonte da política pública de criar estoques reguladores, que mantém o preço baixo dos alimentos. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) teve 27 unidades armazenadoras fechadas, comprometendo o abastecimento dos produtos básicos da população de baixa renda e a agricultura familiar.
“Desde o golpe de 2016, o Brasil vem promovendo com o desmonte das políticas públicas, com o corte de recursos para vários programas de segurança alimentar e da agricultura familiar, atividade responsável por 70% dos alimentos que chegam na mesa dos brasileiros”, denunciou o deputado Padre João (PT-MG).
Para ele, o governo Bolsonaro não tem compromisso com a população brasileira. “O governo, não satisfeito com sua própria crueldade, quer privatizar as Centrais de Abastecimento, a Conab e a Embrapa. Bolsonaro não tem compromisso com o povo. Fora Bolsonaro e sua política ultraliberal assassina”, protestou.
Padre João destaca ainda que as perspectivas para o futuro não são boas, com o crescimento do desemprego e o aumento do preço dos alimentos, cada vez mais brasileiros deixarão de ter acesso à alimentação básica.
Inanição do Estado
Sílvio Porto, que foi presidente da Conab, aponta a falta de ações do governo como uma das causas para a alta no preço dos alimentos. “Nós tivemos, efetivamente, uma inação do Estado, uma falta de ação do governo, em especial, em manter minimamente um estoque regulador que seja de 1 milhão de toneladas – em torno de 10% que fosse do nosso consumo anual – que garantiria efetivamente ou que não permitiria chegar a esse feito”. Ele também afirmou que os documentos da Conab do início da última safra, em setembro de 2019, já apresentavam um cenário que era preocupante, tanto em nível internacional, como no âmbito do Brasil.
Lorena Vale