100 mil mortes. E daí, Bolsonaro?

O Brasil chora a morte de 100 mil pessoas pela covid-19 e se defronta com uma questão grave e urgente. Alguém acha que o comportamento de Bolsonaro durante a pandemia do coronavírus não tem a ver com boa parte destas perdas de vidas humanas que enlutam o país? Quando cem brasileiros morreram em um mês, ele desdenhou a gravidade da situação que se criava ao classificar a preocupação de amplos setores da sociedade como “histeria”. Quando o número subiu para mil mortos, fez a infeliz frase da “gripezinha”. Quando esse número duplicou, Bolsonaro dirigiu-se aos brasileiros para dizer que a pandemia estava “indo embora”. Logo a seguir, diante de três mil mortes, declarou: “eu não sou coveiro”. Ante o número de 6 mil óbitos, desdenhou novamente: “E daí?”. Mais adiante, quando registrávamos de 10 mil mortes, convidou seus apoiadores para um churrasco. E assim foi, a cada novo recorde negativo.

Mais grave que as declarações irresponsáveis, foi sua postura diante da pandemia. Em vez de reforçar, desestruturou o Ministério da Saúde, que está há 87 dias sem ministro, incentivou aglomerações, saiu às ruas sem máscara por diversas vezes, boicotou dia após dia o necessário isolamento social, deixou de aplicar metade dos recursos alocados para o enfrentamento da covid-19 e, não bastasse tudo isso, como mais uma manobra diversionista, faz propaganda falsa de um remédio sem eficácia para combater o coronavírus, iludindo parte importante da população. Infelizmente, no Brasil temos cloroquina para jogar no lixo e nos faltam testes para controlar de forma eficaz a expansão da pandemia.

Já estamos entre os cinco países com maior número de mortes para cada milhão de habitantes e caminhamos a passos largos para chegarmos a triste liderança neste ranking.

Para compreender a responsabilidade de Bolsonaro em boa parte das mortes e do volume de infecções, basta fazer o raciocínio inverso: quantas vidas teriam sido poupadas se tivéssemos um governo e um presidente que atentassem para a gravidade da situação e liderassem um esforço de planejamento e coordenação nacional no combate à covid ao invés de polarizar o país fazendo luta política em cima da pandemia.

Bolsonaro cometeu diversos crimes de responsabilidade diante da pandemia, lavou as mãos e agiu com enorme irresponsabilidade levando a milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas.

Henrique Fontana é deputado Federal (PT-RS)

 

Artigo publicado originalmente no site Brasil 247

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